À medida que de mim me afastava, menor eu me via. Mais de outro me vestia, publicava e experimentava num contra-pudor, num ego autocombatente, mais me fragmentava e me refazia... Me consertava pra um novo fingimento, e me dividia, e me perdia... Mas nunca me perco inteiro, porque tal nunca me achei. Pra se achar é preciso já estar divido em dois: um que procura e outro que espera. Às vezes, o que espera até reconhece o que procura a passar, ambos impacientes de não estarem um íntegro ser. E toda vez que o que procura acha o que espera, já não são o que era. Ser dois ou três, quanto mais, é ser menos um. Ser eu me soa pouco, muito estreito, não me atiro de cabeça, nem de peito, o corpo. Fico do alto a verificar que não me caberia, só me caibo morto. Eu? Herdei outro a fé e a fantasia.
razão também tem quem luta pra perdê-la! Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos.
terça-feira, 26 de dezembro de 2023
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
terça-feira, 17 de outubro de 2023
NÁUFRAGOS
Será também o vício um recurso inconsciente-desesperado para vida continuar. Pelo vício continuamos!
Quando vem a lucidez, não podemos mais sonhar... Obedecemos Baudelaire e nos embriagamos.
Mas a poesia tenha acabado ou não passe de bravata.
A publicidade asfixiou o verso na gravata.
As coisas já não são colhidas pela espontaneidade, mas empurradas goela a dentro por manipulações redundantes, limitadas alternativas que só possibilitam a confissão de culpa ao reclamante.
As perguntas na tela são retóricas porque automáticas se repetirão até em "sim" converter nosso "NÃO!"
A tela pergunta se somos um robô.
Pode haver humanidade atrás dela?
O pensamento caiu na rede, vive nos aquários, retângulos, enquadramentos, vitrines...
Dizia ja o ditado: enquanto existir otário, malandro não morre de fome...
...e sequer paga por crimes.
O Smart nos passa pra trás...
disfarçando atrás do Phone.
Antes dançávamos no ritmo
Agora o algoritmo consome
cada pulsação numa oferta:
Remédios, exercícios, férias, palestras, "psis", dietas...
Atormentam o nosso juízo:
Mas... "Navegar é preciso!"
Recorrer a um amigo?!
No naufrágio o abraço é perigo!
terça-feira, 10 de outubro de 2023
OS MÁGICOS
Os mágicos estão por aqui há anos. Conheço todos os truques. Para mim não há engano e nem encanto. Então você deve estar se perguntando porque eu continuo neste cansativo espetáculo. É simples! Não consigo ser grosseiro, e não existe outra coisa no mundo que não sejam truques. Apenas assisto o que se põe à minha frente, consequentemente: os mágicos. Os mágicos me perseguem em todos os lugares. A cadeira não é de um circo ou de um teatro. Ou será tudo circo e teatro? Enfim... A todos os locais em que vou me espera um mágico, por vezes acompanhado de outros mágicos. Uma fila deles tentando me motivar a prestar atenção em mais um truque. Frustrados eles também com meu desencanto, fizeram-me seu grande desafio. Disputam entre si qual arrancará de mim o maior interesse. Mas só arrancam pena e raiva. Não querendo me tornar um assassino, cercado de mágicos, preciso vê-los serrarem ao meio mil moças, e fingir qualquer satisfação que os faça partir, senão puxam um baralho, um coelho, um pombo... Eu amava os banheiros, mas ultimamente os mágicos vão até lá e conversam comigo enquanto faço minhas necessidades. Me perseguem para que eu não escape. Me dizem que preciso ver uma nova mágica... me pedem um minuto de atenção. Cansado, abano a cabeça em sim ou não, tanto faz, me acompanharão de volta até a mesa, exigem que eu seja agressivo para irem embora... mas de que me adiantaria agredir, logo em seguida me assumiria outro mágico. Assim só me resta ser condescendente, de modo que me acompanham mesmo até a cama e fazem o seu trabalho ingrato, reclamando de meus bocejos grosseiros. Eles não se deprimem com tudo isto. Não! São obstinados. Gritam palavras de motivação e me impedem um sono tranquilo. A única maneira de diminuir o desgosto é me fingir convencido e esboçar falsos sorrisos, por quais talvez eles se deixem fingir também convencidos. Ou inventar alguma desculpa para o momento em que não consigo rir ou arregalar falsos olhos de surpresa.
