quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

REFINARIA DO ROUBO

o ladrão refinado, em vez da arma óbvia - o revólver ou o canivete, dispõe da palavra, da caneta ou do aperto de mão. os mais evoluídos e nocivos à sociedade sequer podem ser reconhecidos oficialmente como criminosos, pois são os que policiam, julgam e fazem a legislação. a covardia tornada lícita atua como uma doença silenciosa na civilização, é mais prejudicial do que os crimes alardeados; além disto, é causa destes.  a covardia legal nos rouba até mesmo a possibilidade de tomarmos alguma precaução.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

 Se você sequer pensa no pior, se lhe falta coragem ou estômago para isto... Se acha que basta pensar o melhor, está deixando de pensar e de agir para evitá-lo. Você está fechando os olhos para o terrível e assim aumentando a chance de tropeçar nele ou ser atingido por não poder se desviar. Você não está sendo bravo ou corajoso, apenas estúpido.

Desconfie de si mesmo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

CUIDADO!


também se publica demais o cuidado com o outro
quando se é vaidoso.
pois é sabido que os outros consideram isto muito bonito.
tantas vezes o mais que fazemos não passa de panfleto.

COMO CORTINAS

senta e come a comida que a tantos falta

sorria!

não faça nenhum agradecimento aos céus!

não torne isto justo em transcendência.



aprenda entre os dentes a injustiça fundamental que é a vida...

mas digira na cabeça a ideia de que "justiça" 

também não é inteira uma boa ideia

se nos recheia com culpa.


que se pode fazer,

se um sofrer alheio nos impede um bom viver?

para a felicidade, perdemos muito de ingenuidade necessária.

em nome de uma sabedoria que leve em conta o outro,

perdemos uma doce ignorância.

confortável ao prazer como cortinas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

 Amanhã a hora não existe. Estaremos todos livres! Inclusive de estar, como apertados por segundos ameaçadores d'agora. Átomos de invisível tempo, em que contraímos e espalhamos a morte. Todos contaminados! Este tempo precisa ser etiquetado como o tempo em que a vida mesmo é uma doença fatal. Quem já condena existir, que melhora reivindica se não dá cabo da própria vida? Amanhã, terra sobre nós! Covas coletivas para quem louvava méritos individuais. Ajoelhamos ante ídolos. Covas banais pros iguais em tudo perdido. Na morte... Só na morte seremos tais. ... Pois a vida... A vida não é o oposto?

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

tenha medo da morte não. esse medo é da vida, a última dor é da vida, a ânsia é da vida, a angústia. a morte é a enrustida tranquilidade que todos nós buscamos desapercebidamente.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

os dias fabricados

Repetir o desenho feito sobre os dias em branco é não ter os dias em branco, mas com o rabisco leve de ontem que me guiará os passos de hoje. Como se hoje fosse um papel vegetal posto sobre ontem, em qual traçado eu não devo observar rigorosamente apenas a copia do desenho, mas também o ritmo e o momento de execução de cada traço, devendo sempre começar a cópia a partir do mesmo ponto e também em mesmo ponto concluí-la. Meu dia compete com o outro como se atletas de uma mesma modalidade. Correm numa mesma pista, lado a lado. Os dias passados são um molde em que devem caber os dias seguintes, assim meço meu sucesso, nisto habita meu descanso. Os dias vêm numa esteira industrial em que me empreguei, se algo dá errado no maquinário de que faço parte, com que atuo organicamente, o dia passará intranquilo, a sensação é de desperdício. Participo de um jogo de encaixar movimentos em minutos, preencho as horas e minutos iguais com ações iguais, sou justo e quanto mais justo mais pleno me sinto. Apraz-me ter um modelo! Se há algo que me aborrece em mim mesmo e nesta maneira de seguir?! De toda forma, esta é ainda a minha maneira imperante de seguir, a mais confortável ao que sou. Aliás, a que me faz “ser” ante tanta instabilidade da vida, ante a hipótese de tantas tempestades que temo. “Ser” no sentido “ter constância”! Meus dias são como réguas, termômetros, balanças; enfim, medidores que me informam sempre se algo está fora de ordem (ameaça)... Poderiam talvez ser adesivados com selos do Inmetro. Sim! Eles parecem regidos pela ABNT! Pois sim! Tenho esta sensação de ordem que me conforta, por exemplo, ao fechar o portão de volta à casa, soltar os cães das coleiras, tomar o café... e erguer a cabeça para o relógio da parede da sala antes ou pontualmente às 6h da manhã. A minha angústia é descarrilar, sair do eixo... Meus afazeres são como estações da locomotiva que sou, vou largando como em estações os cães saciados no quintal, meus dentes escovados em minha boca, as crianças na escola, eu no serviço, eu na mesa de almoço, na cama com meu sono dos justos... Um pedaço de imprevisível nisto bole com minhas vísceras, me desarranja. Guardo com apreço a sensação serena de que amanhã repetirá hoje, e sinto que de alguma maneira isto tem dado certo e sido responsável pelo semblante salutar dos meus. A verdade não importa! O que importa é a sensação, a de que o tempo não passa se miramos o relógio, de que eu não envelheço se me olho apenas no espelho dos dias subsequentes, da mesma maneira que as pessoas não envelhecem se as olhamos todos os dias, vivo com sensações e não com verdades. As pessoas só envelhecem na vida quando olhamos fotos antigas delas, mas no meu itinerário não deixei tempo pra nostalgia. O automatismo foi feito para não sentirmos a tragédia humana. Mesmo os aromas das ruas, dos meus caminhos, dos meus destinos costumam se repetir, como fermentando na forma do meu rito os dias producentes. Também voltam a mim, engrenagem deste engenho de viver diariamente, os burburinhos residenciais do meu bairro, os carros mesmos que saem das garagens após o rangido dos portões, ou se os portões lubrificados recentemente já não rosnam a austeridade necessária dos compromissos ou se carros saem outros, tudo apenas informa uma tênue manutenção utilitária, feita justamente para que os horários não sejam perdidos, para que o atraso não reine em lugar da disciplina. Tudo isto constrói a massa que me alimenta a alma, tal é o pão meu de cada dia, pão para o que sou além de matéria. Mais tarde encontrarei com meu fiel cansaço. Ele é como um marido cordato, deita comigo às dez da noite. Assim terei encontrado meu apetite as 13h. Terei meu entretenimento naquele horário de folga, por volta de quando o sol se põe e um arrebol pela janela pinta o canto de meu olho distraído numa outra tela. Aah, este turno delicioso cotidiano em que me estendo com as roupas mais confortáveis para ver bem de fora, bem distante, seguro, as vidas encenadas em que há drama! Ah, mesmo aquela impacienciazinha assídua, com o relógio que parece tantalizar meu cansaço nos minutos finais de serviço, tem de parte minha alguma simpatia. Simpatia de quem conhece e sabe lidar com ela. Simpatia de encontrá-la todos os dias como uma conhecida chata, que o melhor que nos dá é ir embora, sei que ela significa o alívio de agorinha, então já a recebo sem deixar que ela me torça minimamente as expressões faciais, tenho-a comedidamente. Ter uma rotina é segurança dos dias que vêm e quase não vão. Não que sejam de todo magníficos, pois se são ordinários: 1,2,3,4... mas me entregam a sensação de segurança que me é indispensável ao sono e ao viver, não obstante adivinhe o intelecto (este inimigo especulador subversivo) que uma farsa esteja nisto alicerçada: durmo em paz com a tranquilidade que hoje sempre voltará amanhã, e esta sequência de dias permitida pelo acaso, estes meus gestos, apetites, disposições com horas marcadas, esses rituais fazem do acaso – este indiferente - um Deus paternal que aprova este filho digno, que me acolhe em seus braços imperecíveis.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

 O HOMEM QUE COMIA FOTOGRAFIAS


 


era tão participativo que já não me bastava compreender as coisas. isto de entender-lhes então!, mais parecia desperdiçá-las e, ao mesmo tempo, um gesto ingrato para com elas. por isso que dei a comer fotografias. observava-as, sim, algum tempo, e depois, como elas nada mais me diziam aos olhos, eu apertava os dentes um contra o outro, rangendo a ânsia, e era observá-las algum tempo e “nhac!”.


a primeira, se não me falha o paladar, foi de minha querida vovozinha. foi um dia que se procura alguma coisa e encontra outra que faz a primeira virar alguma. dentro da velha caixa, lá estava a minha vovozinha em preto e branco. que pobreza era só tê-la à vista. nhac! o primeiro pedaço foi um tanto... “papel!”, mas depois... não! se fechasse bem os olhos, apertando as pálpebras... sentia diversos sabores, e lembrando as imagens, sentia-me reviver velhos tempos.


