Meu engano se reduziu ao ponto em que não espero mais entendimentos, então faço versos em vez me dar às conversas. E é como ser um ateu que ora, pois não é questão de crer em Deus, mas de ter palavras sem destinatários ou interlocutores. Jogá-las como um bilboquê, mexê-las como um objeto a que se entrega mãos inúteis distraídas. Perdeu-me a expectativa-eu, que era a que projetava o outro.
razão também tem quem luta pra perdê-la! Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos.
sábado, 30 de outubro de 2021
ando cansado de muito.
não passo bem com estes séquitos.
melhor assim que ser mouco?
e este bando de louco
errando desde o intuito...
trazem os superlativos
eu ando tanto amolado
com este quanto enganado
quem na matéria está vivo
foi na manchete enterrado.
o slogan é um grito.
é o produto exagerado.
a embalagem é inflada
no super do supermercado.
o mundo no horário comercial.
e os personagens na vida real.
amar é muito!
muito é muito!
tudo é muito!
isso é muito!
é muito amor às cegas.
domingo, 10 de outubro de 2021
DE LUA (DILUA)
uma pessoa que se guia pela esperança
é uma mariposa
que esquece a natureza
e se perdendo da lua
finda-se contra ordinárias lâmpadas
que têm por universo o Tédio dos sóbrios
parece que por trás das palavras inusitadas que sua sintaxe insinua
existe um sentimento único que se atira inteiro - suicida - por sua língua
mas nada está garantido! nada!
na vida toda!
por isso que a gente sonha:
a realidade também não tem chão.
o planeta flutua .
a vida certa é dura,
a boa é a de ilusão!
mas há quem as confunda de uma maneira encantada.
já quem as discerne tem sempre um ar doentio.
os ditos de amor para mim são como homens que dão tons gratos as suas palavras como que a uma fonte que aparecesse ante sua sede
e os de ódio são como de quem tropeçasse em uma pedra
e aspergisse sobre esta a sua fúria em vernáculos
ambas as coisas parecem uma vontade de sentido
que habita um meio de infinito sem razão alguma.
pródigos acidentes que semeiam dogmas
na fértil sem-razão dos homens.
é inevitável que fechemos os olhos cansados de cores e luzes
que não levam a lugar algum
e gozemos em nosso escuro particular miragens
que a concretude indiferente não reproduz
razão só se encontra motivo num certo grau de loucura
razão que a gente desleixa mais tarde nos procura