Tudo que desejo é acordar e não haver mais mágicos. Eis a mágica que me encantaria: que todos eles desaparecessem num piscar de olhos. Para sempre! E pudéssemos cuidar da realidade invés de tentar enganá-la.
segunda-feira, 9 de outubro de 2023
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
Imensurável
Só nós sentimos
O céu infinito não sente nada
As estrelas, a lua, o Sol sobre tantos sonhos
Capaz de cego acabar com a vida num piscar de nossos olhos
Os astros para si mesmos não interessam
Apenas a vida lhes empresta algum valor.
Diante de coisas imensas como o mar podemos nos achar pouco como um gota
Mas a imensidão do mar é só uma perspectiva nossa. Para tudo mais que está morto, o mar, uma gota ou a inexistência da água são iguais artigos nulos.
Ainda que nos pareça um tanto triste isso de estarmos sós em finitude percebida e em sentimentos no meio da eternidade morta...
A vida escoará da matéria como água entre dedos,
e a pessoa desfeita
será doravante exclusivamente objeto na sintaxe das conversas.
Enterrados, secos...
Não seremos senão uma lembrança entre ruim e saudosa...
Memória cada vez mais rarefeita nos outros.
Cada vez mais mortos.
Cada vez mais poucos, os outros também.
Cada vez mais bem acabada a matéria-prima do nada.
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
quinta-feira, 24 de agosto de 2023
Só levarei eu...
Quebrado, desinteiro,
Imerso em CPF, RG e comprovante residencial.
Ou outro antes de mim acordará
Mais cedo e pontual
A contragosto de ser bicho
Se maquiando e apesar disto
se provará ser eu no reconhecimento facial.
Assumirá minha conta, minha família e a vida profissional...
Banal dirá "bom dia!"
Livrar-se-á de mim num oportunismo matinal
Outro, diagnosticado eu mesmo.
Por qualquer clínico geral!
Sofrendo de mim tal de uma doença terminal.
Irreconhecível outro atrás da minha digital.
Contará uma história em cada esquina que me verifique,
De mim, um verossímil visual, uma menina o reconhece do tique ao gesto casual...
Eu mesmo, outro, me fazendo crer igual.
Uma pintura realista
Pois o que despista é o que é real.
quarta-feira, 12 de julho de 2023
Prudências em imprudências
O dispêndio intelectual e emotivo pra evitar problemas pode ser maior do que o ocasionado pelo problema em si.
Muitos de nossos problemas estão mais perto de serem solucionados pelo esquecimento ou pelo acaso do que por uma providência possível.
Cheguei numa idade em que a realidade despiu-se quase inteira da beleza do sonho. Agora toda beleza que vejo está presente.
Carcereiros da culpa vigiam nossa alegria em seu caminho de liberdade para que ela não faça bobagens e não se estenda à felicidade.
O filósofo conversava com umas moças no alto de um castelo até que chegou o poeta e ele se atirou pela janela.
quarta-feira, 5 de julho de 2023
- Nossos mínimos gestos, todos os nossos movimentos são para nosso bem. Ninguém é capaz de mover um dedo contra si mesmo. É um imperativo!
- E os suicidas?
- Crêem estar escapando de um grande mal, que seria continuar a vida.
- E se eu fizer isto! - dando um tapa violento no próprio rosto.
- Eis que lhe dói menos este tapa do que se flagrar equivocado numa contra-argumentação.
segunda-feira, 29 de maio de 2023
quinta-feira, 11 de maio de 2023
quarta-feira, 29 de março de 2023
quinta-feira, 23 de março de 2023
SUPONHO OU SEI?
