sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Pouca autoria

o lugar, o momento,

a regência de kairós,

a necessidade, o sentimento,

pouco autores somos nós:


oprimidos pelo tempo

servido em cronologias

o dever e o cumprimento,

as solúveis euforias,

que nos deixam a ver o vento

e a versar melancolias.


o desejo parindo pais

a fome apertando o cós

um acaso nossa paz

outro acaso nosso algoz




quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

germe passional

parece que toda paixão se inicia assim: uma faísca do acaso acendendo um olhar, uma voz, um caminhar, os movimentos das mãos, a intermitência do piscar de olhos, uma postura reservada inoculando uma curiosidade... pronto! do resto da figura se encarrega nossa carência! o que não sabemos é esculpido portentoso na fôrma do que nos falta, daí aquela sensação de encaixe perfeito! fruto de uma ilusão, claro! mas que importa não é a realidade, mas o sentir. alguma coisa do outro ou alguma coisa externa: uma droga, uma fé, uma mulher... algo que nos recheie com entusiasmo, uma figura vista à meia-luz, tão só um vislumbre!  uma flor fertilizada no tédio, suas cores florescendo num mundo em preto e branco. uma oportunidade irresistível para escapar de uma realidade monótona e adentrar no sonho que colhe da realidade alguns ingredientes idílicos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

ver essa gente sossegada em pequenas vidas cotidianas pode ser perturbador para alguém que passe carregando a consciência do tempo e do fim.



Esse medo todo que nos governa tirano não vale a pena. É preciso disto fazer um mantra: "Esse medo todo que nos governa tirano não vale a pena". Um samba! Um axé! Que seja o castigo escolar escrever mil vezes no quadro! Que a palavra entre e deflagre feito sopro em brasa, sem deixar de receio mais do que cinza esquecimento! Vire ato! Que alguma estupidez - que seja! - substitua a prudência fungo do medo. E a alegria seja de entrega, se tiver de ser, à morte até! Em nome de uma vida menos encolhida na esperança, tolhida, como se houvesse após para qual se guardar. Abaixo o futuro como pretexto de sermos pouco presentes. A paz mercadoria oferecida perdeu embalada a validade.

sábado, 20 de novembro de 2021

Efeito colateral civilizacional

muito da delicadeza, gentileza que entregamos ao outro está no silêncio que fazemos e de alguma maneira nos custa. é um "não-ato", não obtém reconhecimento mesmo de quem com tal omissão favorecemos. por isto é tão difícil calarmo-nos, comportarmo-nos assim! mas quanto nos custa deixarmos de ser espontâneos, calar em prejuízo da vontade, em nome do convívio e das necessidades civis? ou quanto custa não falar em linha reta em prol de não magoar? quanto tempo e intelecto despendido? o que nos acontece por dentro em decorrência disto? em outras palavras, em decorrência de não sermos mais crianças? ou seja, por consequência da civilização e suas boas maneiras?

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

NÃO SONHO COM REALIZAÇÕES

meu sonho é sonho, não sonho com sua realização. termina quando acordo, às vezes sem deixar claros vestígios de haver acontecido em sua dimensão onírica. acaba quando cumpro obrigações contratuais da vida cotidiana. e é retomado num ócio em sua autossuficiência de não pretender assumir a matéria das coisas que me cercam tal obstáculos, as coisas que se dispõem a um uso mais pleno e opressor de meus sentidos e estão sujeitas ao cotidiano gravitacional. coisas que por suas formas, e não por nossos desejos, obrigam-nos a lembrá-las e a percebê-las, agarrando-as ou desviando delas. pois desta forma os sonhos perderiam seu poder, encontrariam os obstáculos físicos e estariam em breve cansados de ser, como tudo que acontece na materialidade! não atravessariam mais as paredes de meu quarto, não abraçariam mais o meu gosto, dariam com o nariz na porta! não teriam esta afinidade que tem com meu bel-prazer. tivessem então de preencher cadastros, dar entrada em processos burocráticos, carregar protocolos, comprovantes disto e daquilo, documentos, me disporiam a sacrifícios diversos comezinhos e cotidianos, como um roedor do tempo, da vida. me sujeitaria a prestar explicações aos outros de seu itinerário, a acordar cedo, escovar os dentes de rir, calçar os sapatos, ir ao trabalho... gosto do caráter do sonho, de sua imaterialidade, de livrar-me dele lavando louças ou embarcando em outro pequeno delírio, de retomá-lo. a liberdade do sonho me seduz! gosto de seu imediatismo, dele estar livre dos contratos e políticas; amo seu caráter antes "fruto" (resposta) e não "promotor" do caos . não quero estreitá-lo em camas, mesas e banhos da realidade comum. pois sim! pode soar contraditório que eu cobre do sonho alguma relação com a realidade: a verossimilhança; que ele tenha o tempero da possibilidade. mas é que um sonho pede entrega; logo, exige alguma credibilidade. para, convencendo, converter sentimentos apáticos em animados. e  eis ai seu grande feito! sim, ele é mais intenso quando aparentemente possível, mas não esqueçamos que "possível" é ainda o não-concretizado com aptidão maior que o real para nos entregar prazer, e assim conduz nosso comportamento. o sonho tem um poder incrível enquanto sonho mesmo, sem precisar de pontes, projetos que visem sua materialização. enfim, meu sonho não é algo saindo de mim para chegar à realidade, é a contramão disto: a realidade se ajeitando para se manifestar gozo em mim.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

