o ladrão refinado, em vez da arma óbvia - o revólver ou o canivete, dispõe da palavra, da caneta ou do aperto de mão. os mais evoluídos e nocivos à sociedade sequer podem ser reconhecidos oficialmente como criminosos, pois são os que policiam, julgam e fazem a legislação. a covardia tornada lícita atua como uma doença silenciosa na civilização, é mais prejudicial do que os crimes alardeados; além disto, é causa destes. a covardia legal nos rouba até mesmo a possibilidade de tomarmos alguma precaução.
razão também tem quem luta pra perdê-la! Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
sexta-feira, 25 de dezembro de 2020
Se você sequer pensa no pior, se lhe falta coragem ou estômago para isto... Se acha que basta pensar o melhor, está deixando de pensar e de agir para evitá-lo. Você está fechando os olhos para o terrível e assim aumentando a chance de tropeçar nele ou ser atingido por não poder se desviar. Você não está sendo bravo ou corajoso, apenas estúpido.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
CUIDADO!
COMO CORTINAS
sorria!
não faça nenhum agradecimento aos céus!
não torne isto justo em transcendência.
se um sofrer alheio nos impede um bom viver?
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
Amanhã a hora não existe. Estaremos todos livres! Inclusive de estar, como apertados por segundos ameaçadores d'agora. Átomos de invisível tempo, em que contraímos e espalhamos a morte. Todos contaminados! Este tempo precisa ser etiquetado como o tempo em que a vida mesmo é uma doença fatal. Quem já condena existir, que melhora reivindica se não dá cabo da própria vida? Amanhã, terra sobre nós! Covas coletivas para quem louvava méritos individuais. Ajoelhamos ante ídolos. Covas banais pros iguais em tudo perdido. Na morte... Só na morte seremos tais. ... Pois a vida... A vida não é o oposto?
sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
sábado, 28 de novembro de 2020
sono perdido
sonolento
A vida é um susto que a Eternidade sonha na forma de presente, que logo volta à tranquilidade de dormir um infinito novamente.
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
os dias fabricados
Repetir o desenho feito sobre os dias em branco é não ter os dias em branco, mas com o rabisco leve de ontem que me guiará os passos de hoje. Como se hoje fosse um papel vegetal posto sobre ontem, em qual traçado eu não devo observar rigorosamente apenas a copia do desenho, mas também o ritmo e o momento de execução de cada traço, devendo sempre começar a cópia a partir do mesmo ponto e também em mesmo ponto concluí-la. Meu dia compete com o outro como se atletas de uma mesma modalidade. Correm numa mesma pista, lado a lado. Os dias passados são um molde em que devem caber os dias seguintes, assim meço meu sucesso, nisto habita meu descanso. Os dias vêm numa esteira industrial em que me empreguei, se algo dá errado no maquinário de que faço parte, com que atuo organicamente, o dia passará intranquilo, a sensação é de desperdício. Participo de um jogo de encaixar movimentos em minutos, preencho as horas e minutos iguais com ações iguais, sou justo e quanto mais justo mais pleno me sinto. Apraz-me ter um modelo! Se há algo que me aborrece em mim mesmo e nesta maneira de seguir?! De toda forma, esta é ainda a minha maneira imperante de seguir, a mais confortável ao que sou. Aliás, a que me faz “ser” ante tanta instabilidade da vida, ante a hipótese de tantas tempestades que temo. “Ser” no sentido “ter constância”! Meus dias são como réguas, termômetros, balanças; enfim, medidores que me informam sempre se algo está fora de ordem (ameaça)... Poderiam talvez ser adesivados com selos do Inmetro. Sim! Eles parecem regidos pela ABNT! Pois sim! Tenho esta sensação de ordem que me conforta, por exemplo, ao fechar o portão de volta à casa, soltar os cães das coleiras, tomar o café... e erguer a cabeça para o relógio da parede da sala antes ou pontualmente às 6h da manhã. A minha angústia é descarrilar, sair do eixo... Meus afazeres são como estações da locomotiva que sou, vou largando como em estações os cães saciados no quintal, meus dentes escovados em minha boca, as crianças na escola, eu no serviço, eu na mesa de almoço, na cama com meu sono dos justos... Um pedaço de imprevisível nisto bole com minhas vísceras, me desarranja. Guardo com apreço a sensação serena de que amanhã repetirá hoje, e sinto que de alguma maneira isto tem dado certo e sido responsável pelo semblante salutar dos meus. A verdade não importa! O que importa é a sensação, a de que o tempo não passa se miramos o relógio, de que eu não envelheço se me olho apenas no espelho dos dias subsequentes, da mesma maneira que as pessoas não envelhecem se as olhamos todos os dias, vivo com sensações e não com verdades. As pessoas só envelhecem na vida quando olhamos fotos antigas delas, mas