O suposto é mais agradável do que o que se sabe de fato. Se sabemos de fato, não é tão nosso, pois há fatores externos que comprovam; logo, outros também podem saber, isto quando já não se trata do óbvio corriqueiro que não atrai nenhuma apreciação. O que supomos é mais exclusivo, mais novidade, mais particular, descompromissado... A suposição tem o timbre de voz de nossa vontade a preencher o silêncio de verdades indiferentes.
quinta-feira, 16 de março de 2023
CARDÁPIO MUSICAL
ADRIANA CALCANHOTTO
Devolva-me
Esquadros
Vambora
ALCEU VALENÇA
La Belle de jour
Anunciação
Morena Tropicana
Dois animais
Tesoura do Desejo
BELCHIOR
A palo seco
Alucinação
Como nossos pais
Coração selvagem
Divina comédia humana
Galos Noites e quintais
Medo de avião
Paralelas
Comentários a respeito de John
Rapaz latino americano
Retrato 3x4
Sujeito de sorte
Todo sujo de batom
Velha roupa colorida
BIQUINI CAVADÃO
Janaína
Vento ventania
CAETANO VELOSO
Cajuína
Desde queno samba é samba
Força estranha
Leãozinho
Luz do Sol
Você é linda
Você não me ensinou a te esquecer
Sonhos
Sozinho
Reconvexo
Qualquer coisa
Queixa
O Quereres
Sampa
CARTOLA
As rosas Não falam
Corra e olha o céu
O mundo É Um moinho
Preciso me encontrar
CÁSSIA ELLER
ECT
Malandragem
Nós
Socorro
CAZUZA
Codinome Beija-flor
Exagerado
Faz parte do meu show
O tempo não para
Preciso dizer que te amo
Trem para as estrelas
CHICO BUARQUE
Cotidiano
Construção / Deus lhe pague
Deixa a menina
Feijoada completa
Futuros amantes
Geni e o zepelim
Homenagem ao Malandro
João e Maria
Mambembe
Meu guri
O que será que será? (À flor da pele)
Roda viva
Samba do grande amor
Sem compromisso
Sou eu
Quem te viu, quem te vê
Trocando em miúdos
Valsinha
CHICO CÉSAR
À primeira vista
Da taça
Deus me proteja
Mama África
Onde estará o meu amor?
Pensar em você
DJAVAN
Boa noite
Nem um dia
Se
Te devoro
Oceano
DOMINGUINHOS
De volta pro aconchego
Lamento sertanejo
Gostoso demais
Te faço um cafuné
Xodó
EMÍLIO SANTIAGO
Saigon
Verdade chinesa
ENGENHEIROS DO HAWAII
Pra ser sincero
Refrão de Um bolero
Somos quem podemos ser
FAGNER
Borbulhas de amor
Canteiros
Deslizes
Espumas ao vento
FREJAT
Pedra, flor e espinho
O poeta não morreu
Por você
Segredos
GERALDO AZEVEDO
Bicho de sete cabeças (instrumental).
Dia branco
Dona da minha cabeça
Moça bonita
Petrolina-Juazeiro
GILBERTO GIL
A novidade
A paz
Drão
Estrela
Não chores mais
Vamos fugir
JOÃO BOSCO
O bêbado e a equilibrista
Incompatibilidade de gênios
Nação
JOÃO NOGUEIRA
Batendo à porta
Boteco do Arlindo
Corrente de aço
Minha missão
Poder da criação
Súplica
LEGIÃO URBANA
Ainda é Cedo
Eu sei
Hoje a noite não tem luar
Pais e filhos
Por enquanto
Tempo perdido
Quase sem querer
LENINE
É o que me interessa
Hoje eu quero sair só
Paciência
Tudo por acaso
LULU SANTOS
Adivinha o quê
Apenas mais uma de amor
Certas coisas
De repente, Califórnia
Tão bem
Tempos modernos
Tudo bem
Vida
MARISA MONTE
Amor i Love you
Velha infância
Vilarejo
Não vai embora
Balança a Pema
Dança da solidão
MILTON NASCIMENTO
Bailes da vida
Canção da América
Quem sabe isso quer dizer amor
Travessia
NANDO REIS
All Star
Segundo Sol
Por onde andei
Relicário
NELSON GONÇALVES
Modinha
Naquela mesa
Nada além
Nervos de aço
Onde anda você?
