O que havemos visto quanto já se desfez do real, se pela via de ver, o mundo adentra em esquecer e transforma-se em mundo ideal?
De tudo do que reclamamos, quanto há proceder,
se a insatisfação é uma fundamental
condição do viver?
A realidade é qual parte daquilo com que vivemos?
A que, ao molde de nossa pretensão, entorta mais ou a que entorta menos?
O quanto há vice-versa pro sonho que a realidade dilui?
E a palavra feito cruz não prega verdades mortas?
Não é a verdade uma porta que a esperança seduz
a abrir pr'um engano que bate
com a substância da luz?
razão também tem quem luta pra perdê-la! Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
ININTELIGÍVEL
Não me pariu uma ideia.
Não sou um débito quitado.
Nasci inesperado,
filho da além consequência
do desejo que se quis saciado.
Não sou fruto de ciência,
não posso ser explicado.
Apenas sendo prazer,
me tenho continuado.
Por isso é uma indecência
Se tentam me ter entendido:
nao tenho significado,
caibo só em ser sentido.
Não sou um débito quitado.
Nasci inesperado,
filho da além consequência
do desejo que se quis saciado.
Não sou fruto de ciência,
não posso ser explicado.
Apenas sendo prazer,
me tenho continuado.
Por isso é uma indecência
Se tentam me ter entendido:
nao tenho significado,
caibo só em ser sentido.
Troca de casca
Desprezar a superfície e a aparência em nome do profundo é amiúde o processo de desprezar o que se vê em prol do que se imagina (sente, deseja...). Toda elegia à profundidade tem seu germe de tirania se pretende que o adivinhado, o suposto, o particular vigorem sobre o nítido ao alcance comum. No mais, quando se demonstra o que há sob a superfície, não se conquista o profundo, mas apenas uma nova superfície.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
Encontramo-nos nesta vida, e com o passar do tempo nossas felicidades se afastaram cada vez mais. A ponto que deixou de existir uma nossa felicidade, para existir a felicidade de cada um. Será que só eu percebo esta tristeza? Olhem!: as palavras e gestos de ternura - ocos! - ficaram como cacoetes de sentimentos que se foram.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
QUANDO ACONTEÇO
acaso estou aqui para contestar o que acontece?!
o que acontece não deveria ter direito superior ao que tenho em imaginação?!
estou aqui para lastimar porque pretendo melhor as coisas do que as coisas vêm a existir?!
imagino e sei algo melhor do que o possível realizado?!
diabos! para que eu vim
se não rimar com fim?
o que acontece não deveria ter direito superior ao que tenho em imaginação?!
estou aqui para lastimar porque pretendo melhor as coisas do que as coisas vêm a existir?!
imagino e sei algo melhor do que o possível realizado?!
diabos! para que eu vim
se não rimar com fim?
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
DO QUE COLHO MEU RISO (para Augusto)
do que colho meu riso,
encontro o mundo cada vez mais deserto.
fujo de pensar no país,
se me tenho desperto!
brasileiro, sou deveras infeliz!
o amor?... torna o agora mesquinharia,
o enorme passado:
oco em mim a reverberar enganos
para quais se desfez uma fundamental ingenuidade.
tive por anos maior a família e amigos ao lado.
no espelho, que vaidade?
flagro a inexpressão do rosto...
permaneço a olhar o suficiente
para perceber que sequer este flagra tem gosto,
não exprime um sentimento nítido:
nem tristeza, nem orgulho de saber-me acabando
e de pé ainda.
olho pro meu filho
- uma criança linda -
e estou muito perdido!
o riso dele quando pleno de inocência me encara
me reinventa uma alegria:
uma flor rara que rápido vigora e breve esmorece
e que me aproveita que me restam dentes: rio!
só nele distraído estou contente.
para além dele, o mundo quase que só me entristece.
olho-o, rio e estou certo:
do que colho meu riso,
encontro o mundo cada vez mais deserto.
https://www.instagram.com/tv/CPx_UOxHVZD/?utm_medium=copy_link
encontro o mundo cada vez mais deserto.
fujo de pensar no país,
se me tenho desperto!
brasileiro, sou deveras infeliz!
o amor?... torna o agora mesquinharia,
o enorme passado:
oco em mim a reverberar enganos
para quais se desfez uma fundamental ingenuidade.
tive por anos maior a família e amigos ao lado.
no espelho, que vaidade?
