sexta-feira, 29 de junho de 2018

como as coisas parecem pra você 
pinta antes o seu ser 
do que uma verdade.

A MANEIRA - UM POEMA QUE ACABOU EM CAFÉ!


"minha" maneira?
o que me "têm e tenho" é herança!
a maneira também herdei-a do mundo
de agorinha...
também me terá herdado!

por acender "herança" faz-se sombra de mundo morto!
mas é um mundo que continua sendo outro... - que acaba de me deixar este verso...que me deixará outro:
feito numa lápide?

aah os versos como mundos,
e um poema como um universo
pendendo da copa do infinito como uma árvore!...

a maneira
colheu-me entre as possibilidade do fluxo.
sim!
responda então se sujeito és:
"quem solta sou eu ou me solta o grito?"

aaah! quem sou para ser?
sendo...
quem sou para ter a que pertenço?
como por exemplo: o mundo, a verdade...

dizê-la "minha maneira" é conforto
que a gramática deu para o orgulho de um deus
com que fomos contagiados.

a maneira pode até ser uma maneira.
"minha" é que jamais. pura, perfeita... é que não!
melhor: feita em mim pode ser.
minha não é: melhor:
coada em mim.

"café!"

quinta-feira, 28 de junho de 2018

NOS MEUS BASTIDORES

há um sujeito ranzinza...
casa vazia!
somente ele na primeira fila do descaso
ingresso gratuito, quase não o vejo enquanto sou,
na última fila de mim!

não gosta de nenhum dos roteiros
que eu vivo:
vira de canto os lábios em muxoxo
estalando no silêncio da sala o seu desgosto 
de obrigatória plateia.

por vezes
 chegam outros personagens:
encenamos abraços, amores, 
cantamos melódicas cantigas...
 ele impassível,
no fundo, no fundo
existe mais em pouco ligar sentido

o meu pior inimigo...
a luz de centro iluminando-me
ilumina-me a única certeza:
o silêncio 
que se fará no fim



segunda-feira, 25 de junho de 2018

CONTRA O ABSURDO

é sério que vocês amam?...
como ser o sangue do outro que corre?
como temer pelas células dos amados que vivem?
vigiar o organismo alheio em funcionamento?
como vigiar numa manhã batidas de um coração que não o seu?
é sério que amamos, de nos afogarmos na imensidão da tristeza de adorar o perecível?
por que então ainda rimos?
não é sério que a gente ama?
não é profundo? é leviano?!
com essa consciência de querer algo eternamente, amamos?
como pensar quase ser o outro? como nos abandonarmos? 
como fazer dele um mundo,  mil sentimentos, uma razão... 
emoções escapando da gente desvairadamente!
ama assim?
não depende o amor, exatamente, de que tudo acabe?
da dor... 
de sentir a perda de tudo! e amar então mais loucamente o durante!
o eterno não ama, porque continua depois que tudo acaba!
amar... não dá pra sentir que não vale a pena?
a gente ama mesmo e porque não há acordo com o tempo...
com o mundo!
amar é a luta contra o absurdo flagrado 
de existir conscienciosamente!

NADA ENTRE NÓS



eu e você
mais ninguém!
sem notícias nossas para o mundo!
nenhuma novidade!
sem olhares que nos encostem, sem conselhos...
a gente se amando ou se matando! 
gestando e parindo um novo mundo!
como se estivéssemos sempre num quarto de
um sonho nosso!
nenhuma satisfação entre amigos...
sem usar o outro com outros!
nenhuma historinha... se nos virem...
será só acidente!
se perguntarem, nem nos demos conta!
façamos silêncio, nos retiremos do ambiente da pergunta!
nenhum título de namorados ou casados...
nenhum acordo além de nos sentirmos e só!
e irmos um do outro se for!
mas nenhum conselho...
nenhum estender nossa relação para outras relações...
nada de nos fazermos melhor um que o outro em conversas.
nada de exibir nossa decência mostrando a falta!
apenas a conexão...
quero assim! que não haja nada entre nós
mesmo o ar que se interpuser será obstáculo
nada entre nós:
colados!

quinta-feira, 21 de junho de 2018

VORAZ

aproveitar a vida do lento ao violento amar
como quem ora a que deite no seu corpo o tempo
que me tem lambido a custa de encontrar gosto.

soltar estes desejos todos do meu animal...
sua ausência é imoral! um cão inoportuno
a ladrar dos corredores que dão no turno 
do meu sono.