não quero brincar com as emoções no sentido de enganá-las. quero levá-las a um passeio num "parque de diversões" com estas sabendo que se trata de um "parque de diversões". você gostaria de salvá-las para um altar e jurar-lhes eternidade? bem, talvez este seja o nosso grande erro! 

não espero da vida mais que a vida; nem do desejo, mais que o desejo. quem não sabe se dar a uma tarde boa, se desculpa que só se dará a seriedade do eterno. talvez não saiba se dar à vida porque não é eterna e não tem garantias. ora, é errado culpar tardes descompromissadas e espontâneas por nossas frustrações, elas advêm de nossa pretensão e expectativa ignorantes do real.

sábado, 30 de outubro de 2021

Meu engano se reduziu ao ponto em que não espero mais entendimentos, então faço versos em vez me dar às conversas. E é como ser um ateu que ora, pois não é questão de crer em Deus, mas de ter palavras sem destinatários ou interlocutores. Jogá-las como um bilboquê, mexê-las como um objeto a que se entrega mãos inúteis distraídas. Perdeu-me a expectativa-eu, que era a que projetava o outro.

gosto de pouco.
ando cansado de muito.
não passo bem com estes séquitos.
melhor assim que ser mouco?

e este bando de louco
errando desde o intuito...
trazem os superlativos
como máscara 
para o sentimento embotado.

eu ando tanto amolado
com este quanto enganado
quem na matéria está vivo
foi na manchete enterrado.

o slogan é um grito.
é o produto exagerado.
a embalagem é inflada
no super do supermercado.

o mundo no horário comercial.
e os personagens na vida real.

amar é muito!
muito é muito!
tudo é muito!
isso é muito!

é muito amor às cegas.





domingo, 10 de outubro de 2021

 temos a lâmina de algumas sentenças para cortar a carne de algumas respostas

 a vida é o vento da tarde

nas copas

vistas da janela de uma cozinha

não há que fazer alarde

por conta de uma coisinha.




DE LUA (DILUA)

 uma pessoa que se guia pela esperança

é uma mariposa

que esquece a natureza

e se perdendo da lua

finda-se contra ordinárias lâmpadas

que têm por universo o Tédio dos sóbrios


quem não percebeu que sempre é por enquanto sequer abriu a janela.

meu verso não pergunta se gostas. apenas é a pedra posta no meio do seu caminho.

eu não sou um controle sobre mim

 parece que por trás das palavras inusitadas que sua sintaxe insinua

existe um sentimento único que se atira inteiro - suicida - por sua língua

mas nada está garantido! nada! 

na vida toda! 

por isso que a gente sonha:

a realidade também não tem chão.

o planeta flutua .

a vida certa é dura,

a boa é a de ilusão!

mas há quem as confunda de uma maneira encantada.

já quem as discerne tem sempre um ar doentio.







 a gente deve cuidar pra não ter somente a expectativa do infinito

e transformar tudo em insignificante

há um pequeno canto da casa que te faz melhor

uma intimidade com a água esquecida

há pequenas vidas no chão

de quais você tem nojo

as paredes precisam ser vistas

janelas precisam ser fechadas





 os ditos de amor para mim são como homens que dão tons gratos as suas palavras como que a uma fonte que aparecesse ante sua sede

e os de ódio são como de quem tropeçasse em uma pedra

e aspergisse sobre esta a sua fúria em vernáculos

ambas as coisas parecem uma vontade de sentido 

que habita um meio de  infinito sem razão alguma.

pródigos acidentes que semeiam dogmas

na fértil sem-razão dos homens.


é inevitável que fechemos os olhos cansados de cores e luzes

que não levam a lugar algum

e gozemos em nosso escuro particular miragens

que a concretude indiferente não reproduz

razão só se encontra motivo num certo grau de loucura

razão que a gente desleixa mais tarde nos procura

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

 Há tantos feitos e gestos de aversão em comum com os de amar.

Toda ação são fichas de um jogo de azar.

E no fim das contas se cobram propósitos

A despeito de que só se pode apostar.