flagro a inexpressão do rosto...
permaneço a olhar o suficiente
para perceber que sequer este flagra tem gosto,
não exprime um sentimento nítido:
nem tristeza, nem orgulho de saber-me acabando
e de pé ainda.
olho pro meu filho
- uma criança linda -
e estou muito perdido!
o riso dele quando pleno de inocência me encara
me reinventa uma alegria:
uma flor rara que rápido vigora e breve esmorece
e que me aproveita que me restam dentes: rio!
só nele distraído estou contente.
para além dele, o mundo quase que só me entristece.
olho-o, rio e estou certo:
do que colho meu riso,
encontro o mundo cada vez mais deserto.
https://www.instagram.com/tv/CPx_UOxHVZD/?utm_medium=copy_link
terça-feira, 10 de dezembro de 2019
Aquém do objeto
Quem me ama não quero encontrar!
Tenho pavor de concorrer com este sentimento:
Eu de carne e osso sendo posto a prova perante uma ideia maravilhosa que fazem de mim?!
- o acaso me livre!
Perto de quem me ama só tenho a perder...
Só posso capotar na ladeira de tal mérito.
Perto de alguém que me sente assim: amado...
Só me sobro tímido ou imprudente...
Quem sente saudades minhas,
quem ao menos cogitara - por lapso -
dar uma vida por mim...
Afasto-me e sou apenas delírio alheio!
Que tenho a fazer nas cercanias do amor é sujar-me,
estragar-me fatalmente...
Acabar desarmado, despreparado pra lidar com mordidas...
O acaso que me mantém livre de quem me ama, promovo a divindade.
Certa distância da luz e dos barulhos de existir preserva o sonho em que sou magnífico.
Certa distância para que, se cheguei a tal ápice, eu possa ser e continuar amado.
Não! Deus me livre de quem me ama!
Não posso honrar tal sentimento e tudo que a partir deste esperam repletos de direito.
Dissolvo melhor meu tempo entre afetos menos gananciosos, que passariam bem sem mim....
Tenho pavor de concorrer com este sentimento:
Eu de carne e osso sendo posto a prova perante uma ideia maravilhosa que fazem de mim?!
- o acaso me livre!
Perto de quem me ama só tenho a perder...
Só posso capotar na ladeira de tal mérito.
Perto de alguém que me sente assim: amado...
Só me sobro tímido ou imprudente...
Quem sente saudades minhas,
quem ao menos cogitara - por lapso -
dar uma vida por mim...
Afasto-me e sou apenas delírio alheio!
Que tenho a fazer nas cercanias do amor é sujar-me,
estragar-me fatalmente...
Acabar desarmado, despreparado pra lidar com mordidas...
O acaso que me mantém livre de quem me ama, promovo a divindade.
Certa distância da luz e dos barulhos de existir preserva o sonho em que sou magnífico.
Certa distância para que, se cheguei a tal ápice, eu possa ser e continuar amado.
Não! Deus me livre de quem me ama!
Não posso honrar tal sentimento e tudo que a partir deste esperam repletos de direito.
Dissolvo melhor meu tempo entre afetos menos gananciosos, que passariam bem sem mim....
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
sábado, 30 de novembro de 2019
Ansiedade
A ânsia é um desejo de fim que não enxerga o início. É a pretensão afobada da ideia de ser realidade, inveja que as infindas possibilidades têm da matéria . No trânsito, nos atropela. Antes que a morte chegue, atira-nos do precipício. É um sonho usuário do corpo por vício.
www.quandodoido. blogspot.com
Sucesso Pejorativo
Já me disseram que isso aí não roda, que inteligência tá fora de moda: "Você não sabe o que a galera gosta!" Mas isto aí nem mereceu resposta, senão o fato de virar-lhe as costas.
Onde e quando arte inteligente não encontra gente admirada, qualquer sucesso só nos conta o quanto a fama representa nada.
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
tudo é meio que a meta
rumo a um paradigma
de uma história contada...
como deus nunca me respondeu
falar é meio que um defeito meu
no pouco tempo que me dou ao silêncio
sou quase divino.
se não pensasse...
talvez se estivesse morto...
melhor!: se não existisse...
