quarta-feira, 31 de julho de 2019

segunda-feira, 29 de julho de 2019

até o café na cama

- me ajude aqui! não consigo colocar este amor dentro desta tarde! ele é muito grande, não cabe! devo esquartejá-lo?
- espere a tarde amolecer no crepúsculo... não é força, é jeito!
- tem certeza que se eu esperar a noite ele vai caber?
- não tenho certeza de nada! o primeiro passo pra fazer o amor caber é apostar! se ele é grande, coloque um pouco na noite! o que couber será satisfatório...
- ele é bem grande, um dia inteiro seria pouco para guardá-lo!
- o que ficar de fora você traz contigo amanhã de manhã, feito café na cama! um dia compõe mais que uma vida, amigo!

sexta-feira, 26 de julho de 2019

SEMPRE UM ESPETÁCULO

se fazemos teatro...
somos sempre atores a representar uma personagem...
sem a personagem somos a personagem de um ator apático desocupado.
fronha sem travesseiro
em que as cabeças não descansam do escuro
de estarem acordadas em vão
e não encostam sonho algum.


sem a peça resta um vazio.
ao homem não falta um chão que não seja um palco.
mesmo os bastidores de uma peça são o palco de outra!
pois onde quer que haja fala, 
 cenas, há coadjuvantes e antagonistas...
o homem inventará deus e o diabo apenas... 
...para que não lhe falte plateia no monólogo!


é isto e só: ou nos damos ao público ou ao nada!
ou nos preenchem personagens ou vermes
logo, ou atores ou cadáveres!
escolham seu papel!
caibam!

deixamos um bigode, pintamos o cabelo,
trocamos de figurino, de amores, de espetáculo, de cartaz... 
atrás de um sucesso de crítica e/ou bilheteria.
se flagram uma incoerência 
é tão somente a falta de um "continuísta"
e o espetáculo se torna inverossímil!
ou apelamos pro fantástico, pra fábula...
fora isto...

bem, fora isto...
não há pensamento, não há anseio, ensaio, entusiasmo...
não há! ora, ao menos ninguém nunca viu!
pois se algo assim fosse presenciado, 
imediatamente se abririam as cortinas e
eis que seríamos plateia atuante.

não há avaliar entre "verdades e mentiras"
mas entre "boas ou más atuações"...
"bons ou maus espetáculos"













O homem precisa de pouco para se enganar,  quase nunca há o bastante para ele descobrir.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Do "Oi!" ao "Ai!"

Nem sempre há paciência e arte para se subir degrau por degrau do "Oi!" ao "Ai!" estendendo um mútuo prazer na gradativa ascensão. Ora! Ascensão?! Nem sempre tal percurso descreva um aclive.

sábado, 13 de julho de 2019

Esquecimento do futuro

É comum a juventude esquecer o futuro certo: a morte. Como se pode ser ou se pressupor governado pela razão quando a única e maior certeza é ignorada?

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A sensibilidade sabe muito bem que não há frio que justifique banhar-se com água fervendo. Já a insensibilidade e o ódio não se preocupam com justificativas: a insensibilidade sabe se disfarçar muito bem, até mesmo se faz caber em trajes nobres, justiceiros... Já o ódio não tem tempo pra isto, ele não enxerga um palmo diante do nariz. Como veria o tribunal?

quarta-feira, 10 de julho de 2019

a memória também sofre formatações. não sou capaz de sobreviver com ontens íntegros.

contra a verdade, o preconceito a favor da vida.

fere menos a derrota do que sua publicidade

SERIA BOM

-se eu fosse você....
- ...esta conversa não existiria!

ao derrotado resta buscar a verdade

O PAI DA MENTIRA

a verdade não tem propósito,
não age.
é tal qual a pedra.
não é um sujeito
 nem objeto de autoria!
não responde,
não salvará ninguém,
nem matará!
permanece incólume ante as barbáries,
 fértil e vasto campo impassível ao amor e aos holocaustos.
é a doença, o vírus, o assassino, 
os mortos, as vísceras, os vermes... 
enormes e cotidianas filas para a vacina, tecidas pelo medo, 
a nos deixar doentes! 