no meu itinerário não deixei tempo pra nostalgia. O automatismo foi feito para não sentirmos a tragédia humana. Mesmo os aromas das ruas, dos meus caminhos, dos meus destinos costumam se repetir, como fermentando na forma do meu rito os dias producentes. Também voltam a mim, engrenagem deste engenho de viver diariamente, os burburinhos residenciais do meu bairro, os carros mesmos que saem das garagens após o rangido dos portões, ou se os portões lubrificados recentemente já não rosnam a austeridade necessária dos compromissos ou se carros saem outros, tudo apenas informa uma tênue manutenção utilitária, feita justamente para que os horários não sejam perdidos, para que o atraso não reine em lugar da disciplina. Tudo isto constrói a massa que me alimenta a alma, tal é o pão meu de cada dia, pão para o que sou além de matéria. Mais tarde encontrarei com meu fiel cansaço. Ele é como um marido cordato, deita comigo às dez da noite. Assim terei encontrado meu apetite as 13h. Terei meu entretenimento naquele horário de folga, por volta de quando o sol se põe e um arrebol pela janela pinta o canto de meu olho distraído numa outra tela. Aah, este turno delicioso cotidiano em que me estendo com as roupas mais confortáveis para ver bem de fora, bem distante, seguro, as vidas encenadas em que há drama! Ah, mesmo aquela impacienciazinha assídua, com o relógio que parece tantalizar meu cansaço nos minutos finais de serviço, tem de parte minha alguma simpatia. Simpatia de quem conhece e sabe lidar com ela. Simpatia de encontrá-la todos os dias como uma conhecida chata, que o melhor que nos dá é ir embora, sei que ela significa o alívio de agorinha, então já a recebo sem deixar que ela me torça minimamente as expressões faciais, tenho-a comedidamente. Ter uma rotina é segurança dos dias que vêm e quase não vão. Não que sejam de todo magníficos, pois se são ordinários: 1,2,3,4... mas me entregam a sensação de segurança que me é indispensável ao sono e ao viver, não obstante adivinhe o intelecto (este inimigo especulador subversivo) que uma farsa esteja nisto alicerçada: durmo em paz com a tranquilidade que hoje sempre voltará amanhã, e esta sequência de dias permitida pelo acaso, estes meus gestos, apetites, disposições com horas marcadas, esses rituais fazem do acaso – este indiferente - um Deus paternal que aprova este filho digno, que me acolhe em seus braços imperecíveis.
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
O HOMEM QUE COMIA FOTOGRAFIAS
era tão participativo que já não me bastava compreender as coisas. isto de entender-lhes então!, mais parecia desperdiçá-las e, ao mesmo tempo, um gesto ingrato para com elas. por isso que dei a comer fotografias. observava-as, sim, algum tempo, e depois, como elas nada mais me diziam aos olhos, eu apertava os dentes um contra o outro, rangendo a ânsia, e era observá-las algum tempo e “nhac!”.
a primeira, se não me falha o paladar, foi de minha querida vovozinha. foi um dia que se procura alguma coisa e encontra outra que faz a primeira virar alguma. dentro da velha caixa, lá estava a minha vovozinha em preto e branco. que pobreza era só tê-la à vista. nhac! o primeiro pedaço foi um tanto... “papel!”, mas depois... não! se fechasse bem os olhos, apertando as pálpebras... sentia diversos sabores, e lembrando as imagens, sentia-me reviver velhos tempos.
é mesmo, lembro que no começo, eu, depois de arrancado alguns pedaços de meus entes queridos, costumava olhar a fotografia para escolher a próxima mordida. das fotografias eu nunca gostei muito dos pedaços de chão, me parecia anti-higiênico mastigá-los. então eu deixava sempre sobrar. ou esfregava num bife e dava para o joaquim maria - cães não ficam doentes de comer coisas do chão ou de comer o chão das coisas. no mais, acho até que joaquim maria gostava de conhecer lugares novos.
a coisa foi tomando uma proporção que dei para comer também os livros, se as palavras, antes palavras depois sabor, me agradavam. se me agradava uma poesia, já era! dente nelas.
ah! eu também não comia eu mesmo em fotos, mas de um tempo comecei a tirar mais e mais fotos minhas e mandar para os amigos com os dizeres no verso: “se sentir saudade me coma!”. alguns me vieram bater à porta com certa aflição urgente. não entenderam bem o recado. entender é tão cruel... mastigar! tive que enxotá-los e a amizade ficou afetada ao ponto que passei mal uma semana, vomitando os pedaços fotográficos desses amigos que houvera comido na oportunidade de enviar-lhes minhas fotos.
no café da manhã era sempre papai, para começar fortalecido o dia.
hoje, joaquim maria ficou só fotografia, e do meu pai não tenho mais negativos para continuar os mesmos dias dispostos de outrora. o chão do quarto está cheio de chãos de tudo que é lugar, e confesso que estranhamente tenho me sentido atraído a comer bifes.