...seria Deus!
assim como as moças passam por mim nas ruas, nas praças corriqueiras
e não chegam a ser os filmes que vi e me encheram de faltas na vida,
os amores que sonhei passaram por mim cotidianos como indo comprar pão,
numa rua sem oportunidade,
engoli estas causas perdidas!
os amores passaram sempre distraídos
em roupas de folga que pretendessem apenas confortar tardes quentes e frias...
desapercebidos de quem os quis mais do que seu apetite à padaria
rumo a um paradigma
de uma história contada...
como deus nunca me respondeu
falar é meio que um defeito meu
no pouco tempo que me dou ao silêncio
sou quase divino.
se não pensasse...
talvez se estivesse morto...
melhor!: se não existisse...
...seria Deus!
assim como as moças passam por mim nas ruas, nas praças corriqueiras
e não chegam a ser os filmes que vi e me encheram de faltas na vida,
os amores que sonhei passaram por mim cotidianos como indo comprar pão,
numa rua sem oportunidade,
engoli estas causas perdidas!
os amores passaram sempre distraídos
em roupas de folga que pretendessem apenas confortar tardes quentes e frias...
desapercebidos de quem os quis mais do que seu apetite à padaria
DEUS ALFAIATE
sempre foi difícil me aceitar porque eu não atingia o modelo aceitável
porque não fiquei certo
porque não fui perfeito
porque, por vezes, sequer caminhei para o perfeito
perfeitamente
como deveria tentar
depois porque fui tentando demais invés de me deixar ser
estou sempre errado sob mil ângulos
por isso talvez procure a quem me ame
- não estou certo disto! -
para que eu esteja certo
ao menos por um olhar,
que seja por um pequeno momento...
...de paz.
ainda que eu seja de nós um engano
perante um deus que vem depois
rever a vida
cobrar dos moldes esquecidos sobre a Terra
as vidas que couberam
bem vestidas
nos seus trapos
perfeitos
porque não fiquei certo
porque não fui perfeito
porque, por vezes, sequer caminhei para o perfeito
perfeitamente
como deveria tentar
depois porque fui tentando demais invés de me deixar ser
estou sempre errado sob mil ângulos
por isso talvez procure a quem me ame
- não estou certo disto! -
para que eu esteja certo
ao menos por um olhar,
que seja por um pequeno momento...
...de paz.
ainda que eu seja de nós um engano
perante um deus que vem depois
rever a vida
cobrar dos moldes esquecidos sobre a Terra
as vidas que couberam
bem vestidas
nos seus trapos
perfeitos
o tempo é um mundo
em que estamos imersos
meça por horas ou segundos,
por agora, feito eu, nos versos.
meça feito Chronos:
dias, meses, anos...
ou como Kairós,
por oportunos momentos...
feitos nós, por amores e desenganos...
passem rápidos ou lentos,
hei-lo tal um oceano
que nos impõe o afogamento,
mergulhados nessa água
que nos lava e nos enruga
que nos leva alguma mágoa
que não calha em sua chuva...
para qual não há toalha
só mortalha nos enxuga.
em que estamos imersos
meça por horas ou segundos,
por agora, feito eu, nos versos.
meça feito Chronos:
dias, meses, anos...
ou como Kairós,
por oportunos momentos...
feitos nós, por amores e desenganos...
passem rápidos ou lentos,
hei-lo tal um oceano
que nos impõe o afogamento,
mergulhados nessa água
que nos lava e nos enruga
que nos leva alguma mágoa
que não calha em sua chuva...
para qual não há toalha
só mortalha nos enxuga.
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
Cansado de apostar em pequenas resoluções que me entornassem na paz, e de pelejar com razões para persuadirem minha vida a favor da tranquilidade... Suicidei de ser alma e virei este bicho.
Claro que, se me leem, é que ainda me levam letras a passear... Nada a sério! Se querem rir, dou azo.
Claro que ainda faço algum sentido pra além dos cinco! Mas estou muito em existir carne para fingir-me solúvel a sonhos.
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
Extrema ingratidão
Sempre o tomarão por sua falha de não ser o que esperam. Jamais, por sua generosidade de aceitar que assim sejam.
terça-feira, 22 de outubro de 2019
diminuindo
ter aprendido esta língua
discutido a verdade
arrancado os cabelos
me humilhado
e morrer.
discutido a verdade
arrancado os cabelos
me humilhado
e morrer.