a verdade nos tem sem vice-versa.
não somos suficientes para detê-la.
a verdade não tem mãos de insculpir, 
braços de acolher,
pernas de prosseguir.
contudo, para onde vamos fazemos uma verdade,
não nos faculta outra coisa,
pois a verdade é o especifico e estreito possível que se realizou
contra uma suposta infinitude de hipóteses.

o homem pretende trajá-la (disfarce), portá-la, diz agir e falar em sua promoção...
ora, a verdade não precisa de crentes, advogados, promotores, juízes... são todos aparatos do nosso desconhecimento, ó prepotentes!

mente quem fala em nome da verdade, assim como quem fala em nome da amizade, do amor, da justiça...
pois um homem não fala senão em seu nome, 
por si mesmo e por seu interesse, 
oculte-se ou se disfarce este interesse como lhe convir,
inclusive venha aqui um interesse me desmentir!

pense numa verdade fixa a esperar nosso descobrimento,
 uma verdade a se mexer num ritmo que saiba dançar nossa compreensão;  
digo, que possa lhe dar as mãos, abraçá-la,  
que se faça suscetível à nossa posse e manejo 
e que assim nos seduza, nos agrade... 
que seja um fio de voz a nascer num alto monte 
regato de água translúcida de onde bebe um messias
para falar de uma necessária submissão ao que é límpido, transparente, insosso e inodoro (desinteressado), regato então que apregoa como mentira as suas próprias margens, o próprio outeiro onde nasce,
e que espera dos homens, este barro, esta lama, uma obediência, para assim purificá-los!
uma verdade que louva sacrifícios e  angaria porta-vozes,
que deles depende;
que adora verbos, que adotou a gramática, que exige crença,
que grita, se exalta, uma verdade com calor humano, com forte odor de impotência humana...uma verdade que propõe o homem como água suja!
quem quer que pense isto com seriedade termina numa gargalhada e percebe que
 então descobriu o interesse envergonhado:
o pai da mentira!




segunda-feira, 8 de julho de 2019

INALCANÇÁVEIS

tantas coisas me passam, voláteis... enquanto dirijo, enquanto como pipocas, enquanto uso o sanitário, no meio da leitura de um parágrafo... um decolar das objetividades! de repente, desejo de escrever um livro, de fazer um samba num dia de sol como ontem... uma estranha potência para a vida, um gosto de uma saudosa fruta perdida na boca, sem a fruta mesmo e o trabalho de plantá-la, cuidá-la das pragas, colhê-la, mordê-la... a fruta das ideias, as sensações... essas flores-sensações, alimentadas no esterco da ignorância, do esquecimento de tudo que ainda pouco nos desnorteava: pensava em resolver-me com um fim, uma lâmina, com monóxido num quarto... parece que sem a ideia do suicídio, não posso mais viver! preciso sempre estar a batucar, a testar a porta de saída. 

voltemos a ontem! batucava no volante, no trabalho... batucava um entusiasmo meio orgânico, que não era fruto de um resultado, mas pura sensação de ter sob os pés, talvez, um mesmo mundo que tive moleque, ingênuo, mais inventor que descobridor de tudo; assim, menos oprimido pelo que via, mais gozador do que inventava. ah! quando o mundo era ainda uma argila maleável, depois virou esta pedra dura e seca, este tumor no pensamento, cada vez ganhando mais terreno pra angústia, e inclinações suicidas. não era um resultado, não era pois produto de um mérito aquela sensação boa de ontem... que durou até o sol se pôr. a ausência de cálculos, isto sim!  

mas se alguém me dissesse para então pôr em prática... parar o trabalho e tentar organizar uma roda, levar os equipamentos para um bar e ir tocar... importunar as pessoas já tão convidadas por tudo, vendedores comissionados, propagandas, distribuidores de panfletos... as pessoas querem ir e encontrar, e não sair para promover nada! na folga elas querem se esticar, comer a torta e não fazê-la, sujar a cozinha, as louças e ter de lavar...


