sábado, 27 de fevereiro de 2021

EMBALADO A VÁCUO

 


as paredes de meu lar são todas de outdoor

se saio é pra comprar

se fico me põem 

a venda no olho 

da rua


não tenho capital pra

ser minha propriedade,

sou refém da utilidade.




SANEAMENTO BÁSICO

nós temos tanto o desejo de vingança!...

mas contra qual objeto?


ódio

como um esgoto a céu aberto

esperando a decência dos aquedutos...


as ideologias estão todas poluídas.

no aterro há quem se vire pra viver do que resta...

tudo isto a nos levar, a nos desembocar...


em que mar isto vai dar?


a chave da cidade  foi entregue

a quem jurou violentá-la.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Às vezes me falta um lança chamas para expressar meus sentimentos

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Cadáver

 Carne dada aos versos

ORAÇÃO CAIPIRA
"oração" é
meu coração
sem "v" o "cê"

ALEGORIA

herdamos o silêncio duro
do samba que a gente fazia...
e da luz que tinhas, o escuro
que ofusca nossas fantasias.

dos nossos, alguns no futuro
não morrem, viram cantoria.
destarte em teu canto puro
ergueste tanta alegoria.

enquanto houver quem empreste
a este uma voz de alegria,
de gala a memória se veste
a te eternizar melodia.

se no carnaval já não existes
na roda estarás todo dia
a fazer o que sempre fizeste
em graça de Cláudia Garcia:

o samba não deixar triste;
o povo deixar em harmonia.
o teu coração, centro-oeste,
persiste em nossa bateria.

enquanto houver quem empreste
a este samba uma voz de alegria
de gala a memória se veste
a te eternizar na poesia.

se no carnaval já não existes
na roda estarás todo dia
a fazer o que sempre fizeste
em graça de Cláudia Garcia:

o samba não deixar triste;
o povo deixar em harmonia.
o teu coração, centro-oeste,
persiste em nossa bateria.



 o carro à frente dos bois


 o orgulho à frente da sabedoria














amazônia gritou

-Mato não é dinheiro!

https://www.instagram.com/reel/CPI-4-oHgv8/?utm_medium=copy_link

rabiola do nada


gostar do que talvez só reste um bilhete
como da altura de um muro
e sua textura impressa na criança que se foi
num pulo
rosa ou verde a fachada?
não lembro!
apenas a certeza da cor clara e
o quadrado de ladrilhos montando
jorge são
no cavalo
e o cavalo
no dragão
estreito o branco no portão...
gelo?
rangia mais sim do que não!
deu rua ao vira-lata até que acabou
ganindo sob a lataria de um fusca...
cão!
encafifar nessa infância ida,
adulto atrás da pipa “avoada”
no aclive da lembrança
de paralelepípedos e sombras de amendoeiras
a rua de minha avó pavimentada
segue doravante na rua de agora esburacada
essa existência estancada
tal uma despretensiosa trêmula
rabiola do nada

" AH, MEU FILHO!"


na minha cabeça mora uma senhorinha, que dizia de fora pra dentro em circunstâncias diversas com inflexões pertinentes: "ah, meu filho!" - esta expressão era como ilustrar uma vida que sentíamos juntos, como se viéssemos de adquiri-la com sacolas pesadas, a carregá-la para dentro ou para as margens de nossa existência. às vezes, fomos soma ao peso um para o outro: "preocupação, ocupação, deveres morais, empecilho a uma sonhada liberdade..." mas a maior parte do tempo compartilhávamos em alças os fardos de existir, outras, que parecem poucas, víamos o que tínhamos não apenas como o que restasse. em sensações a vida por vezes é algo que possuímos como delícia e outras é algo que nos possui como escravos, nas melhores vezes somos uma coisa só com a balança do saber quebrada. quando a sua carga era particular, eu dizia coisas de consolo e motivação: "calma, minha velha!"
bem... o caso é que esta senhorinha se mudou da realidade de ser por si na cadeira, no corredor, na pequena morada... vez por outra, como ontem, chego na casa em que comigo ela morava e, ante a cadeira de sua ausência na garagem, ouço-a dizer, agora de dentro pra fora, aquela mesma frase: "ah, meu filho!" - é o peso da vida que se anuncia inteiro pra esta metade. há uma espécie de lamento meu na voz dela imaginada. o peito esfria. carro estacionado, passo pela cadeira no corredor contíguo como quem fura uma onda gelada que me poderia prostrar. então o demônio monta a oportunidade e questiona a senhorinha sonhada: "jura que não volta?" e deixa que responda o ruído das coisas indiferentes da concreta realidade. "ah meu filho!", nunca mais.