FUTURO DO PRETÉRITO
passa
manhãs a saudar a lua
noites a tentar os dias
degusta em cidades frias
plenas de ruas vazias
o sabor de ser tudo-não
ama
somente o que existiria:
tardes que nem tarde chegam
namora com o que seria
e noites mais que tardias
roubam o seu coração.
poderia rir,
poderia ser,
poderia ter diversão,
para vir cantar,
para vir viver,
entregar o seu coração,
para se deixar
deitar no prazer,
esper'outra encarnação,
poderia amar
poderia "se"...
sempre falta uma condição.
manhãs a saudar a lua
noites a tentar os dias
degusta em cidades frias
plenas de ruas vazias
o sabor de ser tudo-não
ama
somente o que existiria:
tardes que nem tarde chegam
namora com o que seria
e noites mais que tardias
roubam o seu coração.
poderia rir,
poderia ser,
poderia ter diversão,
para vir cantar,
para vir viver,
entregar o seu coração,
para se deixar
deitar no prazer,
esper'outra encarnação,
poderia amar
poderia "se"...
sempre falta uma condição.
BAIÃO DE PRIMAVERA
despertar
e florescer
é inaugurar a sorte colorida
acordar
renascer
e se reerguer de toda dor sentida
primavera há para as flores,
para os homens,
pr'os amores,
para a vida,
venha!
superar
ascender
demolir paredes do sofrer qu'é beco sem saída
não tentar
reviver
porque ainda há muita coisa nova a ser vivida
primavera há para as flores,
para os homens,
pros amores,
para a vida,
venha!
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
sob o sol
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
ao luar
(solo)
primavera há para as flores,
para os homens,
pr'os amores,
para a vida,
venha!
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
sob o sol
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
ao luar
faz sol!
faz sol!
faz sol!
e florescer
é inaugurar a sorte colorida
acordar
renascer
e se reerguer de toda dor sentida
primavera há para as flores,
para os homens,
pr'os amores,
para a vida,
venha!
superar
ascender
demolir paredes do sofrer qu'é beco sem saída
não tentar
reviver
porque ainda há muita coisa nova a ser vivida
primavera há para as flores,
para os homens,
pros amores,
para a vida,
venha!
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
sob o sol
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
ao luar
(solo)
primavera há para as flores,
para os homens,
pr'os amores,
para a vida,
venha!
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
sob o sol
todo instante ocupa o tempo que um infinito esteve a preparar
primavera é um polimento que o momento raro faz brilhar
temos dentro sentimentos caros que de nós irão brotar
ao luar
faz sol!
faz sol!
faz sol!
terça-feira, 8 de outubro de 2019
REPRESENTAÇÃO
sou de orgulho forte
posto num time
súdito adepto do regime
de representação
vejo minhas vitórias
e me vingo de todo crime
ligado na tv que sempre me redime
me resta esta maneira de ser campeão
me representa
um deputado, o presidente...
sou o herói de um filme
estou mais que crente
que só me faz contente esta religião
na coisa da vida
faço parte da torcida
e sempre que preciso encontrar uma saída
faço o óbvio, querida:
me ajoelho em oração
em casa apaixonado
pela moça da novela
esperando no sofá a hora de casar com ela
na pele do galã da eterna ficção
vivo esta vida
como quem morre de mentira
vivo deste jeito
meio faz-de-conta
tenho a vida pronta
na imaginação
vivo esta vida
como quem morre de mentira
vivo deste jeito
meio faz-de-conta
posto num time
súdito adepto do regime
de representação
vejo minhas vitórias
e me vingo de todo crime
ligado na tv que sempre me redime
me resta esta maneira de ser campeão
me representa
um deputado, o presidente...
sou o herói de um filme
estou mais que crente
que só me faz contente esta religião
na coisa da vida
faço parte da torcida
e sempre que preciso encontrar uma saída
faço o óbvio, querida:
me ajoelho em oração
em casa apaixonado
pela moça da novela
esperando no sofá a hora de casar com ela
na pele do galã da eterna ficção
vivo esta vida
como quem morre de mentira
vivo deste jeito
meio faz-de-conta
tenho a vida pronta
na imaginação
vivo esta vida
como quem morre de mentira
vivo deste jeito
meio faz-de-conta
me representa cristo
em resignaçãosexta-feira, 4 de outubro de 2019
ANTES CONVERSAR COM PLANTAS!
um filósofo começa a resolver a vida como um problema.
impõe-se questões:
"de onde venho?"
"pra onde vou?"
