Começo mais uma vez a escrever um poema...
Se algo mais, não sei!
Mas sempre experimenta uma debilidade:
A dizer que começo... Nada inicio!
Retomo o cansado uso das palavras
e o lugar-comum que é a ideia do poema debruçar-se sobre o poema.
- Vazio confesso?
Começo?!
Mais factível é que continuo a regar estas flores,
que são as palavras,
que só dão nos vasos,
que são as cabeças...
Flores que ensaiam plástico e,
à realidade, insinuam mais de deserto que florestas.
Se olhas bem,
há também no poema a expectativa dada por certa
e sequer questionada
de que terminarei o poema!
Erro, então, de que há um fim;
outro, de que sou sujeito e autor
disto que me atravanca estar dormindo.
Um proveito:
O poema é sempre uma fuga das palavras
do campo de concentração que são as teses
e as notícias intencionadas,
que são sempre más notícias.
Enfim, aqui a palavra descansa do objetivo,
estica-se toda de férias na conotação.
Não pesa de trazer soluções,
pois sequer esculturou um problema
do barro mole do mundo e da vida.
Mas, autor?! Eu?!
Nem eu, nem esses seus olhos correntes,
quais, se sabem nadar, não se deixam arrastar livremente
e sequer experimentam, deste fluxo, a profundidade.
Fôlego é preciso para senti-la e sair vivo.
Fato é que o poema brota de mim dúbio,
como se a partir de uma semente investida:
As curvas que serão o caule e suas ramificações,
estão a mercê de uma luz que se esgueire pelas frestas dos meus sentidos...
Os caminhos que descreve a planta aqui crescida,
imprimem implicitamente,
ante aos que padecem de consciência,
mais do que as que realizou,
as infindas curvas e bifurcações que não foram...
Lançadas ao impossível!
Infindável (i)matéria-prima de especulações,
de consciências insatisfeitas em duelo com o real.
A poesia de mim como a planta de um vaso...
Cerceada por corredores,
tolhida pela sombra dos aposentos,
a dar pistas de um tempo inerte...
mas sem esverdecer e sem fazer dos limites
sofrimento.
Insaciável da luz dos olhos
e da água dos sentidos,
se desdobra deste quarto
para vazar às janelas e ganhar o mundo...
Pálida planta inédita,
regida pela intenção corriqueira de tudo que vive:
dominar o que alcança.
E isto nunca acaba,
pois para o que vê, os braços são curtos,
para o que imagina, a visão é deficiente.
De mim, sim! O processo planta...
Para ti, que papel?
Plano, chato, reto, seco, dobrável, descartável, guardanapo...
- Olhos e tratos!
Outros mil me perfaçam...
A poesia há de ter com os alheios
também o que plantas têm com as estações do ano:
deita-lhes flores, frutos e seca, se acastanhando...
Quiçá crepite pisada na pressa do passeio,
fim costumeiro das nobrezas.
E assim, nem exista mais em seu corpo pleno
"começado e terminado por este sujeito-autor"...
Ainda assim - morta, quebrada - goza mais do que todas as hipóteses, quais ela não deu luz:
Não pode mais ser suposta, concorre a ser lembrada,
é indestrutível como a matéria.
Não desaparece, apenas se transforma:
Pois não será de outras vindas adubo e luz?
razão também tem quem luta pra perdê-la! Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos.
terça-feira, 24 de setembro de 2019
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Do amor no jogo
Se a gente ainda vai ser prazer no outro,
também seremos a dor, depois, um pouco.
pois tudo se vai, mais cedo ou mais tarde,
da herança do amor à lembrança que arde.
Onde sorri também chorei demais!
Com quem sofri também diverti.
Também penei em que fui bom rapaz.
De certo que se entre ruínas,
a guerra finda funda a paz,
desertos feitos do que se desfaz
é a dura sina que me fez capaz
de compor castelos de novo...
despir razões, redescobrir o fogo,
reinventar a roda pra girar
a sorte do amor no jogo.
também seremos a dor, depois, um pouco.
pois tudo se vai, mais cedo ou mais tarde,
da herança do amor à lembrança que arde.
Onde sorri também chorei demais!
Com quem sofri também diverti.
Também penei em que fui bom rapaz.
De certo que se entre ruínas,
a guerra finda funda a paz,
desertos feitos do que se desfaz
é a dura sina que me fez capaz
de compor castelos de novo...
despir razões, redescobrir o fogo,
reinventar a roda pra girar
a sorte do amor no jogo.
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