canção simples


para atravessar este excesso de paz
que herdei de meus pais
para distrair um coração da dor
só uma canção simples
para disfarçar sob um som
a falta de afeto que entra
que venta pela janela
e no meu peito jaz
para devolver a ideia das cores
que a escuridão me furtou
enquanto queimo como uma vela
que deus acendeu para ela
e o tempo apagará
para viver um pouco mais
antes do esquecimento
que ocupa nosso lugar
e é cego de todos nós
surdo da nossa voz
de alegria ou lamento
uma mera canção de decorar
como flor na mesa de centro
a angústia de desbotar
ímpar na sala-de-espera

 O objeto de lástima evolui para objeto de desprezo.

ARRANJO



quero arranjar o tempo nesta casa...
o tempo migalhas na mesa
geladeira vazia
o tempo incógnito, gás na botija...
quanto durará?
quanto pode arder?

de chuva, de colher,
e recolher do varal
o esquecimento molhado!

e de nós dados
feito crianças
ter por herança
o lençol amarrotado

tempo perdido pra sempre
dente que não é de leite
a morder a carambola
que caía no pátio da escola
ou a cana suculenta no quintal
da casa da tia

e nunca mais a calçada de passear com a mão dada
à mão conotativa de uma moça
agora é mão única de ida
e adeus

 ...Bípedes tão mal acabados, orgulhosos da estúpida carga, que ante o que sustentam se pergunta coerentemente: Não serão quadrupedes deficientes?...

 Sou um pé de pensamentos.

🍭

vida

 parece um 

pirulito que a 

infância chupa 

e ao adulto 

só resta

o

p

a

l

i

t

o




 


LAMENTÁVEL LACONISMO
Muitos "sim" que odeiam "não"
se abraçariam na dissertação.

em silêncio

 uma flor do canto sussurra aos meus olhos uma cor 

                                                                            em segredo


o bilhete da moça é a voz do afeto possível no mundo:

                                                                           "Adeus, Rodrigo!" 





ARETÊ IGNORADO

sinto o que não sente aquela macieira:
um andarilho descansa à sua sombra,
uma mobília importa sua madeira,
um pássaro a faz de sua morada,
um exótico a conhece quando cheira,
um artista observando a forma pinta,
de um animal a urina é tinta de bandeira,
um caçador a faz mirante,
a infância se esconde em brincadeira.
um poeta a contempla e faz poesia,
um frio estúpido a corta e faz fogueira,
uma pesquisa sabe de suas folhas
propriedades curandeiras.

e cada qual com a árvore acha o nexo
se a proveitos diversos ela se doa,
mas eu nela só vejo meu reflexo
quando a maçã de si parece à toa.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

em que há muito objetivo há pouca humanidade?

quem sofre de esperança não perde o vício de tentar.