"quem sou?"
se acrescentasse "pra que sirvo?"
apenas engrossaria a piada!
o que há de comum entre as questões é que
todas afirmam "eu".
dele não duvidam...
tampouco de que é ele quem faz.
que dizer?
a vida faz filósofos
como quem conta anedotas preconceituosas num boteco
para um bêbado desmaiado
que precisaria ser socorrido!
a vida faz filósofos
mas o poeta faz a vida
e é por isto que não a questiona!
impõe-se questões:
"de onde venho?"
"pra onde vou?"
"quem sou?"
se acrescentasse "pra que sirvo?"
apenas engrossaria a piada!
o que há de comum entre as questões é que
todas afirmam "eu".
dele não duvidam...
tampouco de que é ele quem faz.
que dizer?
a vida faz filósofos
como quem conta anedotas preconceituosas num boteco
para um bêbado desmaiado
que precisaria ser socorrido!
a vida faz filósofos
mas o poeta faz a vida
e é por isto que não a questiona!
terça-feira, 1 de outubro de 2019
terça-feira, 24 de setembro de 2019
DO PROVEITO
Começo mais uma vez a escrever um poema...
Se algo mais, não sei!
Mas sempre experimenta uma debilidade:
A dizer que começo... Nada inicio!
Retomo o cansado uso das palavras
e o lugar-comum que é a ideia do poema debruçar-se sobre o poema.
- Vazio confesso?
Começo?!
Mais factível é que continuo a regar estas flores,
que são as palavras,
que só dão nos vasos,
que são as cabeças...
Flores que ensaiam plástico e,
à realidade, insinuam mais de deserto que florestas.
Se olhas bem,
há também no poema a expectativa dada por certa
e sequer questionada
de que terminarei o poema!
Erro, então, de que há um fim;
outro, de que sou sujeito e autor
disto que me atravanca estar dormindo.
Um proveito:
O poema é sempre uma fuga das palavras
do campo de concentração que são as teses
e as notícias intencionadas,
que são sempre más notícias.
Enfim, aqui a palavra descansa do objetivo,
estica-se toda de férias na conotação.
Não pesa de trazer soluções,
pois sequer esculturou um problema
do barro mole do mundo e da vida.
Mas, autor?! Eu?!
Nem eu, nem esses seus olhos correntes,
quais, se sabem nadar, não se deixam arrastar livremente
e sequer experimentam, deste fluxo, a profundidade.
Fôlego é preciso para senti-la e sair vivo.
Fato é que o poema brota de mim dúbio,
como se a partir de uma semente investida:
As curvas que serão o caule e suas ramificações,
estão a mercê de uma luz que se esgueire pelas frestas dos meus sentidos...
Os caminhos que descreve a planta aqui crescida,
imprimem implicitamente,
ante aos que padecem de consciência,
mais do que as que realizou,
as infindas curvas e bifurcações que não foram...
Lançadas ao impossível!
Infindável (i)matéria-prima de especulações,
de consciências insatisfeitas em duelo com o real.
A poesia de mim como a planta de um vaso...
Cerceada por corredores,
tolhida pela sombra dos aposentos,
a dar pistas de um tempo inerte...
mas sem esverdecer e sem fazer dos limites
sofrimento.
Insaciável da luz dos olhos
e da água dos sentidos,
se desdobra deste quarto
para vazar às janelas e ganhar o mundo...
Pálida planta inédita,
regida pela intenção corriqueira de tudo que vive:
dominar o que alcança.
E isto nunca acaba,
pois para o que vê, os braços são curtos,
para o que imagina, a visão é deficiente.
De mim, sim! O processo planta...
Para ti, que papel?
Plano, chato, reto, seco, dobrável, descartável, guardanapo...
- Olhos e tratos!
Outros mil me perfaçam...
A poesia há de ter com os alheios
também o que plantas têm com as estações do ano:
deita-lhes flores, frutos e seca, se acastanhando...
Quiçá crepite pisada na pressa do passeio,
fim costumeiro das nobrezas.
E assim, nem exista mais em seu corpo pleno
"começado e terminado por este sujeito-autor"...
Ainda assim - morta, quebrada - goza mais do que todas as hipóteses, quais ela não deu luz:
Não pode mais ser suposta, concorre a ser lembrada,
é indestrutível como a matéria.
Não desaparece, apenas se transforma:
Pois não será de outras vindas adubo e luz?
Se algo mais, não sei!
Mas sempre experimenta uma debilidade:
A dizer que começo... Nada inicio!