me pego a pensar em todas as tecnologias que nos fazem poupar tempo: geladeira, máquina de lavar, fogão, celular, computador, internet, whastssaps, skypes, uma filha em londres nos evocando numa cozinha em tókio! tudo necessitando de atualização, gerenciamento, consertos infindáveis, notícias, remédios, químicas para permanecer, químicas para findar, químicas para nascer... formatações para nossa cabeça, para nossos aparelhos de viver em cacos... para viver num mundo suposto! tecnologias que tornam a vida mais prática, consomem menos tempo: mas ora, diabos! deus! pra onde foi este tempo? as pessoas parecem-me mais quebradas, divididas, descontinuadas, híbridas desaustinadas, sequiosas de silêncio, natureza... exaustas de mensagens, letras, anúncios, convites, promessas, ódios apregoados, perdões solicitados, culpas incutidas... por fim, a roda de samba, o livro... estragava tudo ensaiar transformar estas coisas em realidade. 

pois é isto! sinto-me muito inclinado a não ocupar espaço, a evaporar... toda requisição fede a erro crasso! é só comigo mesmo o mundo legal, o outro só tem a destruí-lo! não sei como posso existir depois de ter existido. não sei como me atrevo a continuar, sou um constante desaprimoramento, venho rolando pela escada de qualquer decência para as manhãs que nascem, óbvias e claras! a moça que não respondeu, o devedor que não me deu bola e me fez de otário... tudo me redunda o erro de ter sorrido pro outro, de ter me dado ao convívio. 

a roda de samba, o livro escrito seria para meu filho... pobre!, que lhe dizer? que está errado o idioma, pois não dá conta da realidade?! que realidade melhor que esta limitada, qual nos fornece a ilusão que damos conta de algo?! pobre menino a ser dado a isto que é apenas "isto": nem vida, nem mundo, nem ordem, nem país, nem nada... uma selvageria disfarçada, mil vezes mais astuta, ardilosa do que a lebre na boca de um tigre, mas ainda "a lebre na boca do tigre"! que lhe dizer, augusto? que os cálculos são uma tolice?  talvez você "nasça pra estupidez da matemática e ache nisto sua maior alegria!" um livro pra ele... ora, que ele desfrute do que quiser, aponte em mim loucuras, infâmias, crie seus valores em admiração e contraposição... não fui fazê-lo, fui ter um gozo! ele é outro, alheio, como tudo... apenas abraçá-lo, ainda que não seja meu, cuidá-lo, para que ele sirva sem doer a este mundo! apenas ele quero aqui fora, por ora... se houvesse mesmo mérito, eu seria indesculpável pai! 

na minha cabeça, sentimentos passageiros, tecidos de uma maneira imprecisa, disforme, mista, escorregadia; diria que se trata de uma boa sensação vestindo os retalhos de bons momentos passados: escritos, rodas de samba, beijos, o ar em torno de mim, flutuando, jogado pro alto por meu pai... sensações, nada mais! quando penso na roda de samba íntegra, real, em produzi-la, me desgosto! sente? as pessoas, os lugares reais em que isto poderia acontecer... tudo maçada! culpa! imprudência! sente? se sente, é só seu! você está só, aí, do outro lado da palavra, do vidro... somos inalcançáveis!

domingo, 7 de julho de 2019

o bairrista

tá vendo esse velhinho aí travessando a rua?, tem mais de cem anos!
vira aqui à esquerda, nesta padaria!
ó! biscoito de queijo daí, já comeu? melhor da cidade!
logo ali em frente mataram um esta semana.
aí!, perto desta construção, que foi um primo meu quem fez o projeto...
lá em cima serão os restaurantes! tá vendo as vigas? tenho um medo disto falir.
e vão construir dois sobrados no terreno seguinte.
o dono... só um dos filhos dele não tem imóvel próprio ainda.
...pega aqui na segunda saída da rotatória, melhor!
costelaria aí é cara demais. e vive cheia, hein! 
conheço os proprietários.
semana passada tive aí, nem me cobraram a conta!
à direita!, atalho!
você não é daqui não, né? nunca te vi na história!


quinta-feira, 4 de julho de 2019

o amor não existe

Com relação ao amor, não há recompensa maior em o praticarmos do que nisto o estarmos inventando, construindo-o e não exclusiva e necessariamente o descobrindo, menos ainda agindo sob uma sua clara regência, divina e antecessora à nossa própria existência. 