é mesmo, lembro que no começo, eu, depois de arrancado alguns pedaços de meus entes queridos, costumava olhar a fotografia para escolher a próxima mordida. das fotografias eu nunca gostei muito dos pedaços de chão, me parecia anti-higiênico mastigá-los. então eu deixava sempre sobrar. ou esfregava num bife e dava para o joaquim maria - cães não ficam doentes de comer coisas do chão ou de comer o chão das coisas. no mais, acho até que joaquim maria gostava de conhecer lugares novos.


a coisa foi tomando uma proporção que dei para comer também os livros, se as palavras, antes palavras depois sabor, me agradavam. se me agradava uma poesia, já era! dente nelas.


ah! eu também não comia eu mesmo em fotos, mas de um tempo comecei a tirar mais e mais fotos minhas e mandar para os amigos com os dizeres no verso: “se sentir saudade me coma!”. alguns me vieram bater à porta com certa aflição urgente. não entenderam bem o recado. entender é tão cruel... mastigar! tive que enxotá-los e a amizade ficou afetada ao ponto que passei mal uma semana, vomitando os pedaços fotográficos desses amigos que houvera comido na oportunidade de enviar-lhes minhas fotos.


no café da manhã era sempre papai, para começar fortalecido o dia.


hoje, joaquim maria ficou só fotografia, e do meu pai não tenho mais negativos para continuar os mesmos dias dispostos de outrora. o chão do quarto está cheio de chãos de tudo que é lugar, e confesso que estranhamente tenho me sentido atraído a comer bifes.


 



terça-feira, 20 de outubro de 2020

DECOMPOSITOR

antes eu escrevia poemas pra compor um autor.

agora me decomponho.


Sou tão pequeno que se percebo que estão me vendo hesito o quanto  há de ilusão. Por vezes me olham e falam comigo, então respondo. Sinto alguém diante de mim, mas sinto também que está em alguma medida ausente, que trouxe de si pouquíssimo, apenas a inevitável casca - peneira de gestos e falas, que escapam insossas convenientes, e isto é comumente a boa sorte. Toma-me uma certa pressa de ir embora, levar-me de volta para meu uso caseiro e particular. Ficar só me parece mais real e me deixa mais à vontade. Desagrada-me fingir que existo, condescender por civilidade, dar a minha ou abanar opiniões alheias... "Importo para pouca coisa, pouca coisa me importa." - não se trata de um olhar escolhido, mas caído da copa da realidade!  No mais,  minha felicidade está tão estabelecida em simplicidades, quase como a de um cão, que em convívio mais concorro a prejudicá-la do que a preservá-la. Sozinho me sinto mais honesto, mais próximo do real, menos representante, menos pretendente. Visto, sou-me indecente. Perto do outro me abandono ao papel plausível, ajuizado. Perto de alguém, devo. Pois para um "cristão" como eu, o próximo é um credor. Do convívio, recupero-me na solidão e  em seguida - natural, desapercebida e necessariamente - me acho outra vez em domínio público.  Pois sim! Os excessos não fazem bem: a solidão dilua ânimos e habilidades fundamentais à sobrevivência que não se dá sem convívio social... Em dada medida, no outro me identifico, numa outra, me perco. 

PARAQUEDAS

 Não caímos na real porque em nosso craniano tribunal não recorremos contra as ilusões que consolam.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

será que acreditei melhor do que o mundo podia?

mas que eu sabia da potência do mundo de verter-se em alegria?

lembro que era boa a ingenuidade que olhava para as outras pessoas

o homem era mais simples ou melhor ignorado por este à toa.

tive espaço pra viver. acostumei e nunca mais quis viver sem vida.

nem a mãe me ameaçou o suficiente e nem dinheiro me convenceu.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Sem dentes

 


Quem enxergo abaixo pra pensar em cordas ou resgates,
sejam insetos ou uma nação de semelhantes gentes?
Aah meu amigo, quem morre não faz mais que ir à frente.
Quem minha língua fala
tem menos azo para que me invente.
Salvar os outros de não me serem?
Apiedar-me... mas de que?
Se até o que sinto são coisas a mim indiferentes,
exceto sou eu somente.
A compaixão é só o traje a rigor
que tem consigo quem mal se sente
e que a dor veste para de outro expandir e se nos fazer frequente.
Quem sofre o que é de outro falta no saber-se por si mesmo descontente.
Vai ao sofrer alheio fazer-se do seu ausente.
Esqueça o que de meus versos deduz,
desejo que tua cruz te seja suficiente.
Venha rir comigo enquanto não somos banguelas. 

A morte no camarim

Minhas palavras são precipitadas, brilhos de estrelas que nunca existirão.
Estou cansado delas sem distinguir as que me chamam das que me esquecem, assim também das fotografias requestando saudades minhas de mim e de tudo mais que tenha sido, lembrar é reinaugurar cordões cortados.
Não navego, sou o cais de que tudo se desatracou como um navio.
Pois sim: o mundo está içando sua âncora do fundo de meu peito.
Partindo prum lugar melhor que eu, e me faltam lenços limpos pra esta despedida que daqui aceno.
A minha vida se afoga em lástimas represadas.
Sou tão só uma felicidade magra de quem me advertira sobre qualquer coisa.
Meu sobrenome é "Logo Mais Coisa Nenhuma".
Diante do mundo acabando, sou tão incapaz salvador como seu reflexo preso num espelho:
Só ajo consoante aos fins, sem nada alterar... nem mesmo o fato de que vejo este mundo sem contrapartida, sem vice-versa. Nenhuma reciprocidade!
Na pequena peça de minha vida, uma morte  tímida e qualquer é a grande estrela que pra não entrar em cena em tal fracasso de bilheteria dispõe-se tão só a cerrar as cortinas.
Sou o torcedor eterno de um time que perdeu a chance de não ser time e não entrar em campo e não perder.
Um testemunha das próprias derrotas depondo a favor de alheias vitórias desconhecidas pra não dar bandeira aos sarcasmos.
Pois é! Tenho inveja do que imagino.
A minha sensação é de que, fora a primeira,  as demais pessoas conjugam o verbo vencer que é tão só terem longe seu coração do que sinto.
Eu sou um álibi do mal que o diabo me fez.
Estou atrás da vitrine do pesadelo de estar desperto sozinho.
E a tua sorte, qual desconheces, são estes teus olhos fechados a sonharem outras vistas que não me tiram nem mesmo um pedaço.




quinta-feira, 1 de outubro de 2020

os equilibristas

bocas pra roma

pro paladar

ramos pra aromas

rumos pro olhar


bom equilíbrio sabe escutar.

se sabe ouvir, 

sabe voar.