SILENCIAR-SE

aprender a calar-se antes do fim.

sobretudo a não cometer o pecado de se pretender compreendido.


não me sei.

não me posso. se me acho um pouco, já sou outro!

pois quem eu era imediatamente antes não se sabia.

e mais... me fazer compreendido?

quem me compreende me faz menos:

passível de caber em sentenças, definições...


aprender a deixar as coisas insatisfeitas como quem lhes dá vida.

saciedade é fim! é neutra. é como o que não nasce. 

tão só aparece.

é preciso saber circunstancializar o silêncio

como a cortina para o escuro.

recolher-se. 

amadurecer é abandonar o engano divertido de supor-se convincente.

coadunar com a sabedoria de que o homem mal de si mesmo se convence. 

quem dirá de outrem!


a vida que vinha mentia o destino ser poesia.

viver melhor é rumo ao silêncio porque é assim que é

e  me apetece deveras concordar com inevitável.

eu e a morte tocamos numa mesma orquestra



poesia é qualquer coisa incômoda

no meio do caminho:

tempo que parou num assobio.


a expectativa de comunicação

 é mais tola do que o verso

que é mais tolo que o silêncio.


dos erros perante meu juízo, 

os menores possíveis!

é um pecado maior  quando se fala algo para esculturar boa aparência.


não sei que devo parecer, 

não fiz planta para mim.

eu me deixe ser ruim se ruim é a natureza.








segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Está muito caro abrir a geladeira.

Vai aonde?


O trabalho está para o enriquecimento como a pluma pro açoite. Lava o mofo de suas decências teóricas, quara este sonho! Deixa os olhos fechados no quarto, criança! Vai aonde deste jeito? Tira da cabeça esta perfeição - coisa esdrúxula! - parece impotência adiantando desculpas pelo que não fez.

sábado, 7 de agosto de 2021

 É mais compensatório trabalhar para gerar encantos do que entendimentos.

Um homem é metade do caminho para um erro: é preciso que um outro o interprete.

Tragicômico

Às vezes, questiono se nem naquele estágio em que julgo sobriedade eu estou encostando no real: sabendo avaliá-lo; descobri-lo ou tão só senti-lo: supondo que ele não seja algo a ser descoberto. Também não poderia duvidar de que, mesmo muito louco, da realidade não se escapa. O próprio sonho não é real? - de que suspeito, diga-se de importante passagem. Talvez eu tenha apenas graus de delírios... aceitos, aplaudidos ou rejeitados... E meus estados de ânimo variam conforme posso crer em um ou outro. E crer em um ou outro dependerá de meu estado de ânimo? Sei lá! Nem sei quanto eu consigo ser fruto de meu propósito! Tenho propósito? Que atrevimento! Você diz "Sei lá!" Eu, "nem sei se eu".

A falta é muito mais uma inventora do que uma investigadora

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Bom pra dormir, sonhar, apaziguar.

Uma das vantagens da falta de clareza  é a sensação de plenitude na aparente conciliação entre afetos e razões. Desfruta-se deste sentimento, pouco importando que a sua fonte seja mais delírio que sobriedade, ilusão que realidade.

Arco-íris

A desilusão é fruto do alvorecer.  A felicidade com as cores do dia não é felicidade para todos os seres, por não suportarem a lucidez que a pluralidade exige e/ou a pluralidade que a lucidez apresenta. Há os que vigoram somente em alguma escuridão, porque esta lhes dá guarida. Para o ser humano a escuridão aterroriza e promove um bom sonho, porque, impossibilitando os olhos, aguça a imaginação. E alguns não suportam abri-los para o que não corrobore com suas monótonas crenças noturnas. Querem preservar  suas suposições da luz que as dissolve.

Diante de algumas "comunidades" - no sentido de visões, filosofias, opiniões -   a dignidade está na solidão, na absolvição pela loucura e antes na condenação. O que não se pode ser é "aceito". E o que mais nos causa repulsa é seu objeto de devoção ou admiração.

Deus não é perfeito, mas incorrigível.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

-Tudo sob controle?