Que uma outra parte não retribua ao amante seus "investimentos", não é o total do que se quer importar, pois a reciprocidade é apenas o que se espera a curto prazo. A qualquer modo, amar lhe retribui com a engenhosa construção de um mundo melhor: ao fazer do outro tal importância em sua vida, o amante esta agindo inconscientemente ante a necessidade de fundamentar a crença num mundo menos selvagem, egoísta, egocêntrico, incivil... O amante representa: sozinho, à noite, o objeto de amor é enaltecido, para causar-se aparente desinteresse, pois se feito em total particularidade. Não há amor sem representarmos tal gênero teatral: ator-plateia. Amantes, não percebemos aí o terreno que seria de pesadelos, caso não fosse dominado pela heroica imagem do ser amado e do próprio amor. Sim! Apagamos as luzes e inauguramos este mundo amoroso, altruísta, a despeito de toda claridade vivida! - Isto sim é o que é! E não que tal mundo maravilhoso exista terceiro e esteja sujeito a ser encontrado por merecedores, tampouco que - por outro lado - seja algo nítido, tal grandeza impossível de se ignorar; portanto, com qual rocha todos tenham de dar inevitavelmente no caminho-vida. Não! Trata-se de algo que, não obstante seu caráter inventivo, pode ser crido, ou construído, se investido num determinado terreno. Um favorável terreno à uma necessidade de "entendimento da vida", talvez fosse então melhor chamá-la de "necessidade de desentendimento". Qual necessidade queira desentender obviedades demasiadamente fortes, duras e claras, tais como: "a indiferença do universo"; "a finitude da vida" - em outras palavras,  o amante se propicia, ator e plateia-distraída, um mundo em que o amor reina; ou seja, sob qual reino ele também concorre à sorte de ser o centro, a razão de outro viver. Não é mesmo provável que o seja para um e outro? Oh, santo consolo! Oh, pretensão! 

A nossa recompensa maior, enfim, é podermos assim, com flagráveis gestos de afeto, constituirmos provas da existência do amor. Este abstrato remédio para o fato de termos consciência. Em suma, atos amorosos são antes a gestação, a renovação, transformação, invenção do amor. "Atos de amor desinteressado" são argumentos facilmente refutáveis. Quem se interessaria, no entanto, a advogar contra, mover contra si a ira dos românticos? Quem seria tão desagradável em nome de uma suposta "Verdade"?  Não o faria antes em nome de um suposto rancor? Por que caluniar todos os interesses humanos-individuais indiscriminadamente? Ora, porque a civilização não sobreviveria sob a popularidade desta visão! Porque as desrazões são pilares, são itens de liga a conformar uma massa! Afinal, que ânimos violentos a esperança no amor não acalenta e põe para dormir o sono dos justos? O amor é o efeito de uma peça teatral, filho de uma necessidade, parido pela humanidade, resposta a uma atenta audição do silêncio do sentido universal, uma obra de arte suntuosa! Não um nosso Deus Imperador, Pai... Pois sua paternidade seria incompetente a nos educar com a dureza necessária à suportarmos ter consciência da vida. Ele se parece mais com um santo ocupando um nicho de existir, preenchedor de uma falta grave! Ele é antes nosso fruto! 

Um teatro?! - ouço indignados. Respondo-os com outra pergunta: Supõem que tal caráter de arte diminui o amor em nobreza? Por certo que acostumamos a divinizá-lo. Ainda precisamos acreditá-lo Deus ou podemos contemplá-lo humano sem degradá-lo, quebrá-lo como um peso que cai do céu sob a lei de nossa gravidade racional? Ora!, para o endeusamento do amor, para a fé no amor, torna-se indispensável o teatro "noturno" desapercebido. A crença na cena fictícia é infinitamente mais importante à saúde da alma do que a verificação de uma indiferença universal e a investigação de nosso ego, eis justamente os elementos que o espetáculo contraria para converter-nos de potenciais apáticos - céticos habitantes de uma vida insignificante - em efetivos entusiastas - devotos do Amor. 

