segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

UM SENTIMENTO

o capitalismo perdeu a graça. não é uma questão de lógica, de cálculos, de ser vantajoso ou superior a outros sistemas utópicos. é muito tempo vivendo nisto! é já não olhar bem a cara do outro esperando o lucro! não tenho outra coisa a sugerir, meus amigos! não tenho uma solução... é um sentimento! que fazer quando algo se trata de um sentimento? contra-argumentá-lo com que lágrimas verdadeiras ou risos sarcásticos?  me convidam para um réveillon a R$ 150,00 por pessoa. há vírgulas entre números. cifras em que se pensar antes de um prazer. parece que já levam em conta que estamos sem saída, sem amigos, que a cidade é isto mesmo: um funil que vai dar em pelo menos isto! pelo menos posso! pelo menos tenho! pelo menos... qualquer coisa exclamada com orgulho! preveem, estes comerciantes, escorando o queixo no punho sustentado pelo cotovelo escorado no balcão, as portas arriadas em prata pra dentro e pra fora, não mares! não cantigas! não moças bonitas de chinelo e sainhas recém saídas de portões que deixarão suas gravuras em nossas memórias! não pensam mesmo - "Que doido!" - penso com voz de menino que grita - outras hipóteses de levarem a vida, mas preveem que já não temos amigos ou deles e de suas propostas, se somos ajuizados contemporâneos, devemos é estar cansados. R$ 150,00, e sou ejaculado em perguntar: que será melhor: estar entre amigos ou garçons? não penso se é caro ou barato! penso num homem pensando se isto dava lucro, luzes do comércio apagadas,  consumindo seu tempo com este pequeno banco de dados de calcular rentabilidades! colchões afundando no peso disto! ele sequencia, ele gera coesão entre essas duas frases: "R$ 150,00", "meu amor!". e "seu amor" está lá dentro, na cozinha do estabelecimento, lavando os copos de um hoje (fomos até tarde! - voz de um garçom prum taxista inédito) pouco lucrativo! "R$ 150,00 por pessoa", ele pensa se isto dá lucro. "lucro pra todos!" dirá num anúncio brilhante! como gostam de dizer os promotores: "ninguém leva prejuízo! todos ganham!" não há mistério, primeiramente! mas não queremos um engano justamente por que é capitalismo? o chato é ter de, com este convite, não pensar nada novo, apenas uma velha minha poesia parafraseada por mim mesmo: chegamos a um tempo tão  miserável, que tudo que podíamos fazer pelo outro era pagar. e tudo que podíamos fazer por nós mesmos era economia. é um sentimento, meu amigo! não me venha com fatos, não há fatos contra sentimentos! são eles que buscamos, são eles que protegemos! são eles um fim! não foi sua arte ou a minha que perdeu o valor por não ter valor monetário, amigo! foi o capitalismo que não achou outro valor além desse!

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