suba com as notas 

leves no ar,

que uma cantiga 

pode levar


a ruas antigas, largos de amar...

histórias perdidas

hão de se achar


compassos 

compondo um lar

com passos

de ir e voltar.


equilibristas

podem encontrar

o que a vista

não pode enxergar


labirintos

para deslocar

tudo que sinto

a um novo lugar


tato pra formas

pra se tocar

rimas que tornam

fácil lembrar


bom equilíbrio sabe escutar.

se sabe ouvir, 

sabe voar.


compassos 

compondo um lar

com passos

de ir e voltar.


equilibristas

podem encontrar

o que a vista

não pode enxergar


labirintos

para deslocar

tudo que sinto

a um novo lugar


equilibristas

podem encontrar

o que a vista

não pode enxergar


labirintos

para deslocar

tudo que sinto

a um novo lugar









quarta-feira, 23 de setembro de 2020

D'ALMA


minha alma se debruça 

sobre o não concretizado

e enquanto o corpo pulsa 

de lá morre de saudade

de mil coisas avulsas 

que não deram em realidade.


e como quem tira prazer de

hipóteses perdidas em "não"

o quanto há em sua vida

é vivê-las na ilusão.




quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Ó! quantas vezes é mais importante esconder um anseio do que saciá-lo!

As pessoas são objetos de crença.

Os homens agem para ser. E não "são, portanto agem".


A informação é pra consumidores, não pra brasileiros.

 Em 2D  qualquer existência é um obstáculo para outra porque temos menos espaço, tudo que surge surge no mesmo plano, numa mesma linha de colisão. Quanto mais dimensões, mais espaço para as diferenças e menos possibilidade para os encontros.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

CONFIÁVEL

 quando um orgulhoso de sua palavra diz o que sente, você pode confiar. não que ele de fato sinta, mas que o orgulho que ele sente fará valer o que ele diz acima de tudo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

 viva hoje como se fosse um passado qual você não pode voltar

pois é isto que hoje será


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

cada um com sua onda. e uns outros na piscina.

 https://www.instagram.com/reel/CO-IYgun_0F/?utm_medium=copy_link

LADROLETA

 não tenho projetos, passa uma borboleta e leva meus olhos.


https://www.instagram.com/reel/COVQLaWHLDN/?utm_medium=copy_link

DESCARTE!

 Não quero uma prova de que existo.

Só o desfrute disto.

PRECISA-SE DE ESPAÇO

 depois de anos de casado, quando um decide ser astronauta, o outro lamenta a impossibilidade.

mais vale nossa merda descendo o rio do que a virtude de outros subindo a ladeira.

https://www.instagram.com/reel/CPLTg1mHB9J/?utm_medium=copy_link

comparados com uma régua estamos todos loucos.

Não é a Lua que nos encanta. A Lua é um enorme tédio arenoso. É a distância que nos deixa na porta de um sonho.






https://www.instagram.com/reel/CODP9kRHbyN/?utm_medium=copy_link

O Brasil é made in Brazil.

domingo, 16 de agosto de 2020

O QUE VOCÊ TEM NO PEITO?



A diferença entre o coração e a pilha:

Um faz viver; outro, funcionar.

Não temos preguiça, mas um certo desgosto em fazer somente o possível.


TEMPO ADEQUADO

 

Com o tempo aprendi a fazer planos no futuro do pretérito.

o desconhecimento sempre será uma dimensão a mais que a última dimensão descoberta.

 amadurecer é o processo de adquirir terrenos - áreas para tráfego - na lembrança e na realidade.

envelhecer é diminuir as duas áreas de passeio. onde vivem os velhos para além de suas varandas, cadeiras, sofás...?

aos quarenta, as fazendas crescem na cabeça e um quintal é a arbórea felicidade real.

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Se sou...

Se sou?

Me dizem!

Não posso impedi-los de dizer.

Não posso censurar-me de ser  de boca em boca.

De ser criado e crido.

Com pernas não escapo de ser levado nas boas e más línguas. 

E me tenho, bem ou mal, cabido no inevitável.


Se sou?

Devo por certo provar isto e aquilo de mim amanhã no mercado.

E até mesmo exagerar-me em currículos para compensar o inenarrável. 

E prometer-me demais, insinuando cores que redimam o pálido exangue, o monótono que as letras me entregam. 


E fazer tudo isto por prudência, pois não me conhecendo e necessitando me dizer e soar que me sei seguramente... Por que não me orçar alto? 

Por que, não me sabendo, supor-me pouco? 

Por que partilhar minhas dúvidas além de em versos  desobrigados de encher as panelas?

No mais, já me aconteceu suficientemente de me dizer menor do que me viam e anunciavam.


Mas se sou...

... não é por razão imperativa.

Não é meramente por inteligência, por resultado de cálculos, planos, por mérito...


Aliás, muito me apraz despir-me das engenharias de ser e deixar-me feito um bicho estendido no largo das horas...


Sou porque, embora não pareça,

obviamente há cabimento na possibilidade,

não exclusivamente na moral ou na razão.

Antes de tudo na possibilidade real concreta. 


Caibo, ainda existo virando outras coisas à revelia de meu próprio gosto, sustento-me...

O resto é advocacia.


Se sou...

...não cuido.

Digo, é ínfimo o que me tenho feito

perto do que me tenho deixado dentro do que me é permitido.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

terça-feira, 21 de julho de 2020

mais vale uma mulher de amigo meu  na mão do que dois não brigam.

https://www.instagram.com/reel/CPQoWCzn2OA/?utm_medium=copy_link

Procurando a verdade a vida se perde

quando não são as mesmas, as coisas que acho costumam ser menos interessantes do que as que tropeço. e olha que tropeçar tem um dedão de desvantagem!

Tô me esquecendo e já nem lembro por que valia a pena.

Conversas insólitas



...Devo talvez ter guardado. Pensarei a respeito com a mão no queixo por horas e te esquecerei de dar uma resposta... E por falar em tomates, a conta de luz já veio?

Tô batucando em terreiro vazio, baixando santo pra jogar conversa fora.








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A vida tá tão tediosa que eu ensaio uma frase  e converso para achar contexto de encaixá-la.

Mundo dos negócios

  a gente entra com a mão abanando e sai esfregando na testa

megahertz

um dia no meio de um ódio percebi que minha cabeça pegava feito rádio uma sintonia em que falava o diabo: "mata ele, porra! mata esse filho da puta!" e com tempo, correndo lento o ponteiro dos ânimos, fui percebendo que havia no caminho outras frequências que capatvam vozes diversas. "psicografia"; "esquizofrenia"; "poesia"... - o termo só depende da nossa amizade! um dia fui subindo a frequência, girando as orelhas, tentando equalizar cristo. o máximo que deu foi são joão: estalando foguetes, subindo balão, "pula fogueira, iô iô!", "anarriê!" "olha a cobra, é mentira!"... putz! hertz! deus era AM, maior monotonia!