- nunca está! mas a gente esquece,  e vive o esquecimento, e nele as sensações boas que ocupam os largos deixados pela ausência da consciência do real.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

FLORESCENDO AGOSTO

 dezembro que vingou em gente

semente do meu prazer

meu siso agora é seu sorriso

sem dente gostoso de ver


juízo pra seguir em frente

preciso ver você crescer

agora sou um ascendente (quem diria?)

quem poderia dizer?


menino que me faz contente

aqui te olhando adormecer

criança de brincar com a gente

lembrança de quem quero ser


desde quando vi seu rosto 

florescendo agosto

quebrando o inverno

fruto, sinto aqui seu gosto 

derramando em xote

meu amor paterno


sexta-feira, 16 de julho de 2021

Quando doido

 Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos

sábado, 19 de junho de 2021

NEM UM



O orgulho que impede de ser "mais um" não necessariamente leva além. Quem nunca é "mais um" é Ninguém.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

POEMA ANTISSURTO

elegância é caro: 

tem que engolir muita saliva que se queria cuspe.

civilidade é por um triz...

quantos dias deixam de ser um qualquer

sob o protagonismo de um qualquer?

vai guardando o lixo no bolso, na bolsa...

leva contigo a cantada, a porrada, a morte dos teus promovida, a humilhação na avenida,

o sorriso rangendo dente pro atendente da padaria...

gentileza e pão caríssimos sem manteiga. a seco! 

entrega uma boa menina, um bom moço

pr'um mundo digno de fim. 

vai guardando a raiva no medo 

feito um quilo de caco de vidro numa sacola de plástico,

pois no oceano o crime é menos flagrante!

o problema vai pro lixeiro que o carregue!

outro que sangre o meu descuido!

plastifica-te pra não prejudicar o passeio público 

contigo de verdade. 

sobe ao patíbulo e cumprimenta o algoz,

porque a responsabilidade está amarrada em nós:

a união fez a forca.

a gente olha pra multidão e não sabe onde se deixar com a alma caída.

engole! diz "Bom dia!"

num tremendo aperto e ânsia arranja às boas maneiras os gestos largos e graves!

temes a morte?

não te exaltes: no caminho do progresso, a morte é atalho!

engole o ódio e segrega versos!

não podendo estrangular o diabo

e, diante de tudo, deus nada comovido,

em lugar de inúteis surtos e rebeldias...

... deita tua inutilidade na poesia.


Comumente o que um religioso tem de melhor é ser pouco religioso.


sexta-feira, 4 de junho de 2021

DESALGORIZAR

Viver algo é impossível. 

 Seria não sentir.

O que se vive não é o.

Não há que. 

"O que" não tem vida.

Não se vive algo. 

A vida é propriamente desalgorizar.


























quinta-feira, 3 de junho de 2021

segunda-feira, 31 de maio de 2021

MULHER PASSADO E HOMEM PRESENTE

- sei lá! acho que começou num aniversário... "parabéns!" coisa e tal... daí uma dica de roupa. - super antenada! muito atenção ao que que eu precisava, como ninguém antes. nunca! sempre preocupado com que eu estava pensando. e às vezes eu nem estava pensando nada! muitas vezes eu dizia qualquer coisa - sabe? confesso: pra me libertar! pensava um sapato... minha filha...  já vinha com o vestido! uma atenção pra além de mim... precisa ver os vídeos que me mandava: eu, meus familiares e amigos... fez um book do meu filho que me cortou coração! agora... escuta: um ci-ú-me! um pouco obsessivo, sabe? quer minha localização toda hora, ver minhas fotos, minha câmera... se deixar grava o que eu falo pra me cobrar depois... mexe em tudo! mas é um so-nho! aliás, está sempre se atualizando nos meus sonhos. relação estável! brincando falei em casamento... apresentou hotéis fantásticos... e as alianças?! nem te conto! 

- nossa, amiga! como que ele chama?

- algoritmo.







sexta-feira, 28 de maio de 2021

NÃO TENHA VERGONHA, POETA!

não tenha vergonha, poeta,

se "há soldados armados, 

amados ou não",

o pior que sofremos 

é para que resultem versos.


não tenha vergonha,

o mundo é um hipérbato:

antes vem o verbo.

deus é um eu-lírico,

esperando outro 

para deitar, descansar

e chamar a eternidade de "paz"!


não tenha receio não,

 a vida é de uma semente.

toda a lama que sente 

é de parte ser raiz

para que a poesia

exista na copa

prestes a alçar voo

em pétalas.


para que isto se flagre

é preciso olhar para a tona

tendo olhos como peixes no ar,

flores como isca,

que fisga e iça do chão.


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terça-feira, 25 de maio de 2021

A PERFEIÇÃO INIMIGA.

Se a pressa é inimiga da perfeição, há muitos casos em que a perfeição representa um obstáculo ao fazer; outros, uma desculpa para uma morosidade que põe a perder a oportunidade. Por essas, a  perfeição é uma inimiga da realização. Aliás, a perfeição não é amiga de ninguém, coloca defeito em tudo.

 "Se" perdeu.













segunda-feira, 17 de maio de 2021

BOM DIA!

alma carente

ama no "bom" casa no "dia".

cabeça vazia tá esperando ela

 o início é o topo de um edifício.

a noite de núpcias é um elevador até o térreo.

pés no chão, pá na mão!

separação é homologada na portaria.

cada um no seu celular.

a guarda dos filhos é compartil-hada.

ele fica com os espermas

e ela, com ovários.

cada um com direito a prosseguir como promessa à alegria alheia.

do subsolo, pedindo pra subir,

agora eles só aceitam um caso se for até a cobertura.