insuportáveis animais que o querer  estima!
querem corromper, estes caninos em folia,
suas tardes civis vazias
resignadas ao tédio da prudência.

exorciza esses demônios, moça certa!
até que eu me reste um bicho-deus estirado
no ápice do existir conseguido!

escuta, bonita, o que digo!
troco o seguro dos dias por 
delírios em taquicardia.

só suas mãos de mulher
cuidadosas de um amigo
virando a tabuleta da vida 
- presa à porta que finda -
trocam por "perigo" 
o que seduz como "saída"

de noite, triste insone! 
de dia, pobre covarde!
enquanto durmo,
no sonho o sonho se infla de coragem 
e se atira do abismo onírico à realidade.
acordo para este muito 
muito tarde!

e ri irônico de canto um deus vigia
olhe bem senão é riso de alegria!
e canta do canto do quarto que
é sempre justo o fim
do que não pode melhoria!

se esse deus fizesse colo tépido 
do que é noite fria,
acabaríamos sem invejar
o que reina, o seu reino e nele o que 
depois de nós nem mesmo  o infinito sacia.

sábado, 16 de junho de 2018

Não custa nada...

Gripou?! Não custava nada calçar os chinelos antes de sair da cama...
Não custava nada tomar suco de acerola antes da gripe...

A esta hora?! Não custava nada ter ligado para dizer que iria demorar...

Usou meu celular? Custava nada ter perguntado primeiro...
Levantou. Não custa nada pedir licença...
Anemia. Custa nada tomar meia hora de sol matinal...

Teve festa! Custava nada ter lembrado de mim no meu aniversário, uma vez ao ano...

Não custa nada pensar duas vezes...
Olhar para dois lados antes de atravessar a rua...
Ouvir raciocínio contrário...
Recolher o cocô do seu cão do passeio público...
Custava nada ter trazido uma sacola...
Esqueceu? Não custa nada anotar um bilhete!

Não custa nada! É só você pegar sua senha e aguardar...
Sistema está fora do ar! O senhor pode voltar amanhã...

Volta amanhã aqui para receber!
Amanhã:
- Ah me desculpe, eu esqueci que você viria, eu estava na padaria.
- Custava atender o telefone?
- Custava esperar meia horinha? Um solzinho matinal faz bem!
- O que custava para você deixar meu dinheiro na portaria?
- Custa você voltar aqui rapidinho?
- Não custa nada você depositar na minha conta!

Não custava nada você digitar um contrato...
Custava nada ter recarregado os cartuchos antes de acabarem os reservas...
Não custa nada checar se tem cartuchos reservas...
Custava nada ter levantado a ficha do contratante...
Não custava nada ter pedido a minha opinião...
Custava nada ter falado logo de cara o seu preço...
Não custava nada cobrar mais barato agora...

Por que diabos nos custa tanto ir embora?

sexta-feira, 15 de junho de 2018

SE ÉS MAIS QUE UM CONCEITO...


...deixa-te ser o que convém para os outros! façam de ti o que quiserem na língua deles! queres atrapalhar o que convéns ser para quem precisa que alguém ocupe um papel por mais desimportante que seja? muitas são as vezes que precisam de um para que seja assunto! se te disseram mal, se disseram que atrapalhas... quem és para atrapalhar este argumento, quiçá catártico, quiçá divertido? não seja, além de atrapalhado, inconveniente de importunar que te façam atrapalhado. ora! e se te fazem pior em verbos e substantivos... de algum Judas a economia de existir alheia necessita! deixa que te pintem ao bel prazer na tela transparente de tua ausência. e, mais, faça branca a tela de tua presença. acaso concebas um Deus, o que ante ele seria mais elegante? acaso não O concebas, não te apetece sê-Lo?

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Mas ela passa...

A vida é dura!
O amor vai embora
com as belas pernas dela
no corredor por onde sempre chegara...
ou com a morte.

A vida é difícil!
A gente passa o tempo procurando
um abraço,
nosso descanso tem notas de indecência buzinadas no trânsito infernal
Somos todos o cão girando
mas é cara a coberta e mais caro ainda é o chão.

Quantas cegas tradições obedecemos cegamente?
Acaso eu construísse uma família
sofreria
Se não a construo
sofrerei
A dor tem a mesma validade
uma coisa ou outra
é apenas trocar a embalagem

Aquilo que não fizeste se torna um canto sedutor
a dizer-te por dentro que era o melhor para ti

Ainda bem que a vida é fácil:
Acaba.