PESADELO

eu trabalhava no sonho. todo dia! batia ponto. só mesmo quando não dava pra dormir, por alguma moléstia, que eu faltava serviço. daí sonhava com atestado médico no dia seguinte. meu chefe me amava naquele cargo pequeno que me assistia. às vezes eu dormia até tarde, mas não ganhava hora extra. tinha tanto saldo no banco de horas que nem cochilava nos dias seguintes. toda noite, na manhã de serviço, me dava de canto um sorriso, antes de entrar na fábrica. depois que a gente lê marx nunca mais uma bota estala que não seja na nossa cabeça. aí veio a insonia e tomei justa causa, quando sonhei novamente estava deitado sobre papelões na praça. e nunca mais acordei.



https://www.instagram.com/p/CONuerrH3fA/?utm_medium=copy_link

domingo, 19 de julho de 2020



quero 
          que 
       os versos 
     sejam 
       das mágoas
como o vapor 
é das águas


o desejo fluindo sem a pedra das culpas obstantes...

o desejo, um dia, sem desvios, queda livre dos rios, 


cachoeiras de prazer...

o desejo sem o de confeccionar figuras decentes,

antes depois de aguardentes 

que de pacientes aguardantes de merecer

o desejo possível, dádiva...

realizado no outro, 

como o mundo oposto

não o darwiniano que nos obrigou a caber

mas o que por falta inventamos


pra acharmos gosto em viver


amor

fluxo da dor
saindo de dentro
pra viver ao lado

Quem só olha pra si mesmo pensa que é o mundo que está fazendo isto.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

A estupidez é uma reta, o caminho mais curto entre os pontos: "o desejo e a insatisfação". A inteligência faz belas curvas, curte alongar o caminho em prol da duração, sabendo que o fim é o mesmo inexorável: "não!".
Não posso me descrever de um só jeito! Não prometo um sujeito, um caráter rijo, um cidadão... Obrigado a me adequar às circunstância, sou um
recém-nascido em cada nova situação.
o que quer que eu seja ou venha a ser é inútil sem parecer. se pareço, olhando de dentro é impossível saber. antes de aceitar-me nada - embora ainda não completamente -
fazia como é costume fazer: ajeitava-me ante os outros como se diante de um espelho, até me crer! é muito ordinário requisitar os outros para estabelecer e manter a nossa autoconsciência, até o fim. é assim que descansamos na ideia de que "somos algo ou, pretensamente, alguém".

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Saudade de crenças

sei quando uma pessoa se sente passada, quando sente perdido um pleno gozo da vida, pois ela vira "dona do tempo'. pois sim! é quando ela começa a dizer "no meu tempo!"... reparando bem, é engraçado, não? é como se a pessoa admitisse alguma morte.

ISTO NÃO É O MUNDO

 "- Quando você finalmente entende o que é o mundo, ele passa a não ser mais seu e sim do seu filho. Mas nem a isso se pode ter apego. Uma vez que seu filho compreende o mundo, o filho dele já o terá herdado e ele já não será senhor de nada.
O mundo é sempre da geração futura. Da que vem por aí."





Pois sim! O que eu entendo nunca é meu. Entender seja perceber de uma maneira idealizada, inteligível, e não possuir. Tocar com a razão é não tocar, menos ainda ter... É como uma confessa impotência dos braços. Entender é menos que ter o vapor das coisas. Entender a pedra está mais longe da pedra que o pó. Seja talvez que quem entende algo o destaca, enxerga sua terceirização, sua distinção do resto, mas não necessariamente usufrui do algo... Ah entendimentos são tão subjetivos. O que entendo... não deve ser grande como o mundo! Pois é até plausível que me tenha sido cobrado numa resposta de no máximo três linhas de uma prova ginasial, cabe num envelope, um vento levaria prum esquecimento, uma pessoa bocejaria... 

Ah, amigo, tenho perdido em pequenos vasos as sementes que quis flores. Que direi de possuir o mundo sem comicidade e sem soar ainda mais ridículo? Do mundo... estou sempre imaginando uma sombra do que é a vida ao vivo e a cores. Quanto a esse ser da geração que vem, talvez você esteja falando da "sensação de possuir o mundo", sensação - quem sabe? - sempre pueril! E não haja talvez "possuir maior" que este para a enorme maioria, que é ter a liberdade pra imaginar, sentir... à parte um entendimento. Aproveitar que não acenderam as luzes e dormir o mundo, sonhá-lo... Assim seria mais uma maneira de ser feliz aqui, bastante usufruto, nenhum domínio. 


Ora! Tem "o mundo" que gozo, "o mundo" que sofro... O que entendo é tão pouco! Tem algo meio de concluído, definido... e se pareça com uma rocha talvez, mas mais estático do que a realidade de pedra, sem atmosfera, sem estar encrustrado na materialidade, destacado de mover-se e desfazer-se sob leis da física; enfim, destituído de existir materialmente pra que caiba em algum meu entendimento. 

Já "seu filho"... é um colóquio! Entendo a quem se refere, mas o pronome possessivo, se literal, nos entorna sempre num largo engano... Eu mesmo - esperma de um, óvulo de outro, alimentado no mundo - se me entendo me faço menos e mais longe estou de possuir-me... 

Este tempo me deu a essas palavras, seja mais agente que eu nisto de respondê-lo... Alguma vaidade, alguma pretensão contracene com meu ócio e eis a peça! Que não é mundo algum! Aliás, amigo, não possuir acabou me entornando nesta coisa de esticar-me em divagações como troco pouco ao tempo que me leva.


domingo, 12 de julho de 2020

- Elas são melhores.
- Em que sentido?
- Pra começar, em você poder fazer esta pergunta, em você não ter sido abandonado, ou seja,  em você estar vivo... Nós somos tão ruins que não sabemos disto.
- Por que você, um homem, está dizendo isto?
- Porque elas são melhores  sobretudo em "cuidados" conosco.

FIM

segunda-feira, 6 de julho de 2020

tudo é sensação, e só se vive particularmente, numa mais que evidente solidão, contra qual só nos salvamos crentes de alguma comunhão. mas se é particular, mais coerente é não chamá-la "nossa" e nem "realidade", mas "ilusão". 
no tempo vamos de qualquer forma. para onde senão fim? o planeta é redondo, o mais, infinito, que podemos é tão só dar uma voltinha. e neste processo a vida é apenas o que diz: "por enquanto!" a reclamar duração, sofremos o fim, e a reclamar utilidade, somos condenados em ultima instância à inércia. se não fomos ainda derramados nesta realidade é porque no nosso tribunal craniano não é comum recorrermos contra as ilusões que nos consolam.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

a tolice é um direito inato.



SOBE!


                                                       despencamos: 

                                              triste

                                 monossilábico

                         ao

                versos

     eternos

dos                                                                            
   

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Ministério da saúde:


- O senhor ministro sabe ao menos como ter certeza se uma pessoa está morta?

- Moleza! É só dar mais de 80 tiros.


você já achou uma pessoa inteligente a ponto dela aprender contigo?

COMO VINHO

trata sua opinião como vinho... acha que o fato dela ser velha a faz melhor! pois eu acho que lhe falta a rolha.

REBELDE NÃO ACEITA

- A beleza física é superficial, uma casca...

- A beleza física é mais honesta, muda na nossa frente por circunstâncias contempláveis e comuns a todos... A beleza que há por dentro muda... sabe-se lá, até vestindo, por exemplo, o discurso pronto que sua fala iniciou aí! Ela se fantasia, possui um tempo particular, recusa-se a mudar quando deveria, finge uma permanência, adere ao popular... É sempre antinatural ao manter-se imperecível no invólucro gente.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

A PONTE - LIVRO DOS CUIDADOS COM O AMOR

Se entre nós e aquilo que amamos vemos necessariamente uma ponte, a ação sábia seria valorizarmos a ponte tanto ou mais que o objeto amado, pois sem ela você não saberá mais quando ainda é amor ou falta de alternativa. O caso é que amando somos muito afoitos e pouco sábios e não raras vezes a exigência do amor é que queimemos a ponte.