sábado, 7 de novembro de 2020
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
terça-feira, 27 de outubro de 2020
terça-feira, 20 de outubro de 2020
Sou tão pequeno que se percebo que estão me vendo hesito o quanto há de ilusão. Por vezes me olham e falam comigo, então respondo. Sinto alguém diante de mim, mas sinto também que está em alguma medida ausente, que trouxe de si pouquíssimo, apenas a inevitável casca - peneira de gestos e falas, que escapam insossas convenientes, e isto é comumente a boa sorte. Toma-me uma certa pressa de ir embora, levar-me de volta para meu uso caseiro e particular. Ficar só me parece mais real e me deixa mais à vontade. Desagrada-me fingir que existo, condescender por civilidade, dar a minha ou abanar opiniões alheias... "Importo para pouca coisa, pouca coisa me importa." - não se trata de um olhar escolhido, mas caído da copa da realidade! No mais, minha felicidade está tão estabelecida em simplicidades, quase como a de um cão, que em convívio mais concorro a prejudicá-la do que a preservá-la. Sozinho me sinto mais honesto, mais próximo do real, menos representante, menos pretendente. Visto, sou-me indecente. Perto do outro me abandono ao papel plausível, ajuizado. Perto de alguém, devo. Pois para um "cristão" como eu, o próximo é um credor. Do convívio, recupero-me na solidão e em seguida - natural, desapercebida e necessariamente - me acho outra vez em domínio público. Pois sim! Os excessos não fazem bem: a solidão dilua ânimos e habilidades fundamentais à sobrevivência que não se dá sem convívio social... Em dada medida, no outro me identifico, numa outra, me perco.
PARAQUEDAS
Não caímos na real porque em nosso craniano tribunal não recorremos contra as ilusões que consolam.
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
será que acreditei melhor do que o mundo podia?
mas que eu sabia da potência do mundo de verter-se em alegria?
lembro que era boa a ingenuidade que olhava para as outras pessoas
o homem era mais simples ou melhor ignorado por este à toa.
tive espaço pra viver. acostumei e nunca mais quis viver sem vida.
nem a mãe me ameaçou o suficiente e nem dinheiro me convenceu.
quinta-feira, 8 de outubro de 2020
Sem dentes
Quem enxergo abaixo pra pensar em cordas ou resgates,
sejam insetos ou uma nação de semelhantes gentes?
Aah meu amigo, quem morre não faz mais que ir à frente.
Quem minha língua fala
tem menos azo para que me invente.
Salvar os outros de não me serem?
Apiedar-me... mas de que?
Se até o que sinto são coisas a mim indiferentes,
exceto sou eu somente.
A compaixão é só o traje a rigor
que tem consigo quem mal se sente
e que a dor veste para de outro expandir e se nos fazer frequente.
Quem sofre o que é de outro falta no saber-se por si mesmo descontente.
Vai ao sofrer alheio fazer-se do seu ausente.
Esqueça o que de meus versos deduz,
desejo que tua cruz te seja suficiente.
Venha rir comigo enquanto não somos banguelas.
A morte no camarim
Minhas palavras são precipitadas, brilhos de estrelas que nunca existirão.
Estou cansado delas sem distinguir as que me chamam das que me esquecem, assim também das fotografias requestando saudades minhas de mim e de tudo mais que tenha sido, lembrar é reinaugurar cordões cortados.
Não navego, sou o cais de que tudo se desatracou como um navio.
Pois sim: o mundo está içando sua âncora do fundo de meu peito.
Partindo prum lugar melhor que eu, e me faltam lenços limpos pra esta despedida que daqui aceno.
A minha vida se afoga em lástimas represadas.
Sou tão só uma felicidade magra de quem me advertira sobre qualquer coisa.
Meu sobrenome é "Logo Mais Coisa Nenhuma".
Diante do mundo acabando, sou tão incapaz salvador como seu reflexo preso num espelho:
Só ajo consoante aos fins, sem nada alterar... nem mesmo o fato de que vejo este mundo sem contrapartida, sem vice-versa. Nenhuma reciprocidade!
Na pequena peça de minha vida, uma morte tímida e qualquer é a grande estrela que pra não entrar em cena em tal fracasso de bilheteria dispõe-se tão só a cerrar as cortinas.
Sou o torcedor eterno de um time que perdeu a chance de não ser time e não entrar em campo e não perder.
Um testemunha das próprias derrotas depondo a favor de alheias vitórias desconhecidas pra não dar bandeira aos sarcasmos.
Pois é! Tenho inveja do que imagino.
A minha sensação é de que, fora a primeira, as demais pessoas conjugam o verbo vencer que é tão só terem longe seu coração do que sinto.
Eu sou um álibi do mal que o diabo me fez.
Estou atrás da vitrine do pesadelo de estar desperto sozinho.
E a tua sorte, qual desconheces, são estes teus olhos fechados a sonharem outras vistas que não me tiram nem mesmo um pedaço.