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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Hoje fez sol 

Eu não sei fazer



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segunda-feira, 5 de abril de 2021

VOZ DE VERSO



O timbre da avó que pela janela chamava para o almoço verteu-se voz de verso. 


Abro o portão. Adentro o corredor estreito na memória...


Ela serve os pratos na mesa da lembrança.

E a falta que faz o aroma encerra uma poesia.

domingo, 4 de abril de 2021

 Diante dá impossibilidade do absoluto, não desanimar de fazer o possível



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terça-feira, 30 de março de 2021

 A vida não é um filme. Pro final ser feliz, o durante tem que ser péssimo.



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quarta-feira, 17 de março de 2021

Mais do que entender, muitas vezes desentender o que o outro diz é a melhor maneira de nos entendermos.

Poesia é a fruta que colhe a mordida

 uma coisa que ainda pode me encantar um pouco é o processo árvore 

que dá aquela fruta da terra colhida

que dá naquela cor que espera aquela estação

se resta um pouco de mágica, está nisso

não quero entender nunca o processo árvore

não quero um gosto de bula 

em vez de uma poesia 


https://www.instagram.com/reel/CN7gufJHSL1/?utm_medium=copy_link










Sempre uma mágoa, de que somos procuradores.

 https://www.instagram.com/p/CN5rlsMHHbQ/?utm_medium=copy_link

 - vou ligar a luz!


- por que? - surpreendido - não tem velas?

 A cobiça pela eternidade inferniza os momentos.



A gente dá de cara um dia com o "tanto faz". Mais cedo ou mais tarde... Tanto faz!

sábado, 13 de março de 2021

AMOR REFÉM

 Você evoca o amor

em forma de apelação.

Se Deus é amor,

não use o nome em vão.


Se diz ter amor

no fundo do coração,

será cativeiro

ou será prisão?


Pare com esta chantagem,

não pago nenhum resgate

de amor que é feito refém.

Você se quiser que o mate.


Diante da minha imagem,

Você ora, ajoelha e implora...

Saberá dizer  "amém"

quando eu for embora?



Diante da minha imagem,

Você ora, ajoelha e implora...

Saberá dizer  "adeus"

O que irá dizer a Deus

quando eu for embora?


OBSOLETO

 o homem, rei dos animais,

explora, conforme as habilidades, os demais:

o cavalo é transporte, esporte; 

o boi de corte; 

o cão, vigia...

e seu semelhante tinha por sorte maior serventia

por possuir de muitas funções sabedoria.


agora perde a concorrência pr'outras tecnologias.

veja que onde antes se empregava a maioria,

tornou-se  obsoleta, pouca sua mais-valia.

hoje em dia já não vale é quase nada!

vide as vidas indo e a gente rica e fútil 

rindo bastante despreocupada

o homem que só tinha a vida útil

herdou-se ferramenta ultrapassada.


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sexta-feira, 5 de março de 2021

SINCERIDADE CASEIRA

 - já passei da idade de ser agradável. e você? 

 - eu também já!

 - pois é! eu tenho percebido. 

 - nojento!


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sábado, 27 de fevereiro de 2021

EMBALADO A VÁCUO

 


as paredes de meu lar são todas de outdoor

se saio é pra comprar

se fico me põem 

a venda no olho 

da rua


não tenho capital pra

ser minha propriedade,

sou refém da utilidade.




SANEAMENTO BÁSICO

nós temos tanto o desejo de vingança!...

mas contra qual objeto?


ódio

como um esgoto a céu aberto

esperando a decência dos aquedutos...


as ideologias estão todas poluídas.

no aterro há quem se vire pra viver do que resta...

tudo isto a nos levar, a nos desembocar...


em que mar isto vai dar?


a chave da cidade  foi entregue

a quem jurou violentá-la.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Às vezes me falta um lança chamas para expressar meus sentimentos

 https://www.instagram.com/reel/CPil02snXIc/?utm_medium=copy_link

Cadáver

 Carne dada aos versos

ORAÇÃO CAIPIRA
"oração" é
meu coração
sem "v" o "cê"

ALEGORIA

herdamos o silêncio duro
do samba que a gente fazia...
e da luz que tinhas, o escuro
que ofusca nossas fantasias.

dos nossos, alguns no futuro
não morrem, viram cantoria.
destarte em teu canto puro
ergueste tanta alegoria.

enquanto houver quem empreste
a este uma voz de alegria,
de gala a memória se veste
a te eternizar melodia.