Um ser vivo muda de estratégia milhares de vezes antes de ser abandonado por uma intenção.

terça-feira, 30 de junho de 2020

SISTEMA CONTAMINADO

Cheio de improváveis capítulos: ministros que rezam o oposto do princípio ministerial... Pessoas contra vacina, milícias, investigações embargadas, desviadas de um pra outro tribunal... Pandemia mundial! Posturas incivis apregoadas pelo governo federal. Católicos contra o papa e a favor da Universal. Ciência num revival da idade das trevas ou medieval. Conspirações absurdas engendradas, religião legislacional... Roteiro não anda. Novela com vírus baixada na vida real. Propõem-se as armas a controle remoto que mude o canal.  

segunda-feira, 29 de junho de 2020

ESTATAL

a guerra
é ele quem faz
pra que lutemos
pela paz
 
se nos desse
trégua
lutaríamos
por mais.

domingo, 28 de junho de 2020

o bem segue determinadas vias em nosso organismo, em nossa alma, que por vezes ganha de nosso corpo um gesto de arroto, um tiro, um  choro... o bem sai meio torto de ser producente, sai por vezes avesso. é um tremendo mal pros outros! é pouco consolo, é desesperança. sim, o bem! o bem em sua origem, na pequena intenção de flor... antes até de chegar na barriga. o bem primeiro. a vontade de prazer trafega por nós e quando sai - meu deus! - é soco.

sábado, 27 de junho de 2020



























a explicação rouba da coisa sua aptidão pra poesia.
quem verá tantos retratos
de nós tirados?
quem restará pra sentir saudade
ou -se realizado por nosso fim?


que flor das que cuido agora
estará aqui sem sentido
depois de mim?


amando?
quem sabe o sol!
nas cores que traduz.
quem ouvirá as palavras reposicionadas
tantas
e as que bagunçadas são rastros de nós?
de que adianta?
de que adianta?


vou acabar me aborredendo com o deslumbre
vou acabar escarnecendo todo encanto
vou me tornar contra tudo que se faz às multidões

outras visões, sensações, palavras andando com palavras desconhecidas. palavras ao lado de palavras estranhas. quando doido, tipo calçada ou praça de uma cidade de letras. letras com janelas pras outras
nos vemos e andamos nessas ruas poucas, alfabetizadas.

TODAS AS BOMBAS SÃO CONTRA MIM.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

QUEM SAI PRA SER MUDADO?

esse negócio de todos saírem pra mudar o outro, como se fossem corrigi-lo, como se já estivessem certos, como se possuíssem a fórmula, como se ela fosse única... ou seja, indispostos a mudar... isto acaba machucando.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Cavalo dado no dente dos outros tanto bate até que é refresco.

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Traje

O uniforme protege o homem, muito da sujeira fica na vestimenta: Acredita-se que saindo do governo para esfera privada, por exemplo, o homem se torne diferente, ou se o homem colocar um terno e uma Bíblia sob o braço, ou se o homem vestir uma farda, ou se à moda antiga... Assim, não só se enganam, salvando seu orgulho e  a esperança de que o que haja de infame ou nobre pertença a uma categoria e não à humanidade em geral. Contudo, ao se vestir com demasiada fé e orgulho, um homem tá sempre se despindo de muita vergonha. Protegida de enxergar o homem nu, a sociedade pode fantasiar consolos e esperanças sem ter de encará-lo. 

segunda-feira, 22 de junho de 2020

sei que todas as vezes que me desvencilho dos assuntos me sinto melhor. me sinto bem. tenho comemorado nos banheiros. sinto falta dos cigarros, eram sempre pretextos para me retirar das rodas de conversa.

terça-feira, 16 de junho de 2020

segunda-feira, 15 de junho de 2020

A bondade ou a maldade são só coadjuvantes moralistas das vontades.

Este monstro que carrego. Este saber-me por dentro. Não sou todo ele. Há um profundo desacordo. Uma profunda rinha entre nós, por Deus incitada. E agora eu nem sei quem aqui lhes fala.

competência

A gente fica débil e não consegue abrir uma torneira... Nós infartamos dentro da casa que sempre nos protegeu. Durante o banho que nos prepara pro sono mais digno; ou seja, onde queríamos privacidade, violenta-nos o fim. A gente esquece nossos filhos, a gente fica débil: olhos boiando em vão no meio de nosso semblante insosso. Lá fora todos choram, lá fora: dentro da vida. São ainda capazes disto!

Bom sono!



O miserável é um sentimento ruim em todos. No entanto, todos nós dormimos mais ou menos tranquilos. Cada qual com seu consolo, uns sonham que eles deixarão de ser miseráveis; outros defendem a justiça disto. E eu?... Bem, eu sou um miserável.

nem sempre de um eu morto herdo ser melhor

esse papo de que tudo passa
para minimizar o "tudo" que for
esquece sempre que nem sempre a gente fica
e esquece que importa "como a gente fica"

esse papo ficou tão sem graça
tentando evitar o interlocutor
prefiro encarar a dor a sua dica
e o hálito de auto-ajuda que você replica


e ignora também que tem a coisa que passa 
e leva a gente na frente 
antes de terminar de passar

se tudo passa
é exatamente o que se passa que importa.


quarta-feira, 10 de junho de 2020

Desbotada


Fazer versos pra ter o que não quero longe de mim. Cartas não escritas que contam a deus da falta de destinatários, silêncio que confessa o pouco das palavras. A rua por que não vou, a rua que deixou de prometer qualquer lugar, impotente pra um sentido, agora, quando muito, faz barulho.


Procurei uma cidade pequena como uma camisola mais confortável. Gostaria que ela fosse menor, menor, menor... até que parecesse justo ficar em casa e que o mundo todo fosse um meu vestido velho que eu sequer rodasse na sala. Exausto de festas, desapegado das cores, estampas que esmaecidas remedam flores mortas. No meio do rosto os olhos e a boca, esquecidos brinquedos de uma alegria que foi comprar bebidas e nunca mais voltou sóbria e pra ficar.

O áudio de um vídeo faz-me o bem no instante que se confunde com uma reunião de afetos perdidos... É assim ou sua história se repete sem fazer parte da minha, sem me levar, me deixa na sala cheia de inutensílios. Na tela as vivências anunciadas não atraem meus sentidos, dispensam minhas pernas e meu coração, não me prometem nada. As paisagens insossas, todas!

Ter em casa cada vez menos intensas e duradouras as sensações que restam, como velhas revistas folheadas com descaso na sala de espera do fim. 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

segunda-feira, 1 de junho de 2020

EM VEZ DE NOVELA




recebi teu recado 

posto sob outras palavras


descuidaste ali em que era ainda gente


mas tudo bem!

um homem é sempre digno

de ser posto em suspeita...


somos apenas afluentes de um rio que não importa

pois... se há alguma razão nisto tudo,
cadê minha parcela, 

meu pequeno motivo?


porque eu estou aqui à toa!

se faço algo, é meio pra contrariar

a deus:

traje a rigor do acaso

na festa dos homens.



culpa Dele

ter me feito homem em vez de novela





quinta-feira, 28 de maio de 2020

PRIMEIRA COMUNHÃO




em vez de um dogma
defenda o coração,
que não discute
a vida ter razão.

faça esta primeira comunhão:
una o racional à emoção.

pois nem sempre o contra quer se opor:
some a minha à sua solidão
diminuirá a nossa dor.
somos parte de uma solução.

todo mundo teima em se dispor
em dilema, em ódio-amor...
vamos colidir na contramão!
e a vida vale mais que opinião.

em vez de um dogma
defenda o coração,
que não discute
a vida ter razão.

essa é a minha religião:
religarmos uma só nação.

se só dois lados a se contrapor,
vamos sem retrovisor...
nem a quadrada chega essa visão.
deve haver uma bifurcação.
ou vamos colidir na contramão!
e a vida vale mais que opinião.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Meu único dogma é o coração.

...E A VIDA NÃO PEDE DESCULPAS.

