quinta-feira, 10 de junho de 2021

POEMA ANTISSURTO

elegância é caro: 

tem que engolir muita saliva que se queria cuspe.

civilidade é por um triz...

quantos dias deixam de ser um qualquer

sob o protagonismo de um qualquer?

vai guardando o lixo no bolso, na bolsa...

leva contigo a cantada, a porrada, a morte dos teus promovida, a humilhação na avenida,

o sorriso rangendo dente pro atendente da padaria...

gentileza e pão caríssimos sem manteiga. a seco! 

entrega uma boa menina, um bom moço

pr'um mundo digno de fim. 

vai guardando a raiva no medo 

feito um quilo de caco de vidro numa sacola de plástico,

pois no oceano o crime é menos flagrante!

o problema vai pro lixeiro que o carregue!

outro que sangre o meu descuido!

plastifica-te pra não prejudicar o passeio público 

contigo de verdade. 

sobe ao patíbulo e cumprimenta o algoz,

porque a responsabilidade está amarrada em nós:

a união fez a forca.

a gente olha pra multidão e não sabe onde se deixar com a alma caída.

engole! diz "Bom dia!"

num tremendo aperto e ânsia arranja às boas maneiras os gestos largos e graves!

temes a morte?

não te exaltes: no caminho do progresso, a morte é atalho!

engole o ódio e segrega versos!

não podendo estrangular o diabo

e, diante de tudo, deus nada comovido,

em lugar de inúteis surtos e rebeldias...

... deita tua inutilidade na poesia.


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