se no carnaval já não existes
na roda estarás todo dia
a fazer o que sempre fizeste
em graça de Cláudia Garcia:

o samba não deixar triste;
o povo deixar em harmonia.
o teu coração, centro-oeste,
persiste em nossa bateria.

enquanto houver quem empreste
a este samba uma voz de alegria
de gala a memória se veste
a te eternizar na poesia.

se no carnaval já não existes
na roda estarás todo dia
a fazer o que sempre fizeste
em graça de Cláudia Garcia:

o samba não deixar triste;
o povo deixar em harmonia.
o teu coração, centro-oeste,
persiste em nossa bateria.



 o carro à frente dos bois


 o orgulho à frente da sabedoria














amazônia gritou

-Mato não é dinheiro!

https://www.instagram.com/reel/CPI-4-oHgv8/?utm_medium=copy_link

rabiola do nada


gostar do que talvez só reste um bilhete
como da altura de um muro
e sua textura impressa na criança que se foi
num pulo
rosa ou verde a fachada?
não lembro!
apenas a certeza da cor clara e
o quadrado de ladrilhos montando
jorge são
no cavalo
e o cavalo
no dragão
estreito o branco no portão...
gelo?
rangia mais sim do que não!
deu rua ao vira-lata até que acabou
ganindo sob a lataria de um fusca...
cão!
encafifar nessa infância ida,
adulto atrás da pipa “avoada”
no aclive da lembrança
de paralelepípedos e sombras de amendoeiras
a rua de minha avó pavimentada
segue doravante na rua de agora esburacada
essa existência estancada
tal uma despretensiosa trêmula
rabiola do nada

" AH, MEU FILHO!"


na minha cabeça mora uma senhorinha, que dizia de fora pra dentro em circunstâncias diversas com inflexões pertinentes: "ah, meu filho!" - esta expressão era como ilustrar uma vida que sentíamos juntos, como se viéssemos de adquiri-la com sacolas pesadas, a carregá-la para dentro ou para as margens de nossa existência. às vezes, fomos soma ao peso um para o outro: "preocupação, ocupação, deveres morais, empecilho a uma sonhada liberdade..." mas a maior parte do tempo compartilhávamos em alças os fardos de existir, outras, que parecem poucas, víamos o que tínhamos não apenas como o que restasse. em sensações a vida por vezes é algo que possuímos como delícia e outras é algo que nos possui como escravos, nas melhores vezes somos uma coisa só com a balança do saber quebrada. quando a sua carga era particular, eu dizia coisas de consolo e motivação: "calma, minha velha!"
bem... o caso é que esta senhorinha se mudou da realidade de ser por si na cadeira, no corredor, na pequena morada... vez por outra, como ontem, chego na casa em que comigo ela morava e, ante a cadeira de sua ausência na garagem, ouço-a dizer, agora de dentro pra fora, aquela mesma frase: "ah, meu filho!" - é o peso da vida que se anuncia inteiro pra esta metade. há uma espécie de lamento meu na voz dela imaginada. o peito esfria. carro estacionado, passo pela cadeira no corredor contíguo como quem fura uma onda gelada que me poderia prostrar. então o demônio monta a oportunidade e questiona a senhorinha sonhada: "jura que não volta?" e deixa que responda o ruído das coisas indiferentes da concreta realidade. "ah meu filho!", nunca mais.

canção simples


para atravessar este excesso de paz
que herdei de meus pais
para distrair um coração da dor
só uma canção simples
para disfarçar sob um som
a falta de afeto que entra
que venta pela janela
e no meu peito jaz
para devolver a ideia das cores
que a escuridão me furtou
enquanto queimo como uma vela
que deus acendeu para ela
e o tempo apagará
para viver um pouco mais
antes do esquecimento
que ocupa nosso lugar
e é cego de todos nós
surdo da nossa voz
de alegria ou lamento
uma mera canção de decorar
como flor na mesa de centro
a angústia de desbotar
ímpar na sala-de-espera

 O objeto de lástima evolui para objeto de desprezo.

ARRANJO



quero arranjar o tempo nesta casa...
o tempo migalhas na mesa
geladeira vazia
o tempo incógnito, gás na botija...
quanto durará?
quanto pode arder?

de chuva, de colher,
e recolher do varal
o esquecimento molhado!

e de nós dados
feito crianças
ter por herança
o lençol amarrotado

tempo perdido pra sempre
dente que não é de leite
a morder a carambola
que caía no pátio da escola
ou a cana suculenta no quintal
da casa da tia

e nunca mais a calçada de passear com a mão dada
à mão conotativa de uma moça
agora é mão única de ida
e adeus

 ...Bípedes tão mal acabados, orgulhosos da estúpida carga, que ante o que sustentam se pergunta coerentemente: Não serão quadrupedes deficientes?...