Cheguei numa situação, não sei se numa idade, em que um velho na rua quase me leva na lentidão de seus passos, me assume sua viuvez, sua família morta, sua pele me enruga, e o tempo se torna flácido ao nosso redor. Ele não é totalmente alheio, vamos atolados, trôpegos. E numa esquina me assusto sem nossa bengala, chão de qual me resgata um cão, rabo escondido no meio de nossas pernas bambas, expondo de quatro nosso receio. Quantos pontapés para chegarmos, bichos, até esse calamitoso encontro?

De repente, do cão me lambe a fome no olhar de um menino encardido, criança que devo, frio, continuar abandonando sem casaco até um esquecimento que me entorne longe desse inverno, que me ponha a dormir quase digno na cama quente exclusiva. É tudo tão fora do meu controle, que às vezes até me toma uma coragem de arrogar-me qualquer coisa que seja.

Mas as ruas me entregam mísero em casa. Alguma vergonha junta-se ao medo rotineiro na porta que, não me exilando do país, degreda "sermos nós" ao se fechar. Desculpo-me conscienciosamente que o mundo não é meu. Sou íntegro a lástima desta hostilidade nacional com a alteridade... O mundo é uma moldura de faltas! A decência aqui não faz mais que "se lavar" dos outros. 

Precisamos tanto, que viver assim chega a ser necessidade de um Deus que não veio. Mas nem decrépitos, nem cães, nem abandonados,  achamos o ato infame que nos conforte, nos faça merecer este odioso lugar. Nem decrépitos, nem cães, nem abandonados, somos mais miseráveis do que brasileiros.

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terça-feira, 26 de maio de 2020

TRECHO DE "O IDIOMA DA CARNE" (E-book publicado em 2014, escrito anos anteriores)



Assisto a um documentário sobre ditadura. Depois desço. Como são horríveis e tristes e sempre serão todas aquelas torturas! Como esse sangue não escoa! E a paz de agora? Sim, em contraste, até parece uma imensa paz sentar na esquina e tomar uma fresca. A gente diz, “Vai tudo bem!”. Hein?! Tocar um samba em coro. Mas de repente, percebemos num discurso exaltado e aplaudido que é horrível ainda, pois aqui e ali se vê claramente que as pessoas ainda não são, talvez nunca sejam, a maioria delas, mais inteligentes. Elas cultivam certezas, convicções perigosas, deixam-se levar por discursos aparentemente absolutos que são superficiais e que refutariam facilmente se parassem um pouco. Ora, têm preguiça de ir mais longe, de questionar, é uma desonra duvidar de si mesmo e aí se compromete o conhecimento! É a tevê, o pastor, o autoajuda, todos gritando repetidas vezes com coloridas ilustrações: “Acredite em si mesmo! Acredite em si mesmo!”. A dúvida se afigura horrorosa, repulsiva! Enfim, todos esses rapazes, nossos amigos, senhores dóceis de família decente, estão sujeitos a protagonizar um novo holocausto, basta lhes entregarmos algumas certezas que lhes sejam convenientes. Fico tentando entender como um militar espanca tranquilamente a mãe de outro, enquanto o outro militar espanca a sua mãe, como um homem pode ser antes militar que homem. É triste ver como é parca a abstração do povo, como são cegos em sua fúria. Demonstram em suas fraquezas, em seu racismo, seu ódio e pouca compreensão, em sua sede de vingança, em seu desrespeito pelo próximo, demonstram as mesmas condições para praticar velhas e condenadas crueldades. Torço para estar enganado. Ora, mesmo com toda lição... Nunca aprenderão! Não adianta a história quando nossa capacidade de leitura continua limitada, tola, partidarista, preconcebida! Há tolos de todos os tamanhos, doutores, leitores de Dostoiévski, Nietzsche, Kafka, simpáticos garis e pacatos feirantes... Ainda continuam tolos, extremamente confusos, medrosos e mesquinhos. Porque não é o que leem da vida, mas como lhes resta ler, como lhes é empurrado e o pouco que movimentam os teores na cabeça, quase nunca repensam, adoram assuntos encerrados. São feitos mesmo para obedecer, para admirar a obediência cega como honra, patriotismo, ou qualquer coisa que seja virtude em seu tempo. Nenhuma questão e sim pontos finais afirmativos, sentenciosos! Talvez não haja jeito! Confiam demais em si mesmos e em suas opiniões ferrenhas. Friamente matariam sob a égide do que acreditam, é como sempre tem sido! Consciências tranquilas! Velhos torturadores que chegam em casa e dão um beijinho de boa noite em seus filhinhos. Consciências tranquilas!

sábado, 23 de maio de 2020

Pois sim, o dinheiro é um grande artesão.
Torneia muito bem para mal os caracteres maleáveis. 

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Os iguais não querem outra coisa senão se diferenciarem.

A cultura é a sua vida. Ela chega em você em todo canto. Sem tecnologia, na fala do seu filho, na simpatia de seu avô, na ordem de seu pai...Você é fruto de uma cultura.

A partir dela você elege a verdade, e a partir de agora você sabe disto.

E deveria suspeitar de si mesmo. Sobretudo de se achar tão independente. Sobretudo de se achar tão "si mesmo".

Aquém-do-homem

Agora que vai se desvelando o romantismo legislacional que dizia  que nossa vida importava.... Agora que valemos tanto quanto tomates que sobram, nosso grande  desafio é a adaptação exigida por toda mutação de espécie.

Estamos indo bem!  Já sobrevivemos a uma desumanização bastante nítida,  sem termos uma história, isolados numa compreensão crassa da realidade, numa condição de imundície multidimensional. O lixo que nos tornamos, jogados fora, é ainda o grande desafio.

Já consumimos uma cultura decadente de massa. Mal precisamos de palavra. Nossa alimentação vem bastante intoxicada,  nossa diversão é basicamente alcoólica... E a alegria quando não uma euforia autorizada, pontual, é fingir alegria, anunciar um médio sucesso. Nossa tristeza é medicada...

Quem diria que o além-homem era "aquém" na verdade? O consumista...  O homem consumido pelo homem e posto fora.

domingo, 17 de maio de 2020

A PAZ ATROZ

a hipocrisia
essa sabedoria
de enviar somente a fala
pr'uma ousadia a que
se a gente fosse...
voltasse calado à bala.

a voz...
algo de nós desencarnado
pode ter a valentia
e projetar-nos como heróis
num longínquo outro lado.

se no concreto posso pouco
e me flagro tolo,
assino o contrato:
"pra não ficar louco
se renda a consolos
o campo abstrato".

pois este sistema nosso algoz
bem e mal faz bem misturados
que não podemos matá-lo, nós,
sem sermos juntos assassinados.
e só nos resta a paz atroz
dos quem se aceitam derrotados:

a moça a quem você liga
totalmente indignada
tem a identidade alugada
a uma sociedade anônima

e vocês duas na briga...
sócias - "vida limitada"
"o que fazer, minha amiga?
em quem desconto a porrada?"

se para encher a barriga
a gente paga de otário:
ou passa por vagabundo,
ou por um pouco salário,
deve aos problemas do mundo
fazer-se destinatário.

sábado, 16 de maio de 2020

- o que você faz de bom?

- eu tenho sentido!
não tenho mais muita tristeza alongada. sabe? que predomine... acho que nenhuma leitura da vida perdura. aliás, um sentimento tem muita dificuldade de achar duração para que eu o seja. já se desfez o cume de onde eu via a divisão entre tristeza e alegria de maneira tão nítida que mais parecia fabricação do que natureza. uma coisa é quase outra. têm-me tristeza e alegria como café e leite têm um mesmo copo. às vezes média; outras, pingado. a vida me persiste e me serve em muitos  entre o quente e gelado.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

GÊNESE DIVINA

O que um homem pode me dar é produto vencido.
A pior mendicância é a de fé!
Pois só reclama crença o débil de sentido.