NÃO DIGA AO SUICIDA

"ame ao próximo como a si mesmo"

o que tenho por mim sou eu,

não é amor.


se é que me tenho...

quem sou para ser outro a se/me possuir?

quem me tem será quem sou?


não há espaço entre mim e o que sou 

pra que se recheie com amor

que só se pode entre nós

a sociedade não tem tempo de ser humana

OLHAR DE OUTRO JEITO

existe uma inversão de causa e efeito

ao pensarmos 

na relação do brasileiro com o jeito

em que entre quais está ou é o sujeito.


e assim o diminutivo sufixo

corriqueiro

que se põe no segundo

justifica o crucifixo

em que se põe o primeiro


eis que no mundo

nos fazem suspeitos

fato é que só resta o "jeitinho" 

a quem nem a vida possui por direito.

a verdade nos tem sem vice-versa


sábado, 20 de fevereiro de 2021

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 COM QUE ESCREVO

 Não quero exclusivamente nos desiludir de fundamentais ilusões ao nosso bem estar. Embora, para determinados fins, isto seja necessário.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

ECONOMIA

 um vento 

 que adivinha chuva

ou  fogueira...

os cheiros associados ao que não volta mais...

são os melhores!



penso em ir num alto mirante,

voltar a ler livros,

e escrever,

gravar um álbum com minhas canções,

banhar-me amanhã,

no vão dos compromissos,

no rio que corta esta cidade...

todos esses pensamentos são pouco pretensiosos.

autossuficientes enquanto precária sensação... 

digo, basta que sejam pensamentos.

são pouquíssimos pretensiosos de serem escolhidos,

como quem corre canais de tv com enfado...



tenho apenas ficado em casa e feito o mínimo possível.

um verso no lugar da vida, do amigo, do amor, do outro...




sábado, 6 de fevereiro de 2021

PANELA NO FOGO

 pois a vida é isto mesmo:

vigiar o arroz;

criar um status;

esperar olhares...

esquecer do vital!

tenho feito planos e o que eles tem em comum 

é fugirem comigo!

esses planos todos pra amanhã

roubaram toda a importância de hoje.

uma vez no amanhã, 

tornei-me sujeito às promessas.


minha vida foi pra europa,

e nunca mais voltou aqui na cozinha.

mergulhou lá num mar azul

e nunca mais ergueu a cabeça

por sobre o balcão

pra  pedir uma paleta duas vezes moída...


esqueci de comprar um travesseiro.

que importa dormir ou ter o que abraçar?

este verso, que importa?

há olhos dispostos ao que não grita?

folga...? detesto! vou fazer o que comigo?

porca sem parafuso!

o café, o almoço, o jantar...

tudo isto é apenas recheio de um saco 

que precisa ficar de pé!


na vida de fabricar  há tanto a se fazer!

na de comprar, o meu prazer! 

viver é intransitivo!


tudo é um resultado.

quem não perde as contas 

vive no prejuízo.


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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Nem vendo

ainda que a foto exista

sobre o fato 

incide sempre o ponto de vista.



pois quando tem meus olhos 

seu retrato 

é a saudade o que há mais realista 


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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

JEITO MORTO (CINZAS)

para Rubens Guilherme


herdamos este jeito morto

de encarnados pouco carnais.

já não sabiam balançar o corpo,

os nossos ancestrais.


e acreditamos em suas cadeiras 

que não se quebram. ó, imortais!

sentamos na esperança,

como tais, pela musa que dança

e não cansa jamais.


vício de livros de herança.

hábitos de homens sentados, 

pudor com o instante presente

que não nos levanta e nos cansa

de estarmos assim tão parados.


toda estrutura que falta

pra suportar nossa mente,

que a estante futura mais alta

nossa criatura sustente.

pois não podemos ficar quietos.

sem reclames, sem reparos. 

tudo queimando em alfabetos.

sujeitinhos muito raros!


e o que por bem reparamos do mal,

se somos salvos pelo final

em não haver certo ou errado? 

de ser, somos tão só cismados:

num irrevogável esforço 

de parecermos iguais

a trasanteontem:

cortando os pelos e unhas morais 

a nos sugerimos ideais,

nem me contem!

perdemos quantos carnavais?