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
os equilibristas
bocas pra roma
pro paladar
ramos pra aromas
rumos pro olhar
bom equilíbrio sabe escutar.
se sabe ouvir,
sabe voar.
suba com as notas
leves no ar,
que uma cantiga
pode levar
a ruas antigas, largos de amar...
histórias perdidas
hão de se achar
compassos
compondo um lar
com passos
de ir e voltar.
equilibristas
podem encontrar
o que a vista
não pode enxergar
labirintos
para deslocar
tudo que sinto
a um novo lugar
tato pra formas
pra se tocar
rimas que tornam
fácil lembrar
bom equilíbrio sabe escutar.
se sabe ouvir,
sabe voar.
compassos
compondo um lar
com passos
de ir e voltar.
equilibristas
podem encontrar
o que a vista
não pode enxergar
labirintos
para deslocar
tudo que sinto
a um novo lugar
equilibristas
podem encontrar
o que a vista
não pode enxergar
labirintos
para deslocar
tudo que sinto
a um novo lugar
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
D'ALMA
minha alma se debruça
sobre o não concretizado
e enquanto o corpo pulsa
de lá morre de saudade
de mil coisas avulsas
que não deram em realidade.
e como quem tira prazer de
hipóteses perdidas em "não"
o quanto há em sua vida
é vivê-las na ilusão.
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
CONFIÁVEL
quando um orgulhoso de sua palavra diz o que sente, você pode confiar. não que ele de fato sinta, mas que o orgulho que ele sente fará valer o que ele diz acima de tudo.
quarta-feira, 2 de setembro de 2020
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
cada um com sua onda. e uns outros na piscina.
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LADROLETA
não tenho projetos, passa uma borboleta e leva meus olhos.
https://www.instagram.com/reel/COVQLaWHLDN/?utm_medium=copy_link
PRECISA-SE DE ESPAÇO
depois de anos de casado, quando um decide ser astronauta, o outro lamenta a impossibilidade.
mais vale nossa merda descendo o rio do que a virtude de outros subindo a ladeira.
https://www.instagram.com/reel/CPLTg1mHB9J/?utm_medium=copy_link
domingo, 16 de agosto de 2020
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
domingo, 9 de agosto de 2020
VENTO NO ROSTO DE IR
a vida
esta despedida
das alegrias
por escotilhas
submersas
em amar
da infância
à violência da decência
no início dos cios
o tempo me mede
em arrepios
o que sinto
despreza o eterno
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Se sou...
Se sou?
Me dizem!
Não posso impedi-los de dizer.
Não posso censurar-me de ser de boca em boca.
De ser criado e crido.
Com pernas não escapo de ser levado nas boas e más línguas.
E me tenho, bem ou mal, cabido no inevitável.
Se sou?
Devo por certo provar isto e aquilo de mim amanhã no mercado.
E até mesmo exagerar-me em currículos para compensar o inenarrável.
E prometer-me demais, insinuando cores que redimam o pálido exangue, o monótono que as letras me entregam.
E fazer tudo isto por prudência, pois não me conhecendo e necessitando me dizer e soar que me sei seguramente... Por que não me orçar alto?
Por que, não me sabendo, supor-me pouco?
Por que partilhar minhas dúvidas além de em versos desobrigados de encher as panelas?
No mais, já me aconteceu suficientemente de me dizer menor do que me viam e anunciavam.
Mas se sou...
... não é por razão imperativa.
Não é meramente por inteligência, por resultado de cálculos, planos, por mérito...
Aliás, muito me apraz despir-me das engenharias de ser e deixar-me feito um bicho estendido no largo das horas...
Sou porque, embora não pareça,
obviamente há cabimento na possibilidade,
não exclusivamente na moral ou na razão.
Antes de tudo na possibilidade real concreta.
Caibo, ainda existo virando outras coisas à revelia de meu próprio gosto, sustento-me...
O resto é advocacia.
Se sou...
...não cuido.
Digo, é ínfimo o que me tenho feito
perto do que me tenho deixado dentro do que me é permitido.
terça-feira, 4 de agosto de 2020
quinta-feira, 23 de julho de 2020
terça-feira, 21 de julho de 2020
Conversas insólitas
Tô batucando em terreiro vazio, baixando santo pra jogar conversa fora.
................................................................................................................
megahertz
PESADELO
https://www.instagram.com/p/CONuerrH3fA/?utm_medium=copy_link
segunda-feira, 20 de julho de 2020
domingo, 19 de julho de 2020
o desejo fluindo sem a pedra das culpas obstantes...
o desejo, um dia, sem desvios, queda livre dos rios,
o desejo sem o de confeccionar figuras decentes,
antes depois de aguardentes
realizado no outro,
não o darwiniano que nos obrigou a caber
mas o que por falta inventamos
pra acharmos gosto em viver
sexta-feira, 17 de julho de 2020
fazia como é costume fazer: ajeitava-me ante os outros como se diante de um espelho, até me crer! é muito ordinário requisitar os outros para estabelecer e manter a nossa autoconsciência, até o fim. é assim que descansamos na ideia de que "somos algo ou, pretensamente, alguém".
segunda-feira, 13 de julho de 2020
ISTO NÃO É O MUNDO
Pois sim! O que eu entendo nunca é meu. Entender seja perceber de uma maneira idealizada, inteligível, e não possuir. Tocar com a razão é não tocar, menos ainda ter... É como uma confessa impotência dos braços. Entender é menos que ter o vapor das coisas. Entender a pedra está mais longe da pedra que o pó. Seja talvez que quem entende algo o destaca, enxerga sua terceirização, sua distinção do resto, mas não necessariamente usufrui do algo... Ah entendimentos são tão subjetivos. O que entendo... não deve ser grande como o mundo! Pois é até plausível que me tenha sido cobrado numa resposta de no máximo três linhas de uma prova ginasial, cabe num envelope, um vento levaria prum esquecimento, uma pessoa bocejaria...
domingo, 12 de julho de 2020
- Em que sentido?