Em lugar de Diógenes,
aproveito a sombra de Alexandre
pra evitar assunto.
E gozo em seguida o sol de sua ausência.
A plenitude só deriva de acordar com o acontecido.

Não me exporto para promessas nem sonhos...

Quando procurei irmandade para minhas imoralidades entre os homens,
encontrei-os bem vestidos...
Achei na sinceridade aquilo que me distinguia, se seu fruto não encontrando estação dá-se amargo, então só me entende o vício.
O mundo dos homens não passa de um anúncio de culpas,
um cinema a dimensionar a enorme impotência de ser indivíduo.
O tempo todo a requisitar-me imperioso, iluminado e sonoro para tudo a que sou robustamente incapaz.


Para mim já não há "nós",
exausto e nauseado da procura do comum, resigno-me ao singular.


Se me estendo no branco silencioso, não é à toa... pois sim!
Se escrevo, é que só no incógnito ouso supor compreensão.
E se ainda há conversas pra além de frivolidades, é que não ostento suficiente pudor de estar enganado. Sei, aliás, como quem vem com os pés machucados de realidades pedregosas, da necessidade de se folgar em ilusões.

Na constante impossibilidade do par, adquiriu-me este orgulho pelo ímpar, converteu-me a supremacia do indivisível.

As conversas são apenas palavras que  inaptas ao poema não se fazem questão e se atiram subversivas.
Errado diagnóstico: meus versos não são sintomas de conversas deficientes, mas o flagrante das debilidades românticas.
Damos no silêncio - como rio ao mar -  por qualquer via - o poema ou o outro. Um destinatário ou interlocutor é apenas a parte enfadonha na natureza do curso.

Não tenho nenhum conselho...
Se és modificável, vindo do barro, o acaso  te saiba o artesanato!
Quanto a mim, que não pretendo nem mesmo a forma que assumo, de ti não farei nem esboço.
Refresca-te em meu despropósito!
Não me apetece, por senso estético ou por qualquer outro, conduzir-te ou te adornar.
O homem é, desde mim, uma matéria-prima do nada.
Eis o destino, que só de "quando" faz mistério.

Não faço do outro nenhum ideal: plateia ou promotor, para ter por ele ainda algum interesse.
Não sou mais criança a tal ponto.

Também não vim salvar nada do que é possivel.
Nem etiquetar o mundo com afetados moralismos. Reparar-lhe indecências?! Indecência é somar ao barulho.
Se respondo "bom dia!" é para que não me criem caso e não se atrevam a comigo mesmo, em minha presença, me fazerem assunto.

Insuficiente para ambos, dispenso o elogio e a crítica com "muito obrigado!", palavras mágicas não fariam melhor, pois mais útil que mover pedras é encerrar assuntos.
Quando digo o inevitável, tal um estertor, que me importam enquadramentos estéticos alheios, contemporâneos ou futuros?
É o que posso, o que devo... De confrontá-los por este ou aquele adjetivo, renuncio.

O verso é a folga que tiro de jogar-me fora em colóquios para que me jogue fora com elegância.
Não me desperdiço, porque não sou um funcionário...
Quem se descobre sem função e sem motivos ideológicos
não sofre tempo perdido.

Minha poesia é nula como a oração de um ateu:
mais vale pelo tempo a passar que enfeita, pondo-lhe palavras como se rabiolas em pipas que não acharão meninos...
Mais vale dissimular o vazio, do que carregar a um altar qualquer a tola esperança de ser ouvido.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

sexta-feira, 8 de maio de 2020

No meio do caminho

O cérebro é a pedra 
que tem no meio 
do caminho da poesia 
de Carlos.

Víscera-palavra!
Víscera-palavra!

segunda-feira, 4 de maio de 2020

FRACASSO DE BILHETERIA

A minha vida é um espetáculo feito para deuses, que não estão na plateia.

Confesso:
Se eu tivesse que adquirir o ingresso, também não teria vindo.

ALEGRIA POSSÍVEL

A alegria que posso, embora nem sempre ganhe nítidos dentes, está no meu dia, no verso, na rua molhada de chuva, no riso do outro lado da mesa, na xícara... Entre uma geladeira e um fogão, ficará pronta em alguns minutos, depois de descascar o alho. Chuveiro frio, chuveiro quente... Minha alegria tem um suspiro de recheio, flor da distração vingando neste chão de tanto esquecido. Por sorte vigora também em algumas redundâncias cotidianas ainda, à luz de uma janela, ainda que dê vistas para nada...

Tenho preguiça de me imaginar nascido pra uma felicidade lá no fim da estrada,  milhas e milhas do tempo, décadas depois... Não vim para salas-de-espera. Desço dos sonhos antes das decepções finais. Não sou para merecer, meu mundo gira entre fatalidade e dádiva. Mais me deixo do que me carrego.

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Aquele que sobra sente falta

domingo, 26 de abril de 2020

DESPERDÍCIO

C9
invisto meu tempo
                C/Bb
tentando salvar
                   F9
bonecos de corda
                        Fm6
que  teimam pular
                   C9
de um precipício
                   C/Bb
insisto em gritar
                        F9
mas ninguém acorda,
                      Fm6 
pois vive a tocar,
                      C9
a horda do hospício,
                     C/Bb
canções de ninar
                  F9/6
o sono dos justos
                    Fm6
e vai governar...
                     C9
e ainda me assusto
                   C/Bb
com este lugar.
                   F9
um país de moucos
                Fm6
e sigo a cantar
                 C9
para  a bailarina
                    C/Bb
na caixa, que dança...
                   F9
eu devo estar louco
                    Fm6
eu sou o seu par.
                                C
bem vindo ao meu vício:
 F    Fm6   C               
me desperdiçar

sábado, 25 de abril de 2020

Fiel testemunha da vida, me acham desgostoso.

Dependurados

assim como o macaco está numa árvore,
um homem está na história.

um macaco procura uma fruta,
um homem procura sentido.

o macaco pula de galho em galho
um homem escorrega de parágrafo em parágrafo.

os dois perdendo o ritmo
levam um tombo,
caem no ponto final.

estou tanto tempo dentro de casa...

...que 
à porta da rua 
tateio a parede por um


 interruptor
pra apagar o Sol.

essa minha fome de palavras não achou ouvidos

nada é, e tudo é visto!

e se antes do fim as coisas forem perdendo o gosto até o insosso absoluto

e se o fim parecer demorar
e a vida, sua sala de espera?

mas por glória nada é, e tudo é visto!


já não me sinto tão mal com que sou
a ponto de amar o que projeto

SOANDO POUCO

sou um pobre infeliz

mas eles não notam ou eu
não noto que fingem

eles não querem notar ninguém...
eles admiram de mesmo tanto quanto
precisam escapar de si


eu sou um pobre infeliz
não saber é algo muito a minha frente
 e muito mais forte que eu!

e nada nos soa mais lindo
que um homem se achando pouco

eu moro muito longe de mim

não penso em como melhorar a vida senão não ter de fazer o que não se quer

desde um rosto entregue no serviço
a um pano com rodo na casa,
um sorriso no cativeiro...

nada!
é o fim do caminho...
que esses versos dão
e tudo dará...
mas são pensamentos só.
pensamentos que se dizem sós.

e vão. vãos! pensamentos que se dizem.

em compensação...
aliás, "em compensação" nada!

em única saída
o nada em tudo dará.


***
por falta de avô
hoje fiz uma poesia com a voz
de dorival caymmi. por falta de escolher... por excesso das coisas sempre terem sido acontecidas...


nem sempre escrevo o que falo, às vezes escrevo o que fala um personagem que escreve imaginando um personagem que escrevo. eu moro muito longe de mim!

eu moro tão longe de mim, que até saudades sinto sem sair do lugar...


eu tenho vontade das coisas em mim...
e por vezes eu deixo elas serem mais essas vontades... até arderem, coçarem qualquer coisa que ache minha alma!

