sábado, 30 de outubro de 2021

Meu engano se reduziu ao ponto em que não espero mais entendimentos, então faço versos em vez me dar às conversas. E é como ser um ateu que ora, pois não é questão de crer em Deus, mas de ter palavras sem destinatários ou interlocutores. Jogá-las como um bilboquê, mexê-las como um objeto a que se entrega mãos inúteis distraídas. Perdeu-me a expectativa-eu, que era a que projetava o outro.

gosto de pouco.
ando cansado de muito.
não passo bem com estes séquitos.
melhor assim que ser mouco?

e este bando de louco
errando desde o intuito...
trazem os superlativos
como máscara 
para o sentimento embotado.

eu ando tanto amolado
com este quanto enganado
quem na matéria está vivo
foi na manchete enterrado.

o slogan é um grito.
é o produto exagerado.
a embalagem é inflada
no super do supermercado.

o mundo no horário comercial.
e os personagens na vida real.

amar é muito!
muito é muito!
tudo é muito!
isso é muito!

é muito amor às cegas.





domingo, 10 de outubro de 2021

 temos a lâmina de algumas sentenças para cortar a carne de algumas respostas

 a vida é o vento da tarde

nas copas

vistas da janela de uma cozinha

não há que fazer alarde

por conta de uma coisinha.




DE LUA (DILUA)

 uma pessoa que se guia pela esperança

é uma mariposa

que esquece a natureza

e se perdendo da lua

finda-se contra ordinárias lâmpadas

que têm por universo o Tédio dos sóbrios


quem não percebeu que sempre é por enquanto sequer abriu a janela.

meu verso não pergunta se gostas. apenas é a pedra posta no meio do seu caminho.

eu não sou um controle sobre mim

 parece que por trás das palavras inusitadas que sua sintaxe insinua

existe um sentimento único que se atira inteiro - suicida - por sua língua

mas nada está garantido! nada! 

na vida toda! 

por isso que a gente sonha:

a realidade também não tem chão.

o planeta flutua .

a vida certa é dura,

a boa é a de ilusão!

mas há quem as confunda de uma maneira encantada.

já quem as discerne tem sempre um ar doentio.







 a gente deve cuidar pra não ter somente a expectativa do infinito

e transformar tudo em insignificante

há um pequeno canto da casa que te faz melhor

uma intimidade com a água esquecida

há pequenas vidas no chão

de quais você tem nojo

as paredes precisam ser vistas

janelas precisam ser fechadas





 os ditos de amor para mim são como homens que dão tons gratos as suas palavras como que a uma fonte que aparecesse ante sua sede

e os de ódio são como de quem tropeçasse em uma pedra

e aspergisse sobre esta a sua fúria em vernáculos

ambas as coisas parecem uma vontade de sentido 

que habita um meio de  infinito sem razão alguma.

pródigos acidentes que semeiam dogmas

na fértil sem-razão dos homens.


é inevitável que fechemos os olhos cansados de cores e luzes

que não levam a lugar algum

e gozemos em nosso escuro particular miragens

que a concretude indiferente não reproduz

razão só se encontra motivo num certo grau de loucura

razão que a gente desleixa mais tarde nos procura