Retomo o cansado uso das palavras
e o lugar-comum que é a ideia do poema debruçar-se sobre o poema.
- Vazio confesso?
Começo?!
Mais factível é que continuo a regar estas flores,
que são as palavras,
que só dão nos vasos,
que são as cabeças...
Flores que ensaiam plástico e,
à realidade, insinuam mais de deserto que florestas.
Se olhas bem,
há também no poema a expectativa dada por certa
e sequer questionada
de que terminarei o poema!
Erro, então, de que há um fim;
outro, de que sou sujeito e autor
disto que me atravanca estar dormindo.
Um proveito:
O poema é sempre uma fuga das palavras
do campo de concentração que são as teses
e as notícias intencionadas,
que são sempre más notícias.
Enfim, aqui a palavra descansa do objetivo,
estica-se toda de férias na conotação.
Não pesa de trazer soluções,
pois sequer esculturou um problema
do barro mole do mundo e da vida.
Mas, autor?! Eu?!
Nem eu, nem esses seus olhos correntes,
quais, se sabem nadar, não se deixam arrastar livremente
e sequer experimentam, deste fluxo, a profundidade.
Fôlego é preciso para senti-la e sair vivo.
Fato é que o poema brota de mim dúbio,
como se a partir de uma semente investida:
As curvas que serão o caule e suas ramificações,
estão a mercê de uma luz que se esgueire pelas frestas dos meus sentidos...
Os caminhos que descreve a planta aqui crescida,
imprimem implicitamente,
ante aos que padecem de consciência,
mais do que as que realizou,
as infindas curvas e bifurcações que não foram...
Lançadas ao impossível!
Infindável (i)matéria-prima de especulações,
de consciências insatisfeitas em duelo com o real.
A poesia de mim como a planta de um vaso...
Cerceada por corredores,
tolhida pela sombra dos aposentos,
a dar pistas de um tempo inerte...
mas sem esverdecer e sem fazer dos limites
sofrimento.
Insaciável da luz dos olhos
e da água dos sentidos,
se desdobra deste quarto
para vazar às janelas e ganhar o mundo...
Pálida planta inédita,
regida pela intenção corriqueira de tudo que vive:
dominar o que alcança.
E isto nunca acaba,
pois para o que vê, os braços são curtos,
para o que imagina, a visão é deficiente.
De mim, sim! O processo planta...
Para ti, que papel?
Plano, chato, reto, seco, dobrável, descartável, guardanapo...
- Olhos e tratos!
Outros mil me perfaçam...
A poesia há de ter com os alheios
também o que plantas têm com as estações do ano:
deita-lhes flores, frutos e seca, se acastanhando...
Quiçá crepite pisada na pressa do passeio,
fim costumeiro das nobrezas.
E assim, nem exista mais em seu corpo pleno
"começado e terminado por este sujeito-autor"...
Ainda assim - morta, quebrada - goza mais do que todas as hipóteses, quais ela não deu luz:
Não pode mais ser suposta, concorre a ser lembrada,
é indestrutível como a matéria.
Não desaparece, apenas se transforma:
Pois não será de outras vindas adubo e luz?
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Do amor no jogo
Se a gente ainda vai ser prazer no outro,
também seremos a dor, depois, um pouco.
pois tudo se vai, mais cedo ou mais tarde,
da herança do amor à lembrança que arde.
Onde sorri também chorei demais!
Com quem sofri também diverti.
Também penei em que fui bom rapaz.
De certo que se entre ruínas,
a guerra finda funda a paz,
desertos feitos do que se desfaz
é a dura sina que me fez capaz
de compor castelos de novo...
despir razões, redescobrir o fogo,
reinventar a roda pra girar
a sorte do amor no jogo.
também seremos a dor, depois, um pouco.
pois tudo se vai, mais cedo ou mais tarde,
da herança do amor à lembrança que arde.
Onde sorri também chorei demais!
Com quem sofri também diverti.
Também penei em que fui bom rapaz.
De certo que se entre ruínas,
a guerra finda funda a paz,
desertos feitos do que se desfaz
é a dura sina que me fez capaz
de compor castelos de novo...
despir razões, redescobrir o fogo,
reinventar a roda pra girar
a sorte do amor no jogo.
