sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Pouca autoria

o lugar, o momento,

a regência de kairós,

a necessidade, o sentimento,

pouco autores somos nós:


oprimidos pelo tempo

servido em cronologias

o dever e o cumprimento,

as solúveis euforias,

que nos deixam a ver o vento

e a versar melancolias.


o desejo parindo pais

a fome apertando o cós

um acaso nossa paz

outro acaso nosso algoz




quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

germe passional

parece que toda paixão se inicia assim: uma faísca do acaso acendendo um olhar, uma voz, um caminhar, os movimentos das mãos, a intermitência do piscar de olhos, uma postura reservada inoculando uma curiosidade... pronto! do resto da figura se encarrega nossa carência! o que não sabemos é esculpido portentoso na fôrma do que nos falta, daí aquela sensação de encaixe perfeito! fruto de uma ilusão, claro! mas que importa não é a realidade, mas o sentir. alguma coisa do outro ou alguma coisa externa: uma droga, uma fé, uma mulher... algo que nos recheie com entusiasmo, uma figura vista à meia-luz, tão só um vislumbre!  uma flor fertilizada no tédio, suas cores florescendo num mundo em preto e branco. uma oportunidade irresistível para escapar de uma realidade monótona e adentrar no sonho que colhe da realidade alguns ingredientes idílicos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

ver essa gente sossegada em pequenas vidas cotidianas pode ser perturbador para alguém que passe carregando a consciência do tempo e do fim.



Esse medo todo que nos governa tirano não vale a pena. É preciso disto fazer um mantra: "Esse medo todo que nos governa tirano não vale a pena". Um samba! Um axé! Que seja o castigo escolar escrever mil vezes no quadro! Que a palavra entre e deflagre feito sopro em brasa, sem deixar de receio mais do que cinza esquecimento! Vire ato! Que alguma estupidez - que seja! - substitua a prudência fungo do medo. E a alegria seja de entrega, se tiver de ser, à morte até! Em nome de uma vida menos encolhida na esperança, tolhida, como se houvesse após para qual se guardar. Abaixo o futuro como pretexto de sermos pouco presentes. A paz mercadoria oferecida perdeu embalada a validade.