- Pra começar, em você poder fazer esta pergunta, em você não ter sido abandonado, ou seja, em você estar vivo... Nós somos tão ruins que não sabemos disto.
- Por que você, um homem, está dizendo isto?
- Porque elas são melhores sobretudo em "cuidados" conosco.
FIM
segunda-feira, 6 de julho de 2020
sexta-feira, 3 de julho de 2020
quinta-feira, 2 de julho de 2020
Ministério da saúde:
- O senhor ministro sabe ao menos como ter certeza se uma pessoa está morta?
- Moleza! É só dar mais de 80 tiros.
COMO VINHO
REBELDE NÃO ACEITA
quarta-feira, 1 de julho de 2020
A PONTE - LIVRO DOS CUIDADOS COM O AMOR
terça-feira, 30 de junho de 2020
SISTEMA CONTAMINADO
segunda-feira, 29 de junho de 2020
domingo, 28 de junho de 2020
sábado, 27 de junho de 2020
de nós tirados?
quem restará pra sentir saudade
ou -se realizado por nosso fim?
que flor das que cuido agora
estará aqui sem sentido
depois de mim?
amando?
quem sabe o sol!
nas cores que traduz.
quem ouvirá as palavras reposicionadas
tantas
e as que bagunçadas são rastros de nós?
de que adianta?
de que adianta?
vou acabar me aborredendo com o deslumbre
vou acabar escarnecendo todo encanto
vou me tornar contra tudo que se faz às multidões
sexta-feira, 26 de junho de 2020
QUEM SAI PRA SER MUDADO?
quinta-feira, 25 de junho de 2020
Cavalo dado no dente dos outros tanto bate até que é refresco.
https://www.instagram.com/tv/COXvcgCnno0/?utm_medium=copy_link
Traje
segunda-feira, 22 de junho de 2020
sexta-feira, 19 de junho de 2020
Poesia pra quem quer chegar no presente
aquilo ou isto coisificado em palavra
se precariza
aquele já desceu no tempo
e agora sobe
neste
quinta-feira, 18 de junho de 2020
segunda-feira, 15 de junho de 2020
competência
Bom sono!
O miserável é um sentimento ruim em todos. No entanto, todos nós dormimos mais ou menos tranquilos. Cada qual com seu consolo, uns sonham que eles deixarão de ser miseráveis; outros defendem a justiça disto. E eu?... Bem, eu sou um miserável.
para minimizar o "tudo" que for
esquece sempre que nem sempre a gente fica
e esquece que importa "como a gente fica"
esse papo ficou tão sem graça
tentando evitar o interlocutor
prefiro encarar a dor a sua dica
e o hálito de auto-ajuda que você replica
e ignora também que tem a coisa que passa
e leva a gente na frente
antes de terminar de passar
se tudo passa
é exatamente o que se passa que importa.
quarta-feira, 10 de junho de 2020
Desbotada
segunda-feira, 8 de junho de 2020
sábado, 6 de junho de 2020
quinta-feira, 4 de junho de 2020
segunda-feira, 1 de junho de 2020
EM VEZ DE NOVELA
recebi teu recado
posto sob outras palavras
descuidaste ali em que era ainda gente
mas tudo bem!
um homem é sempre digno
de ser posto em suspeita...
somos apenas afluentes de um rio que não importa
pois... se há alguma razão nisto tudo,
cadê minha parcela,
meu pequeno motivo?
porque eu estou aqui à toa!
se faço algo, é meio pra contrariar
a deus:
traje a rigor do acaso
na festa dos homens.
culpa Dele
ter me feito homem em vez de novela
domingo, 31 de maio de 2020
quinta-feira, 28 de maio de 2020
PRIMEIRA COMUNHÃO
em vez de um dogma
defenda o coração,
que não discute
a vida ter razão.
faça esta primeira comunhão:
una o racional à emoção.
pois nem sempre o contra quer se opor:
some a minha à sua solidão
diminuirá a nossa dor.
somos parte de uma solução.
todo mundo teima em se dispor
em dilema, em ódio-amor...
vamos colidir na contramão!
e a vida vale mais que opinião.
em vez de um dogma
defenda o coração,
que não discute
a vida ter razão.
essa é a minha religião:
religarmos uma só nação.
se só dois lados a se contrapor,
vamos sem retrovisor...
nem a quadrada chega essa visão.
deve haver uma bifurcação.
ou vamos colidir na contramão!
e a vida vale mais que opinião.
quarta-feira, 27 de maio de 2020
...E A VIDA NÃO PEDE DESCULPAS.
terça-feira, 26 de maio de 2020
TRECHO DE "O IDIOMA DA CARNE" (E-book publicado em 2014, escrito anos anteriores)
sábado, 23 de maio de 2020
quinta-feira, 21 de maio de 2020
A partir dela você elege a verdade, e a partir de agora você sabe disto.