 Sou um pé de pensamentos.

🍭

vida

 parece um 

pirulito que a 

infância chupa 

e ao adulto 

só resta

o

p

a

l

i

t

o




 


LAMENTÁVEL LACONISMO
Muitos "sim" que odeiam "não"
se abraçariam na dissertação.

em silêncio

 uma flor do canto sussurra aos meus olhos uma cor 

                                                                            em segredo


o bilhete da moça é a voz do afeto possível no mundo:

                                                                           "Adeus, Rodrigo!" 





ARETÊ IGNORADO

sinto o que não sente aquela macieira:
um andarilho descansa à sua sombra,
uma mobília importa sua madeira,
um pássaro a faz de sua morada,
um exótico a conhece quando cheira,
um artista observando a forma pinta,
de um animal a urina é tinta de bandeira,
um caçador a faz mirante,
a infância se esconde em brincadeira.
um poeta a contempla e faz poesia,
um frio estúpido a corta e faz fogueira,
uma pesquisa sabe de suas folhas
propriedades curandeiras.

e cada qual com a árvore acha o nexo
se a proveitos diversos ela se doa,
mas eu nela só vejo meu reflexo
quando a maçã de si parece à toa.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

em que há muito objetivo há pouca humanidade?

quem sofre de esperança não perde o vício de tentar.

NÃO DIGA AO SUICIDA

"ame ao próximo como a si mesmo"

o que tenho por mim sou eu,

não é amor.


se é que me tenho...

quem sou para ser outro a se/me possuir?

quem me tem será quem sou?


não há espaço entre mim e o que sou 

pra que se recheie com amor

que só se pode entre nós

a sociedade não tem tempo de ser humana

OLHAR DE OUTRO JEITO

existe uma inversão de causa e efeito

ao pensarmos 

na relação do brasileiro com o jeito

em que entre quais está ou é o sujeito.


e assim o diminutivo sufixo

corriqueiro

que se põe no segundo

justifica o crucifixo

em que se põe o primeiro


eis que no mundo

nos fazem suspeitos

fato é que só resta o "jeitinho" 

a quem nem a vida possui por direito.

a verdade nos tem sem vice-versa


sábado, 20 de fevereiro de 2021

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 COM QUE ESCREVO

 Não quero exclusivamente nos desiludir de fundamentais ilusões ao nosso bem estar. Embora, para determinados fins, isto seja necessário.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

ECONOMIA

 um vento 

 que adivinha chuva

ou  fogueira...

os cheiros associados ao que não volta mais...

são os melhores!



penso em ir num alto mirante,

voltar a ler livros,

e escrever,

gravar um álbum com minhas canções,

banhar-me amanhã,

no vão dos compromissos,

no rio que corta esta cidade...

todos esses pensamentos são pouco pretensiosos.

autossuficientes enquanto precária sensação... 

digo, basta que sejam pensamentos.

são pouquíssimos pretensiosos de serem escolhidos,

como quem corre canais de tv com enfado...



tenho apenas ficado em casa e feito o mínimo possível.

um verso no lugar da vida, do amigo, do amor, do outro...




sábado, 6 de fevereiro de 2021

PANELA NO FOGO

 pois a vida é isto mesmo:

vigiar o arroz;

criar um status;

esperar olhares...

esquecer do vital!

tenho feito planos e o que eles tem em comum 

é fugirem comigo!

esses planos todos pra amanhã

roubaram toda a importância de hoje.

uma vez no amanhã, 

tornei-me sujeito às promessas.


minha vida foi pra europa,

e nunca mais voltou aqui na cozinha.

mergulhou lá num mar azul

e nunca mais ergueu a cabeça

por sobre o balcão

pra  pedir uma paleta duas vezes moída...


esqueci de comprar um travesseiro.

que importa dormir ou ter o que abraçar?

este verso, que importa?

há olhos dispostos ao que não grita?

folga...? detesto! vou fazer o que comigo?

porca sem parafuso!

o café, o almoço, o jantar...

tudo isto é apenas recheio de um saco 

que precisa ficar de pé!


na vida de fabricar  há tanto a se fazer!

na de comprar, o meu prazer! 

viver é intransitivo!


tudo é um resultado.

quem não perde as contas 

vive no prejuízo.


