quarta-feira, 24 de abril de 2024

obituário

 

morreu perto:
na minha varanda
porque era bicho

morreu perto:
em outra cidade
porque era homem

morreu dentro
em outro país
porque era criança

morri

longe

domingo, 10 de março de 2024

A arte de saber

Primeiro a gente não sabe
e acha que saber vai mudar o mundo
Então a gente lê, escuta, vê, revê, se debruça...
É descobrimos que nada mudamos na vida do bairro.
A gente aprende que o mundo é muito
E pra salvar ao menos a imagem desistimos de ser ridículos com a nossa sabedoria.
A gente tenta no amor amiúde...
Na esperanca febril de que ao menos um vá conosco.
Mas nos aprofundamos demais na fé por saber
e na fome de sermos únicos
acabamos mais sozinhos
como nadando para dentro do mar de lá olhar a praia  e se aperceber que é na areia que se dá o encontro.
E que mudar o que quer que seja fica muito depois de tê-lo abraçado.
A gente se casa!
Daí se descobre que o conhecimento não segura o quanto queria a alegria sequer a dois.
Também que não dá pra aplicar o frio saber quando  envolvidos na emoção que é calor e não cálculo.
Então a gente cultiva uma planta simples num vaso e ela não vinga...
e descobrimos que saber é como rever uma tragecomédia:
sabemos tudo que vai acontecer,
como poderíamos evitar as tragédias
ou pelo menos como fazer menos doloroso o caminho,
mas nossa voz está muito distante,
como livros não lidos na estante,
ou peixes no aquário da sala,
e não chega ao jantar em que a família se despedaça...
e se tentarmos resolver seremos tão só mais um grito na algaravia das ignorâncias...
A última lição só ensina a arte de ser passivo.

sexta-feira, 8 de março de 2024

NO LUGAR DO OUTRO

 Quem não sabe se colocar no lugar do outro,

 desperdiça o lugar em que devia haver outro...

Deveria ficar parado assim que despejado no nascimento e...

se inevitável viver, vegetar...

pra menos ocupar o lugar do outro ou...  

dar-lhe sombra, acaso vingue tal infelicidade. sombra, silêncio de sossego, verde esperança de vida melhor...

Vegetar... Pessoa muda! Que teria a dizer quem não sabe se colocar no lugar do outro? 

E que lhes faríamos nós, que não perda de tempo?

Afogue-se em solilóquios ensimesmado! 

Vegetar sim, mas... Frutos não! Pra evitar que outro perdesse o seu lugar por contágio. 

Vegetar... E eu torço por secas!

Não faço regass, fecho as cortinas, não levo luz, tenho por propósito cochonilhas, gafanhotos, saúvas, sal grosso...

Pois que lugar deve ter de seu no mundo o outro que não sabe se colocar no lugar do outro?

Não faz nem mesmo sombra, no máximo rouba a luz de outro florescer.

Corrompe-se o ar, a água, a terra e o Sol que serve vida a tal coisa.

Quem não sabe se colocar no lugar do outro é o que há de mais feio de n

osso habitat.



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

NOSSOS MALES

 A vida sempre será causa perdida pra pretensões absolutas que se tem...

É claro o que você não vê se perde a visão também.

Sim! A perfeição é um jeito absurdo de pôr defeito em tudo,

não é amiga de ninguém.


Se o endereço é mente e coração,

quiçá somente uma canção 

acerte o tal destino.

Não mando cartas, planto palavras no passeio público.

E quem me ouve?

Não digo "poucos", se me são caros!

os chamo "raros", tais pacientes...

Há muita gente que chega tarde ou cedo à estação,

E pelo podre ou azedo que sente culpa a semente

na mão com medo que me leva aos dentes!

Que quer que fales... Não vale ofícios!

Já não me atrevo a definir nada, 

"Que tudo mude!" é a esperança que mudou pra bem.

Há tantos loucos falando de tudo!

Tantos lugares distritos do hospício!

Opinam surdos!

Os nossos males vem pra bem de quem?





Só temos o que podemos dar

O que não podemos

Nos tem

sábado, 10 de fevereiro de 2024





Sentimos saudade porque somos tardios.
A gente sente o que perdeu
porque perdemos esta oportunidade
quando tínhamos.

A saudade é como se fosse um sentimento sem saldo na fila de saque de um banco falido...
E virou reclamante em solilóquios
por não haver recurso além de si mesmo.
E se cansa em menus que se ofertam a fomes outras...
A saudade é insolúvel em presentes.
Sua petição é o passado,
a que a justiça tarda e não falha em ser a morte:
única saciedade do não conseguido.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

MODO DE PREPARO

No campo das idéias, os que se opõem nunca querem  entender "como"; "quanto",  "onde"; "para que"; ou seja, o que em que quantidade, de que maneira, em qual momento e pra que fim convém a aplicação de uma proposta alheia a uma dada realidade. Invés disto, em geral,  tornam-se dualistas, enxergam-se opostos absolutos, concebendo-se o bem contra o mal.  Isto os predispõe ao ódio contra o divergente, e legitima contra os que só sabem ver como adversários todo tipo de incivilidade.

SE quisermos dar matéria ao abstrato e representarmos, POR EXEMPLO, Direita e Esquerda respectivamente por Fogo e Água, os "Foguistas" falarão de tsunamis, deslizamentos, enchentes, afogamentos, naufrágios, mofos, infiltrações... E os "Aquáticos" falarão de seca, pregarão que os outros queimam, incendeiam, desmatam, poluem, asfixiam...

Diante desse espetáculo pobre e  enfadonho, resta cozinhá-los em banho-maria até que se dissolvam, sová-los para que atinjam a homogeneidade da boa massa e finalmente deixar descansar por mais algumas décadas.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Contra o maior

 Há quem se inquiete com o cotidiano e, não podendo romper diretamente com o engenho que o move, se empreste a loucuras inconsequentes que arriscam a quebra do dia-a-dia sem delatar a clara idéia aos demais e, por vezes, até a si mesmo. Como quem não podendo desferir um golpe fatal ao mais forte, escondesse a intenção em não fazer muita mira, simulando algum pueril ou/e muscular exercício, ao lançar ao alto pedregulhos na presença do opressor, até que a sorte decidisse por um dos fins, ambos um alívio.