terça-feira, 26 de dezembro de 2023

FÉ E FANTASIA

 À medida que de mim me afastava, menor eu me via. Mais de outro me vestia, publicava e experimentava num contra-pudor, num ego autocombatente, mais me fragmentava e me refazia... Me consertava pra um novo fingimento, e me dividia, e me perdia... Mas nunca me perco inteiro, porque tal nunca me achei. Pra se achar é preciso já estar divido em dois: um que procura e outro que espera. Às vezes, o que espera até reconhece o que procura a passar, ambos impacientes de não estarem um íntegro ser. E toda vez que o que procura acha o que espera, já não são o que era. Ser dois ou três, quanto mais, é ser menos um. Ser eu me soa pouco, muito estreito, não me atiro de cabeça, nem de peito, o corpo. Fico do alto a verificar que não me caberia, só me caibo morto. Eu? Herdei outro a fé e a fantasia.