BAIXO?

não sei se a música está madura
ou se são meus ouvidos
pueris

ou se com minhas dores não tenho altura
de alcançar melodias
febris

se eu não me lembrasse,
que coisa melhor faria em seguida?

será, deus, toda esta minha vida?


já que pergunto, por que não a deus, ainda que ateu?
pois em que eu já não acredito mesmo
são nas respostas.

A CRISE

a crise não é individual

serão diretrizes universais

fora das pautas dos comensais

meus corriqueiros, próximos, católicos...

amigos que esperam minha fé em deus

e este ateu escondendo a voz

e essa feira vendendo olhares

e esses casais reféns da moral

e esses enganos formando pares

e os remédios postergando a morte

são eufemismos, são anti-ácidos,

pra paladares de alguma sorte







sexta-feira, 24 de abril de 2020

e nós, somos vírus de quem?

e nós, somos vírus de quem?
e quem se previne de nós?
para quem nós seremos letais?
existirá cura pra nós?

erguemos a nosso razão!
que vácuo virá logo após?

erguemos a nossa razão
baixando nosso tom de voz.

que falta seremos de quem?
que mágoa cosemos a sós?













quarta-feira, 22 de abril de 2020

VELHA MÃE

corta esse cabelo
vai procurar emprego
e abaixa volume do som.

para com esse rock!
mamãe já deu o toque,
é só você seguir o tom!

já estou cansada
de avisar...

pensa no futuro,
vai estudar!

olha as amizades!
vê se faz faculdade
e larga deste violão!

agora tem saudade,
diz da terceira idade:
"antigamente é que era bom!"

olha a madrugada!
vai esfriar!

veste esse casaco
pra não gripar!

vê se não volta tarde
pra descansar.
se demorar demais
vou te buscar!
responde que te ensino
a me respeitar!

que vestido é esse?
se o seu pai te visse...
menina a cor desse batom!

agora tem saudade,
diz da terceira idade:
"antigamente é que era bom!"

já estou cansada
de avisar...

arranjo um bom partido
pra te casar!

vê se não volta tarde
pra descansar!
se demorar demais
vou te buscar!
responde que te ensino
a me respeitar!


já estou cansada
de avisar...

vocês nunca me escutam...
vou te contar!

me diz se isso hora
de se chegar!

vocês estão querendo
é me matar!




terça-feira, 21 de abril de 2020

POR LEMBRAR

olho pro passado como jeito de me entender.
e hoje como soa esquisito o qu'eu queria ser!
tive sonhos que às vezes me assustam.
quantos planos rasgando quem sou...
como é que aquela criança iria saber?

sou mais do que daria no uniforme que ela quis caber
tiro a sua farda apertada sem me arrepender
para vir me alistar nesses versos
para vida vir voar na canção
sou além do que uma infância podia prever

por lembrar....
escuto alguém me perguntar
"o que você quer se tornar
quando você crescer?"

por lembrar...
então olhando lá pra trás
que eu poderia aprender mais
do que me desfazer?

olho pro passado como jeito de me entender.
e hoje como soa esquisito o qu'eu queria ser!
tive sonhos que às vezes me assustam.
quantos planos rasgando quem sou...
como é que aquela criança iria saber?

por lembrar....
escuto alguém me perguntar
"o que você quer se tornar
quando você crescer?"

por lembrar...
então olhando lá pra trás
que eu poderia aprender mais
do que me desfazer?

sexta-feira, 17 de abril de 2020

ACONSELHADO DESCASO

mais infame que o sofrimento
a que uma ignorância da azo,
e o dela vem a vista;
o seu, a prazo,
é do ignaro se condoer.
não faça caso!
deixa ser!

deixe que uma cabeça
sem uso padeça
nada mais justo que isto 
podemos lhe conceder:
nem parafuso!
nem saber!

se por humanidade pensa por elas,
faz igual de si mesmo esquecer.
pois se pensa mesmo, logo desvela
que mal ou nunca pensaram em você.








Oração dos miseráveis


Quisera ter a realidade que tem a tristeza
E uma rígida frieza que não queira cantar ais.
Invés dessa existência vã burlesca sempre parca para a paz.

Sonhei fazer o que não se desfizesse
como todos os mortais.
Mas acordei, e mesmo o sonho se desfez
me tomou a lucidez de quem se flagra um incapaz.
Pretendo  só perder minha cabeça, de maneira que eu me esqueça
e não me lembre nunca mais.

De seres conscientes da inevitável sorte,
desconfio  de seus modos cordiais.
Quem sente a todo instante a própria morte
Apenas por maneiras faz-se mudo
Contendo diante de tudo o  "tanto faz!"

E sem receio de qualquer heresia,
Serei desta poesia doravante seu cartaz.
Pois nada de aviltante que a deus se diga
Faz mais que a miséria dessa vida
que engendra satanás.

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quinta-feira, 16 de abril de 2020


diz uma fábula que o Deus dos homens virou-se para um deus amigo antes de pôr em prática sua criação,  e lhe questionou a respeito.

a que o amigo respondeu que o homem era simplesmente terrível.

então o Deus do homem rindo lhe disse:

-  pois sim! é que você, amigo, como Deus, vê o homem estático e de verdade, mas ele ainda ganhará a palavra, e evoluira deixando progressivamente de ser verdadeiro. até tal ponto que nem mesmo eu lembrarei de tê-lo feito.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

filosofia sensação

ei, irmão!
esquece esta gramática!
e essas questões...
vem viver de forma prática.
eu não sei de onde viemos, pra onde vamos ou mesmo se somos nós...
eis uma redundância de milênios que exaspera desde o tom da voz.

ei irmão, equaliza numa outra sintonia
de viver a luz do dia...
mesmo a filosofia se entregou à sensação.
e além do mais a que alegria te encaminha
essa disputa tão voraz por ter razão?

ei, irmão.
não temos pouco
se escapamos da escravidão
desses loucos que precisam demais.
e não têm paz...
se pertos do fim ou não.

ei, irmão!
não sei se somos semelhantes
em que e quão!
mas mesmo que muito distantes
devemos ter alguma comunhão:
um país, o universo, um verso,
quem sabe um tristeza,
quem me dera esta canção!
então esquece essa gente fanática 
que toma a vida por problema
e solúvel em matemática...





quarta-feira, 1 de abril de 2020

PALAVRA ÁGUA

essa gente
com palavras rígidas pesadas
postas em linhas empilhadas
pretende chegar ao céu
de que outros fingem descer.

essa gente
com opiniões ferrenhas enferrujadas
ergue retrógradas moradas
para que Deus os venha ver
encher de dinheiro um chapéu
e voltar ao léu pra viver.

eu bebo a palavra água
de fluxo transparente 
que acha vão nas pedras
por onde se faz corrente
e rio a caminho do mar 
não digo nada!
hoje doce, amanhã salgada...
água mole...
deixa acontecer!

esse povo crente ignora
que a palavra que cura... 
...evapora.
não pode ser pregada
como palavra dura
que quer permanecer.

por mais que eles clamem
e roguem genuflexos
e derramem em plena loucura
o desespero dos léxicos
para aliviar as mágoas,
nunca chegam às alturas
como a palavra água:

por mais que louvem 
são sempre almas rasas
e inaptas ao complexo
de ver pairar uma nuvem
por sobre suas casas sem chão.

esses que mentem 
com palavras que pesam
quedam sempre perplexos:
anjos por asas não rezam -
e por isso odeiam a razão.