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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Nem vendo

ainda que a foto exista

sobre o fato 

incide sempre o ponto de vista.



pois quando tem meus olhos 

seu retrato 

é a saudade o que há mais realista 


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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

JEITO MORTO (CINZAS)

para Rubens Guilherme


herdamos este jeito morto

de encarnados pouco carnais.

já não sabiam balançar o corpo,

os nossos ancestrais.


e acreditamos em suas cadeiras 

que não se quebram. ó, imortais!

sentamos na esperança,

como tais, pela musa que dança

e não cansa jamais.


vício de livros de herança.

hábitos de homens sentados, 

pudor com o instante presente

que não nos levanta e nos cansa

de estarmos assim tão parados.


toda estrutura que falta

pra suportar nossa mente,

que a estante futura mais alta

nossa criatura sustente.

pois não podemos ficar quietos.

sem reclames, sem reparos. 

tudo queimando em alfabetos.

sujeitinhos muito raros!


e o que por bem reparamos do mal,

se somos salvos pelo final

em não haver certo ou errado? 

de ser, somos tão só cismados:

num irrevogável esforço 

de parecermos iguais

a trasanteontem:

cortando os pelos e unhas morais 

a nos sugerimos ideais,

nem me contem!

perdemos quantos carnavais?


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

 "Sorri quando a dor te procurar..." - porque se você der bandeira de algum problema, vem alguém te vender o segredo da vida, ou dizer que tudo só depende de nós mesmos etc...  Sorri, irmão! - "... não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar"

 

Hoje, muitos de nós têm a sensação de um mundo acessível. E ele, quando não beira o nada, é apenas um coadjuvante de nosso tédio. Alguns (retrógrados em breve?) ainda ousam viver algum mundo concreto novamente, como se a decepção desse já não tivesse inventado deuses, fomentado a nossa fuga pra delírios químicos, religiosos e demais transcendências. Tentamos o concreto, porque tropeçamos nele: vamos pra Europa com aquela grana que nos faça falta talvez. Mas a lá chegarmos, não há dentro de nós real emoção que seja por estarmos na casa que fora do Fernando Pessoa do que a emoção que temos em imaginar a emoção do outro ao ver nossa foto na casa de Fernando Pessoa... Parece que não tememos a inveja alheia, e sim que falte inveja. Buscamos o sentido, a medida de nossa vida no olhar do outro. Vamos aos outros pra saber se nossa vida é boa! Porque ela não é nada, nem boa nem ruim, pois o que não há é o "ser", mas um fazer crer que seja. Um construir o ser, o fazer ele parecer existir, o arquitetá-lo, sugeri-lo, confeccioná-lo, rimar com ele...

Dou conta de que não fomos felizes nas promessas que nos fizeram, então parece que somos quase felizes "prometendo" aos outros. Fazendo, ao menos, os outros crerem em nosso gozo. E esse gozo, muito veladamente - como pedem as boas maneiras, sempre a arrogar-se fruto de nossa superioridade.  

O decorrente desta oferta de tudo, deste acesso ao "tudo", é a diminuição do "terreno" para o sonho. Digo, claro que para quem percebe bem as coisas e está cansado das promessas ofertadas em áreas desconhecidas. Promessas oportunistas de nossa leviandade a esse ou àquele respeito. Para este cidadão, estão escassas as condições de sonhar. As condições do sonho, da ilusão motivadora, por serem muito cultivadas em nossas megalomanias, e muito aproveitadas maliciosamente por publicidades, começam a perder efeito como uma droga muito usada. Enfim, dão com a cara na porta fechada pelo nosso ceticismo protetor. 

O caso, por consequência, é o quanto a vida precisa de ilusões... E as ilusões, para surtir efeito, quanto precisam de uma nossa credibilidade e debilidade? Como é a vida quando não queremos mais nos exportarmos pra sonhos e promessas? O que resta de saboroso diante nossos sentidos numa realidade vista sem esperança, sem promessas e sem sonhos? O que nos serve uma vida plena, fisicamente salutar, quando ela se desvela independente de nossa gerência?  O que resta da vida para quem teve sequestrada, transformada em refém, a sua aptidão pra sonhar? Ora, se temos de pagar o resgate, se trata, antes, de um pesadelo!

Teremos uma pista da falta que o delírio, o sonho, a ilusão faz à vida, se olharmos como os apaixonados, os religiosos, os iludidos mantêm seu vigor à revelia da realidade... Em suma, os tomados por uma causa. Estes são capazes de ignorar a mais óbvia realidade medonha e presente por mais nítida que ela se torne. Veja como sob toda falência de um país, eles estão protegidos numa casca grossa até o instante em que ela se quebrará. Veja como eles estão vigorosos diante de todas as ameaças e misérias ao redor. Se fossem apanhados pela realidade antes do sonho, se vissem antes de delirar, suportariam? Sustentariam ainda um riso? Olhe, amigo, quanto os que "sofrem" o real sobriamente andam a se arrastar apáticos pelas calçadas que não são passarelas para o paraíso!

 


A necessidade (vício?) de sermos bons perante nós mesmos é aquele mal que não deixa  nossa ação fluir livre para o bem-estar, seja ele qual for.