Se "amor" é um termo antigo, se antecede nossa geração neste sentido e também conceitualmente, também o faz a linguagem, sem inferir, tal caráter de antecedência, que ambos sejam impassíveis a um processo de reafirmação e alteração. Em linhas conclusivas: O amor é fruto não da copa da árvore, mas da sombra que ela projeta no caminho-vida, sem o que este seria intransitável. Sombra em que descansamos nossos olhos da luz. O amor não existe, logo, é imperioso fazê-lo.

terça-feira, 2 de julho de 2019

NO CALOR


 a água evapora,
o sentimento se apalavra,
uma é sede de engolir;
outra, de pôr para fora.

uma é fiel substância do que vem: 
transparente, insípida e inodora.
da outra não sabemos bem: 
o que mente, significa e ignora.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

dispepsia

este refluxo,
este desconforto estomacal..
outrora seriam apenas os pastéis 
de ontem...
 - minha reação à farinha refinada.

mas não!
estes diagnósticos não disfarçam mais.
o que não consigo mais digerir
e o que teimam chamar de justiça 
nisto que chamam pátria

é o que usou o verde 
como um sintoma doentio
e fez do amarelo a covardia.
haverá um esquecimento que consiga
lavar de toda semântica terrível
que encardiu estas pobres cores?

este desconforto subindo do estômago
ao esôfago, laringe...
escapando em voz de verso
é mais um lula preso
em flagrante 
descaramento de um país!





LEANDRA LEAL

Sabe aquela figura que te conta uma coisa boa? Não sei exatamente o que há nelas, mas há algumas figuras assim, em mim Leandra é uma delas! Não parece ser por um carácter específico, mas o que há espalhado nela e o que isto comunica em movimento, tom de voz e mesmo na estética estática de uma fotografia; seja como for, a mensagem "Leandra" é reconfortante. Deve ser porque me remete a um tempo digno de saudades: juventude, quando havia uma tv e gente na sala de casa. Algumas pessoas famosas têm este poder de representar em nossa vida, para simpatia ou não. Claro! Sempre sem se darem conta. Gosto de ver sua imagem, pois ela está por aqui desde muito tempo, apesar de Leandra ser mais nova que eu! Pois ela está aqui, sua figura, mesmo através de sua mãe que, como uma tia avessa, cozinhava na sala tomando emprestado o aroma da cozinha lá de casa. Era isto, desembrenhava-se de um "Pantanal", transformando sua fisionomia em familiar antes mesmo de você nos aparecer! Sua mãe, de quem adivinhei que provinha antes pela semelhança do que por saber a Lealdade do sobrenome. Deve ser isto! Esta presença que ela teve no passado, como uma prima menina, mais nova, que falasse confeccionando "nossas" a mãe e as tias que, consanguíneas, eram apenas minhas, e lhe emprestavam bastante atenção, Leandra, a ponto de nos mandarem sair da frente... E você, "prima", as comovia com um timbre sem acidez crítica, predominantemente consolador, confessional, derramando amena essa voz-que-consegue na sala. Às vezes, você sussurrava amores, confessava dores... Pois é, você também foi feliz lá em casa... Bem, eu não ligava ouvidos muito atentos; digo, suficientes a apanharem o sentido do que você entornava, mas me molhava sua existência! Ficou de "Leandra" um suspiro, talvez uma semântica similar a da panela desfazendo-se dos vapores na cozinha, anunciando que havia uma família, cuidados, afetos a serem alimentados, acentuando o lar como doce, prenunciando que minha avó nos evocaria pro almoço e até meu pai, sequestrado pelo comércio, estaria à mesa... Sim! É! Acho que é esta ternura que há em vê-la, como um aroma que rescendia de uma vida distraída e que hoje desenha uma falta. Bem... Leandra ainda existe, isto é notícia boa. E se ela ri, é que nem tudo está perdido... e viver é um pouco sonho!