OSWALDO MONTENEGRO
Bandolins
Lua e flor
NOVOS BAIANOS
Preta pretinha
Mistério do planeta
O caso deles
PARALAMAS DO SUCESSO
Aonde quer que eu vá
Lanterna dos Afogados
Meu erro
Quase um segundo
Vital e sua moto
SEU JORGE
Burguesinha
Pretinha
Mina do Condomínio
Zé do caroço
É isso aí
TIM MAIA
Gostava Tanto de Você
Você
Hoje resolvi mudar
Primavera
Eu amo você
Azul da cor do mar
Não quero dinheiro
TITÃS
Cegos do Castelo
Enquanto houver sol
Epitáfio
Nem 5 minutos guardados
Pra dizer adeus
Sonífera Ilha
VANDER LEE
Onde Deus possa me ouvir
Esperando aviões
ZECA BALEIRO
A flor da pele
Babylon
Bandeira
Envolvidão
Lenha
Proibida para mim
Quase nada
Telegrama
ZÉ RAMALHO
Admirável gado novo
A terceira lâmina
Avôhai
Beira-mar
Chão de giz
Entre a serpente e a estrela
Eternas ondas
Frevo mulher
Garoto de aluguel
Jardim das Acácias
Sinônimos
Táxi lunar
Vila do sossego
POR ESTILO
BOSSA, BOLEROS E SAMBA CANÇÃO
Garota de Ipanema
Chega de Saudade
Corcovado (instrumental)
Samba do avião
Samba em prelúdio (instrumental)
Amigo é para essas coisas (instrumental)
ROMÂNTICAS
Só hoje
Frisson ( Meu coração pulou...)
Meiga senhorita
Tocando em frente
Chalana
Pareço um menino
Quem de nós dois
Amor Perfeito
Detalhes
Eu te amo
Eu sei que vou te amar
Carinhoso
Cabelos negros (Eduardo Dusek)
SAMBAS
Andanças
Cabide
Cara valente
Mais que nada
Não deixe o Samba morrer
Trem das onze
Tiro ao Álvaro
Sonho Meu
(Alguém me avisou) Foram me chamar
Voz do morro
Samba de Arerê
É hoje
Vou festejar
Você abusou
Pecado capital
Maneiras (Se eu quiser fumar eu fumo...)
Você e eu sempre (Aí foi que o barraco desabou...)
Essa tal Liberdade
Tristeza
XOTE, FORRÓ, BAIÃO...
Asa branca
Falamansa song
Confidências
Xote da alegria
Colo de menina
Esperando da janela
Nosso xote (moreno, me convidou...)
Ai que saudade d'ocê
Sabiá (a todo mundo eu dou psiu...)
Se avexe não
OUTRAS
Pé na areia
À sua maneira
Baianidade nagô
Boa sorte (Vanessa da Mata)
Desculpe o auê
Camila
Casinha branca
Chuva (você que tem medo...)
Como eu quero
Fácil
Garotos II
Mal acostumado
Menino da porteira
Meu bem querer (Maurício Manieri)
Minha alma (paz sem voz)
Muito estranho
Na rua, na chuva na fazenda.
