sábado, 21 de janeiro de 2023

Vivo melhor do jeito que vivo menos. Quando paro pra agarrar a vida, calcular, verificar... sofro vendo que ela passou. E é este tempo debruçado sobre as perdas que dura, mas então quando gostaria que passasse... E o que passa alegre, por não ter olhado pra si mesmo, sem  ter sido visto, parece mal aproveitado. 





segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

um ceticismo para o inédito

As coisas tão mais substanciais porque em serem vagas estavam mais preenchidas por sonhos do que pelo vazio da realidade. Um domingo e seu tempo eram qualquer coisa de fantástico... A presença de meu pai vendo tv à noite, cada hora estava repleta de significância. O som pela casa, entre as paredes, as falas atravessadas da tv e da família. Os amparos tantos: Pais sob o mesmo teto e avós na casa em frente. Amigos, primos que viriam nas férias, brinquedos e brincadeiras... Tanta alegria disponível, que hoje nem sei como vivo ainda neste deserto. Numa espécie de insistência burra e covarde. O coração nem precisava colher esperanças. E não havia grande espera por nada. Nenhuma ânsia. E o que  pior se anunciasse já chegava esquecido.

A culpa agora não está no que não é, mas no que por saber na cabeça não posso sentir. Antigamente cada rua reiniciava o sentido da vida. Cada casa e família que eu conhecia. A voz e o jeito da tia de um amigo... Subir um elevador... havia esperança em se chegar a um novo bairro, em andar por aí...Agora tudo pertence a um compêndio do vivido... Não há entusiasmo para quase nada, sentamos e comemos, levamos ao estômago a satisfação que não damos à vida. Apenas uma fome que preguiçoso me leva à padaria mais próxima. Os dias mal começam e estão mortos de cansados como ter vindo a um evento desgostoso e ficar porque já não há a casa pra onde eu voltaria.

A vaidade de agora me culpa por antigas feiuras despropositadas.

Esta sua pretensão de credora se não é também feia me é ao menos bem inconveniente.