segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Pepe

Pareces um personagem da minha história, essa voz que me chega de um peregrino,  aventureiro... me contando da vida que não tenho, de hipóteses que não me quiseram, não me pegaram, não puderam. Narras um pouco a perda que me sinto... Tua voz nina um sujeito, e outro desperta em mim. Mande notícias, sim! Das coisas, das travessias, dos caminhos de sempre! Das chuvas que te encharcarem de surpresa, das moças que compõem novas rotas, das mãos que se estendem, dos sons que te cercam, dos sonhos que te levem pra outros enredos, quero  acompanhar-te com minhas ideias, Pepe. Sou aqui um silêncio que vira parágrafos de livros que não dou conta de escrever. Honduras, Costa Rica, Guatemala... Nomes bonitos que você atravessa! Te cuida, meu amigo! Te cuida! Sorte pra nossas histórias, beleza pra nossos sentidos. As paisagens, as cidades, os países vários ficam pra trás, tardas mais atravessar meu coração.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

ANA SE FOI

ana foi embora...
pensei em meu hálito,
em exercícios,
em melhorar...
talvez em trabalhar mais!

mas...
ana tinha meu nome tão fácil numa tela portátil,
bastava dizer "oi!",
eu responderia!
contudo, se foi.

não foi maior o silêncio
porque seu nome desceu ligeiro a barra de rolagem,
e ana sumiu
sem precisar de esquina,
da minha cabeça.

sem nos podermos clicar

éramos nada!
(com dedos leves se faz alguém feliz:
no clit e no clique)

"ana se foi!" - nunca gritei.
só agora, por efeito poético!
juro!
quase não desperto
que havia uma poesia para este acontecimento sutil


ana se foi!
ocorreu-me algumas vezes em ratificação:
estou ficando velho.

ana se foi!
mas nem se minha lista fosse em ordem alfabética
teríamos casado

fez contatos para procurar drogas
mas na oportunidade nem disfarçou que eu fosse de outra forma interessante
além de traficante!
o espelho também não dizia claramente nada a meu favor.
então raspei o bigode,
e me preocupei com o fim do perfume no frasco,
e com o dinheiro para o perfume,
e fui trabalhar,

e encontrei outras como encontrei ana,
e fiz cálculos e trabalhei porque...
ana se foi!

alguma vez disse "oi!" para ana
para teimar que o mundo não era assim

como o sabíamos no silêncio,
mas como o inventávamos falando:
"gostei demais de você!";
"adoro fazer novas amizades!"

no esquecimento dos outros dias,
quando lembrava esporadicamente,
sabia que não a queria muito.
então tentei evitar que o mundo fosse, através de mim, 

tão duro como tem sido comigo:

disse "oi!" para ana com certa lamentação introspectiva 
de saber dizê-lo com arte.
talvez ela tenha pensado, 
lembrando um amor que não liga:
"mas o que é ruim não me esquece!"

ana se foi!
e como eu, tente mentir 
um mundo sensível para todos nós!
mas é tarde, ana:
vimos os bastidores:
não gostamos de nós!
deu certo o nosso lance...
cer-ti-nho!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

TEMPO LADEIRA


calma, meu peito!
não é hora de ser feliz.
deixa pra amanhã que 
o tempo está em declive
e escapou uma roda do rolimã
da esperança.
os foliões no bloco que desce a ladeira
distraem-se e esquecem cantando
que viver é a causa da morte
e não tem cura.
só a loucura não tem receio!
chega quarta-feira
e mesmo o infinito se acaba no meio.
calma, meu louco!
viemos pra pouco,
e o temos feito tão bem
que não é visível o efeito
e a este respeito não se diz nada
...a ninguém.
filhos não fizemos.
exemplo de quem seremos?
deixemos a humanidade num orfanato,
senão na porta de alguém e...
...pernas pra que te quero!
"amém!"
não nos exasperemos na compaixão
por uma autolimpante humanidade.
calma, ignorante!
o tempo não tem cabelos,
não há como agarrar a vida!
por maior que seja o zelo
inevitável um dia se naufraga
num instante tempestuoso
no mar aberto do acaso.
e deus e o diabo estão, um de cada lado,
passando um arrastão no raso
de um lago poluído.
calma, subnutrido!
ninguém a seduzir, ninguém é falta,
nenhum país a se conquistar.
e o amor não enche barriga!
nada a persuadir!
que contrário queremos aqui?
alegria e tristeza não se convertem,
são coisas que se esquecem
uma na outra.
calma, beleza rota!
nem o Sol tem sido visto e
deixa disso!
a nossa morte não é feito a de cristo
que é só o intervalo de um serviço.
a menina se assustou. terminou de abrir o menino e não tinha nada igual dentro de sua cabeça. a moça se assustou, foi abrir o rapaz e tinha um animal dentro dele. a mulher desistiu, abriu um homem, era mole na carne, serviria bem para carnívoros, o desejo vazou gosmento, a mesma sujeira que vinha em forma de hálito tomando a atmosfera do mundo. a velha se torna viúva e - tenha recebido abraços de pêsames - sente que só perdeu o tempo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Me deixa descobrir o seu erro, a sua falha. Alguma infâmia sua, por favor! Dê-me mais tempo! Não caiba tão linda assim nas vestes de uma saciedade incompleta. A minha imaginação rouba a seu favor, parece adepta cega de um partido chamado "você"... Deixa-me humanizá-la, acabar com esta luz própria, seja ao menos Lua ou, nua, acenda a luz de um quarto fora de minha cabeça.
Pensamento deixou a pia cheia, não lavou a roupa, não consertou o que estragado havia pela casa, perdeu a paciência entre 4 parafusos... Pensamento perdeu a chave de fenda, a chave do carro, a chave de rir, a caneta, e o telefone do amor que a caneta riscara em minhas mãos. Pensamento tomou lugar de lembrança importante sem pedir licença, lugar da fala do ator final de cena, roubou a oportunidade que era do corpo e do movimento. pediu arrego pra noite que ainda vinha de longe, em pleno dia... e não me trouxe um copo d'água. Pensamento ficou na cama, trancado no quarto, sem mãos de abrir a porta, abrir a janela ou acender a luz. dono da verdade, Pensamento não suspeita que seu largo passeio de alma sofrida se faz na calçada de delírios colorida. Pensamento não sabe tocar um instrumento, nem cantar, e acha que vai salvar o mundo... e se faz palavra do que sinto, é como contasse da beleza aromática, táctil, audível, psicológica, colorida, angular de uma mulher, apenas uma sombra chapada na superfície irregular da percepção. Pensamento pretensioso, quer fazer de tudo algo comunicável... Aah Pensamento, você não pega nem sol, o melhor que faz, se não vira esquecimento, é poesia.

FRIO

este "frio" que sinto, que sabe-sente a indiferença do universo, e neste sentir se fundamente o desejo de calor, que quer de alguma maneira abraçar enquanto há vida... este sentimento, sabido que sensíveis somos apenas nós, nisto estamos sós, não pode ser sentido por quem acredita e se aquece de um deus que é um universo, que interage por nós contra ou a favor. quem assim contempla a vida, não sentirá este mesmo "frio", não precisa e nem pretende acender a mesma chama que eu, talvez queira até mesmo apagá-la. e se ela está acesa, queira cozinhar um ódio.