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
terça-feira, 27 de agosto de 2019
as coisas tiradas do pó
na procura não descobri o que fosse menor que eu sob a poeira levantada, mas uma fraternidade com o pó que das coisas se desapegava.
quinta-feira, 8 de agosto de 2019
o tempo que fugiu de casa
de samba-canção na sala
tendo um samba enredo para desfilar
fui fazer xote mas senti tamanho aperto
só cabe baião e frevo pra gente poder pular
e a minha camisa tá assim amarrotada.
porque até o ferro elétrico tá sem tempo de passar
virou a noite não dormir até agora
pra morfeu não roubar hora
e deu hora d'eu trabalhar
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para namorar
sem bem que a namorada foi embora
dizendo que num guentava:
"tudo fora de lugar!"
eu disse ela que se ela achasse o tempo
contasse meu sofrimento
comovesse ele a voltar
e de repente já raiou um novo dia
"quede" a tecnologia que viria nos salvar?
fogão de gás, é lava-roupa e lavadeira
é "microonda" e geladeira, é tanta coisa
Eira nem beira e a gente na fileira sempre pra poder comprar.
é viaduto, é passarela, é ciclovia
é avião, coisa ligeira,
é todo mundo correria
é muita mais velocidade
para a gente se chocar
é patinete, é na internet
a minha tia reclamando companhia
que não vou lhe visitar
o telefone faz vídeo fotografia
e recarrega a energia
é tudo mais com garantia!
mas não tem economia
que me deite no sofá
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
eu tô comendo muito fast food
depois que o tempo deu o fora
e não tem hora pra voltar
e tô te precisando, Robin Hood
que tire um tanto dos ricos
pr'eu poder me aposentar
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
tendo um samba enredo para desfilar
fui fazer xote mas senti tamanho aperto
só cabe baião e frevo pra gente poder pular
e a minha camisa tá assim amarrotada.
porque até o ferro elétrico tá sem tempo de passar
virou a noite não dormir até agora
pra morfeu não roubar hora
e deu hora d'eu trabalhar
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para namorar
sem bem que a namorada foi embora
dizendo que num guentava:
"tudo fora de lugar!"
eu disse ela que se ela achasse o tempo
contasse meu sofrimento
comovesse ele a voltar
e de repente já raiou um novo dia
"quede" a tecnologia que viria nos salvar?
fogão de gás, é lava-roupa e lavadeira
é "microonda" e geladeira, é tanta coisa
Eira nem beira e a gente na fileira sempre pra poder comprar.
é viaduto, é passarela, é ciclovia
é avião, coisa ligeira,
é todo mundo correria
é muita mais velocidade
para a gente se chocar
é patinete, é na internet
a minha tia reclamando companhia
que não vou lhe visitar
o telefone faz vídeo fotografia
e recarrega a energia
é tudo mais com garantia!
mas não tem economia
que me deite no sofá
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
eu tô comendo muito fast food
depois que o tempo deu o fora
e não tem hora pra voltar
e tô te precisando, Robin Hood
que tire um tanto dos ricos
pr'eu poder me aposentar
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
cadê o tempo que saiu por casa a fora?
tô precisando dele para descansar.
sonho com o fim do sonho
como seria terrível conhecer todo o mundo possível, não nos restaria nem um pedacinho para o sonho.
EU-PRAÇA.
eu, em que vêm passear pensamentos medonhos - moleques -, arrastando ruidosamente os seus respectivos sentimentos de vergonha - birrentos irmãos menores -, sou finalmente o cansaço que não vi na praça. sou finalmente o passeio que não vi.
ai! ai!
ai! ai! ela ausente é suspiro de espera
a vontade dela, uma pantera
que se ela não vem me devora
e ruge insaciável esta fera
meu deus!beija-la-ei toda e lento
queimando devagar o momento
do desejo incendiário na gente
sussurrado entrego seu nome
como quem planta a semente
regando um sonho inconsciente
bem no pé do seu ouvido
na sua ausência faço versos
e lhe confesso a esperança
que estes tem de promover a dança
que ainda não sei se consigo.
que terei consigo.
a dança
eu não sei se consigo
ai! ai!
a vontade dela, uma pantera
que se ela não vem me devora
e ruge insaciável esta fera
meu deus!beija-la-ei toda e lento
queimando devagar o momento
do desejo incendiário na gente
sussurrado entrego seu nome
como quem planta a semente
regando um sonho inconsciente
bem no pé do seu ouvido
na sua ausência faço versos
e lhe confesso a esperança
que estes tem de promover a dança
que ainda não sei se consigo.
que terei consigo.
a dança
eu não sei se consigo
ai! ai!