Aquém-do-homem
Estamos indo bem! Já sobrevivemos a uma desumanização bastante nítida, sem termos uma história, isolados numa compreensão crassa da realidade, numa condição de imundície multidimensional. O lixo que nos tornamos, jogados fora, é ainda o grande desafio.
domingo, 17 de maio de 2020
A PAZ ATROZ
essa sabedoria
de enviar somente a fala
pr'uma ousadia a que
se a gente fosse...
voltasse calado à bala.
a voz...
algo de nós desencarnado
pode ter a valentia
e projetar-nos como heróis
num longínquo outro lado.
se no concreto posso pouco
e me flagro tolo,
assino o contrato:
"pra não ficar louco
se renda a consolos
o campo abstrato".
pois este sistema nosso algoz
bem e mal faz bem misturados
que não podemos matá-lo, nós,
sem sermos juntos assassinados.
e só nos resta a paz atroz
dos quem se aceitam derrotados:
a moça a quem você liga
totalmente indignada
tem a identidade alugada
a uma sociedade anônima
e vocês duas na briga...
sócias - "vida limitada"
"o que fazer, minha amiga?
em quem desconto a porrada?"
se para encher a barriga
a gente paga de otário:
ou passa por vagabundo,
ou por um pouco salário,
deve aos problemas do mundo
fazer-se destinatário.
sábado, 16 de maio de 2020
quinta-feira, 14 de maio de 2020
GÊNESE DIVINA
A pior mendicância é a de fé!
Pois só reclama crença o débil de sentido.
Em lugar de Diógenes,
aproveito a sombra de Alexandre
pra evitar assunto.
E gozo em seguida o sol de sua ausência.
A plenitude só deriva de acordar com o acontecido.
Não me exporto para promessas nem sonhos...
Quando procurei irmandade para minhas imoralidades entre os homens,
encontrei-os bem vestidos...
Achei na sinceridade aquilo que me distinguia, se seu fruto não encontrando estação dá-se amargo, então só me entende o vício.
O mundo dos homens não passa de um anúncio de culpas,
um cinema a dimensionar a enorme impotência de ser indivíduo.
O tempo todo a requisitar-me imperioso, iluminado e sonoro para tudo a que sou robustamente incapaz.
Para mim já não há "nós",
Se me estendo no branco silencioso, não é à toa... pois sim!
Se escrevo, é que só no incógnito ouso supor compreensão.
E se ainda há conversas pra além de frivolidades, é que não ostento suficiente pudor de estar enganado. Sei, aliás, como quem vem com os pés machucados de realidades pedregosas, da necessidade de se folgar em ilusões.
Na constante impossibilidade do par, adquiriu-me este orgulho pelo ímpar, converteu-me a supremacia do indivisível.
As conversas são apenas palavras que inaptas ao poema não se fazem questão e se atiram subversivas.
Errado diagnóstico: meus versos não são sintomas de conversas deficientes, mas o flagrante das debilidades românticas.
Damos no silêncio - como rio ao mar - por qualquer via - o poema ou o outro. Um destinatário ou interlocutor é apenas a parte enfadonha na natureza do curso.
Não tenho nenhum conselho...
Se és modificável, vindo do barro, o acaso te saiba o artesanato!
Quanto a mim, que não pretendo nem mesmo a forma que assumo, de ti não farei nem esboço.
Refresca-te em meu despropósito!
Não me apetece, por senso estético ou por qualquer outro, conduzir-te ou te adornar.
O homem é, desde mim, uma matéria-prima do nada.
Eis o destino, que só de "quando" faz mistério.
Não faço do outro nenhum ideal: plateia ou promotor, para ter por ele ainda algum interesse.
Não sou mais criança a tal ponto.
Também não vim salvar nada do que é possivel.
Nem etiquetar o mundo com afetados moralismos. Reparar-lhe indecências?! Indecência é somar ao barulho.
Se respondo "bom dia!" é para que não me criem caso e não se atrevam a comigo mesmo, em minha presença, me fazerem assunto.
Insuficiente para ambos, dispenso o elogio e a crítica com "muito obrigado!", palavras mágicas não fariam melhor, pois mais útil que mover pedras é encerrar assuntos.
Quando digo o inevitável, tal um estertor, que me importam enquadramentos estéticos alheios, contemporâneos ou futuros?
É o que posso, o que devo... De confrontá-los por este ou aquele adjetivo, renuncio.
O verso é a folga que tiro de jogar-me fora em colóquios para que me jogue fora com elegância.
Não me desperdiço, porque não sou um funcionário...
Quem se descobre sem função e sem motivos ideológicos
não sofre tempo perdido.
Minha poesia é nula como a oração de um ateu:
mais vale pelo tempo a passar que enfeita, pondo-lhe palavras como se rabiolas em pipas que não acharão meninos...
Mais vale dissimular o vazio, do que carregar a um altar qualquer a tola esperança de ser ouvido.
segunda-feira, 11 de maio de 2020
domingo, 10 de maio de 2020
sexta-feira, 8 de maio de 2020
No meio do caminho
segunda-feira, 4 de maio de 2020
FRACASSO DE BILHETERIA
Confesso:
Se eu tivesse que adquirir o ingresso, também não teria vindo.