Noite do prazer
Olhos coloridos
O Sol (Para onde tenha sol)
Para não dizer que não falei das flores
Pescador de ilusões
Serafim e seus filhos
quinta-feira, 2 de março de 2023
A VIDA É MAIS "E" DO QUE "OU"
os homens entre uma coisa e outra pensam em alternativas: uma coisa "OU" outra. e brigam por uma com aqueles que querem outra. se percebessem que a vida orbita entre uma "E" outra, cuidariam mais de equalização do que de certo OU errado.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
SOLILÓQUIO
A saudade que eu sentia de alguém, a medida em que o tempo foi passando,
despiu-se de quem como de um traje a rigor.
Furou a orelha, colocou um brinco de frutas...
Trocou de perfume...
Desceu do salto que ruidoso desfilava na minha cabeça,
chia uma rasteira nos paralelepípedos de meu centro histórico,
na feira do meu tórax...
Saliva enquanto experimenta com os dedos o frescor de uma tangerina.
Esta mesma saudade que era uma alma e mal me assombrava
encarnou em quantas outras vidas...
Espalhou-se aspergida por minha cabeça em mil bons olhares...
Distraindo-se em manias, brincadeiras, sonhos frívolos, vícios, conversas...
Nem precisei de exorcista.
Alimentou-se mais saudável, pôs-se a filosofar...
Até que de "quem era" nem como "alguém" restasse!
Digo, até que a saudade já não soubesse de que era...
Emagreceu...
Dobrou a esquina da rua em que fiquei sozinho,
envelheceu e
confundiu suas rugas nas minhas...
nem nos distingo mais no espelho do banho cotidiano.
Flagro-me sozinho sem faltas!
E sua massa ressequida que esculturava a iminência do choro em meu rosto
dissolveu num branco esquecimento...
numa indiferença que vai longe a se perder de vista,
líquida se espalha por cima de todos os planos...
...e que talvez um dia, sem me deter um passo sequer,
diga-lhe "oi!" no passeio
sem me virar a cabeça
ocupada em chegar à padaria.
Os versos que uma inspiração escreveria
ansiosos por carnavais consigo
pularam sozinhos e caíram em ser eu hoje em casa,
sem a formalidade de se fantasiarem poesia...
trajam apenas o pijama dos solilóquios
que a mais ninguém devem entendimento.
Estilhaços nostálgicos
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
domingo, 26 de fevereiro de 2023
sábado, 21 de janeiro de 2023
Vivo melhor do jeito que vivo menos. Quando paro pra agarrar a vida, calcular, verificar... sofro vendo que ela passou. E é este tempo debruçado sobre as perdas que dura, mas então quando gostaria que passasse... E o que passa alegre, por não ter olhado pra si mesmo, sem ter sido visto, parece mal aproveitado.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
um ceticismo para o inédito
As coisas tão mais substanciais porque em serem vagas estavam mais preenchidas por sonhos do que pelo vazio da realidade. Um domingo e seu tempo eram qualquer coisa de fantástico... A presença de meu pai vendo tv à noite, cada hora estava repleta de significância. O som pela casa, entre as paredes, as falas atravessadas da tv e da família. Os amparos tantos: Pais sob o mesmo teto e avós na casa em frente. Amigos, primos que viriam nas férias, brinquedos e brincadeiras... Tanta alegria disponível, que hoje nem sei como vivo ainda neste deserto. Numa espécie de insistência burra e covarde. O coração nem precisava colher esperanças. E não havia grande espera por nada. Nenhuma ânsia. E o que pior se anunciasse já chegava esquecido.
A culpa agora não está no que não é, mas no que por saber na cabeça não posso sentir. Antigamente cada rua reiniciava o sentido da vida. Cada casa e família que eu conhecia. A voz e o jeito da tia de um amigo... Subir um elevador... havia esperança em se chegar a um novo bairro, em andar por aí...Agora tudo pertence a um compêndio do vivido... Não há entusiasmo para quase nada, sentamos e comemos, levamos ao estômago a satisfação que não damos à vida. Apenas uma fome que preguiçoso me leva à padaria mais próxima. Os dias mal começam e estão mortos de cansados como ter vindo a um evento desgostoso e ficar porque já não há a casa pra onde eu voltaria.