ALEGRIA POSSÍVEL
segunda-feira, 27 de abril de 2020
domingo, 26 de abril de 2020
DESPERDÍCIO
invisto meu tempo
C/Bb
tentando salvar
F9
bonecos de corda
Fm6
que teimam pular
C9
de um precipício
C/Bb
insisto em gritar
F9
mas ninguém acorda,
Fm6
pois vive a tocar,
C9
a horda do hospício,
C/Bb
canções de ninar
F9/6
o sono dos justos
Fm6
e vai governar...
C9
e ainda me assusto
C/Bb
com este lugar.
F9
um país de moucos
Fm6
e sigo a cantar
C9
para a bailarina
C/Bb
na caixa, que dança...
F9
eu devo estar louco
Fm6
eu sou o seu par.
C
bem vindo ao meu vício:
F Fm6 C
me desperdiçar
sábado, 25 de abril de 2020
Dependurados
um homem está na história.
um macaco procura uma fruta,
um homem procura sentido.
o macaco pula de galho em galho
um homem escorrega de parágrafo em parágrafo.
os dois perdendo o ritmo
levam um tombo,
caem no ponto final.
estou tanto tempo dentro de casa...
à porta da rua
tateio a parede por um
nada é, e tudo é visto!
e se o fim parecer demorar
e a vida, sua sala de espera?
mas por glória nada é, e tudo é visto!
já não me sinto tão mal com que sou
a ponto de amar o que projeto
SOANDO POUCO
mas eles não notam ou eu
não noto que fingem
eles não querem notar ninguém...
eles admiram de mesmo tanto quanto
precisam escapar de si
eu sou um pobre infeliz
não saber é algo muito a minha frente
e muito mais forte que eu!
e nada nos soa mais lindo
que um homem se achando pouco
eu moro muito longe de mim
desde um rosto entregue no serviço
a um pano com rodo na casa,
um sorriso no cativeiro...
nada!
é o fim do caminho...
que esses versos dão
e tudo dará...
mas são pensamentos só.
pensamentos que se dizem sós.
e vão. vãos! pensamentos que se dizem.
em compensação...
aliás, "em compensação" nada!
em única saída
o nada em tudo dará.
***
por falta de avô
hoje fiz uma poesia com a voz
de dorival caymmi. por falta de escolher... por excesso das coisas sempre terem sido acontecidas...
nem sempre escrevo o que falo, às vezes escrevo o que fala um personagem que escreve imaginando um personagem que escrevo. eu moro muito longe de mim!
eu moro tão longe de mim, que até saudades sinto sem sair do lugar...
eu tenho vontade das coisas em mim...
e por vezes eu deixo elas serem mais essas vontades... até arderem, coçarem qualquer coisa que ache minha alma!
BAIXO?
ou se são meus ouvidos
pueris
ou se com minhas dores não tenho altura
de alcançar melodias
febris
se eu não me lembrasse,
que coisa melhor faria em seguida?
será, deus, toda esta minha vida?
já que pergunto, por que não a deus, ainda que ateu?
pois em que eu já não acredito mesmo
são nas respostas.
A CRISE
serão diretrizes universais
fora das pautas dos comensais
meus corriqueiros, próximos, católicos...
amigos que esperam minha fé em deus
e este ateu escondendo a voz
e essa feira vendendo olhares
e esses casais reféns da moral
e esses enganos formando pares
e os remédios postergando a morte
são eufemismos, são anti-ácidos,
pra paladares de alguma sorte
sexta-feira, 24 de abril de 2020
e nós, somos vírus de quem?
e quem se previne de nós?
para quem nós seremos letais?
existirá cura pra nós?
erguemos a nosso razão!
que vácuo virá logo após?
erguemos a nossa razão
baixando nosso tom de voz.
que falta seremos de quem?
que mágoa cosemos a sós?
quarta-feira, 22 de abril de 2020
VELHA MÃE
vai procurar emprego
e abaixa volume do som.
para com esse rock!
mamãe já deu o toque,
é só você seguir o tom!
já estou cansada
de avisar...
pensa no futuro,
vai estudar!
olha as amizades!
vê se faz faculdade
e larga deste violão!
agora tem saudade,
diz da terceira idade:
"antigamente é que era bom!"
olha a madrugada!
vai esfriar!
veste esse casaco
pra não gripar!
vê se não volta tarde
pra descansar.
se demorar demais
vou te buscar!
responde que te ensino
a me respeitar!
que vestido é esse?
se o seu pai te visse...
menina a cor desse batom!
agora tem saudade,
diz da terceira idade:
"antigamente é que era bom!"
já estou cansada
de avisar...
arranjo um bom partido
pra te casar!
vê se não volta tarde
pra descansar!
se demorar demais
vou te buscar!
responde que te ensino
a me respeitar!
já estou cansada
de avisar...
vocês nunca me escutam...
vou te contar!
me diz se isso hora
de se chegar!
vocês estão querendo
é me matar!
terça-feira, 21 de abril de 2020
POR LEMBRAR
e hoje como soa esquisito o qu'eu queria ser!
tive sonhos que às vezes me assustam.
quantos planos rasgando quem sou...
como é que aquela criança iria saber?
sou mais do que daria no uniforme que ela quis caber
tiro a sua farda apertada sem me arrepender
para vir me alistar nesses versos
para vida vir voar na canção
sou além do que uma infância podia prever
por lembrar....
escuto alguém me perguntar
"o que você quer se tornar
quando você crescer?"
por lembrar...
então olhando lá pra trás
que eu poderia aprender mais
do que me desfazer?
olho pro passado como jeito de me entender.
e hoje como soa esquisito o qu'eu queria ser!
tive sonhos que às vezes me assustam.
quantos planos rasgando quem sou...
como é que aquela criança iria saber?
por lembrar....
escuto alguém me perguntar
"o que você quer se tornar
quando você crescer?"
por lembrar...
então olhando lá pra trás
que eu poderia aprender mais
do que me desfazer?
sexta-feira, 17 de abril de 2020
ACONSELHADO DESCASO
a que uma ignorância da azo,
e o dela vem a vista;
o seu, a prazo,
é do ignaro se condoer.
não faça caso!
deixa ser!
deixe que uma cabeça
sem uso padeça
nada mais justo que isto
nem parafuso!
nem saber!
se por humanidade pensa por elas,
faz igual de si mesmo esquecer.
pois se pensa mesmo, logo desvela
que mal ou nunca pensaram em você.
Oração dos miseráveis
Quisera ter a realidade que tem a tristeza
E uma rígida frieza que não queira cantar ais.
Invés dessa existência vã burlesca sempre parca para a paz.
Sonhei fazer o que não se desfizesse
como todos os mortais.
Mas acordei, e mesmo o sonho se desfez
me tomou a lucidez de quem se flagra um incapaz.
Pretendo só perder minha cabeça, de maneira que eu me esqueça
e não me lembre nunca mais.
De seres conscientes da inevitável sorte,
desconfio de seus modos cordiais.
Quem sente a todo instante a própria morte
Apenas por maneiras faz-se mudo
Contendo diante de tudo o "tanto faz!"
E sem receio de qualquer heresia,
Serei desta poesia doravante seu cartaz.
Pois nada de aviltante que a deus se diga
Faz mais que a miséria dessa vida
que engendra satanás.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
diz uma fábula que o Deus dos homens virou-se para um deus amigo antes de pôr em prática sua criação, e lhe questionou a respeito.
a que o amigo respondeu que o homem era simplesmente terrível.
então o Deus do homem rindo lhe disse:
- pois sim! é que você, amigo, como Deus, vê o homem estático e de verdade, mas ele ainda ganhará a palavra, e evoluira deixando progressivamente de ser verdadeiro. até tal ponto que nem mesmo eu lembrarei de tê-lo feito.
quarta-feira, 15 de abril de 2020
filosofia sensação
esquece esta gramática!
e essas questões...
vem viver de forma prática.
eu não sei de onde viemos, pra onde vamos ou mesmo se somos nós...
eis uma redundância de milênios que exaspera desde o tom da voz.
ei irmão, equaliza numa outra sintonia
de viver a luz do dia...
mesmo a filosofia se entregou à sensação.
e além do mais a que alegria te encaminha
essa disputa tão voraz por ter razão?
ei, irmão.
não temos pouco
se escapamos da escravidão
desses loucos que precisam demais.
e não têm paz...
se pertos do fim ou não.
ei, irmão!
não sei se somos semelhantes
em que e quão!
mas mesmo que muito distantes
devemos ter alguma comunhão:
um país, o universo, um verso,
quem sabe um tristeza,
quem me dera esta canção!
então esquece essa gente fanática
que toma a vida por problema
e solúvel em matemática...
sexta-feira, 10 de abril de 2020
quinta-feira, 2 de abril de 2020
quarta-feira, 1 de abril de 2020
PALAVRA ÁGUA
com palavras rígidas pesadas
postas em linhas empilhadas
pretende chegar ao céu
de que outros fingem descer.
essa gente
com opiniões ferrenhas enferrujadas
ergue retrógradas moradas
para que Deus os venha ver
encher de dinheiro um chapéu
e voltar ao léu pra viver.
eu bebo a palavra água
de fluxo transparente
que acha vão nas pedras
por onde se faz corrente
e rio a caminho do mar
não digo nada!
hoje doce, amanhã salgada...
água mole...
deixa acontecer!
esse povo crente ignora
que a palavra que cura...
...evapora.
não pode ser pregada
como palavra dura
que quer permanecer.
por mais que eles clamem
e roguem genuflexos
e derramem em plena loucura
o desespero dos léxicos
para aliviar as mágoas,
nunca chegam às alturas
como a palavra água:
por mais que louvem
são sempre almas rasas
e inaptas ao complexo
de ver pairar uma nuvem
por sobre suas casas sem chão.
esses que mentem
com palavras que pesam
quedam sempre perplexos:
anjos por asas não rezam -
e por isso odeiam a razão.