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
segunda-feira, 29 de julho de 2019
até o café na cama
- me ajude aqui! não consigo colocar este amor dentro desta tarde! ele é muito grande, não cabe! devo esquartejá-lo?
- espere a tarde amolecer no crepúsculo... não é força, é jeito!
- tem certeza que se eu esperar a noite ele vai caber?
- não tenho certeza de nada! o primeiro passo pra fazer o amor caber é apostar! se ele é grande, coloque um pouco na noite! o que couber será satisfatório...
- ele é bem grande, um dia inteiro seria pouco para guardá-lo!
- o que ficar de fora você traz contigo amanhã de manhã, feito café na cama! um dia compõe mais que uma vida, amigo!
domingo, 28 de julho de 2019
FALA LARANJA QUE EU RESPONDO AZUL CLARO
- mas você disse que queria...
- meu amor, "eu queria" era um verso!
- meu amor, "eu queria" era um verso!
sexta-feira, 26 de julho de 2019
SEMPRE UM ESPETÁCULO
se fazemos teatro...
somos sempre atores a representar uma personagem...
sem a personagem somos a personagem de um ator apático desocupado.
fronha sem travesseiro
em que as cabeças não descansam do escuro
de estarem acordadas em vão
e não encostam sonho algum.
sem a peça resta um vazio.
ao homem não falta um chão que não seja um palco.
mesmo os bastidores de uma peça são o palco de outra!
pois onde quer que haja fala,
há cenas, há coadjuvantes e antagonistas...
o homem inventará deus e o diabo apenas...
...para que não lhe falte plateia no monólogo!
é isto e só: ou nos damos ao público ou ao nada!
ou nos preenchem personagens ou vermes
logo, ou atores ou cadáveres!
escolham seu papel!
caibam!
deixamos um bigode, pintamos o cabelo,
trocamos de figurino, de amores, de espetáculo, de cartaz...
atrás de um sucesso de crítica e/ou bilheteria.
se flagram uma incoerência
é tão somente a falta de um "continuísta"
e o espetáculo se torna inverossímil!
ou apelamos pro fantástico, pra fábula...
fora isto...
bem, fora isto...
não há pensamento, não há anseio, ensaio, entusiasmo...
não há! ora, ao menos ninguém nunca viu!
pois se algo assim fosse presenciado,
imediatamente se abririam as cortinas e
eis que seríamos plateia atuante.
não há avaliar entre "verdades e mentiras"
mas entre "boas ou más atuações"...
"bons ou maus espetáculos"
somos sempre atores a representar uma personagem...
sem a personagem somos a personagem de um ator apático desocupado.
fronha sem travesseiro
em que as cabeças não descansam do escuro
de estarem acordadas em vão
e não encostam sonho algum.
sem a peça resta um vazio.
ao homem não falta um chão que não seja um palco.
mesmo os bastidores de uma peça são o palco de outra!
pois onde quer que haja fala,
há cenas, há coadjuvantes e antagonistas...
o homem inventará deus e o diabo apenas...
...para que não lhe falte plateia no monólogo!
é isto e só: ou nos damos ao público ou ao nada!
ou nos preenchem personagens ou vermes
logo, ou atores ou cadáveres!
escolham seu papel!
caibam!
deixamos um bigode, pintamos o cabelo,
trocamos de figurino, de amores, de espetáculo, de cartaz...
atrás de um sucesso de crítica e/ou bilheteria.
se flagram uma incoerência
é tão somente a falta de um "continuísta"
e o espetáculo se torna inverossímil!
ou apelamos pro fantástico, pra fábula...
fora isto...
bem, fora isto...
não há pensamento, não há anseio, ensaio, entusiasmo...
não há! ora, ao menos ninguém nunca viu!
pois se algo assim fosse presenciado,
imediatamente se abririam as cortinas e
eis que seríamos plateia atuante.
não há avaliar entre "verdades e mentiras"
mas entre "boas ou más atuações"...
"bons ou maus espetáculos"
quinta-feira, 18 de julho de 2019
terça-feira, 16 de julho de 2019
Bem acabado
A televisão é o equipamento industrial que transforma a matéria-prima homem no produto consumidor.
segunda-feira, 15 de julho de 2019
Do "Oi!" ao "Ai!"
Nem sempre há paciência e arte para se subir degrau por degrau do "Oi!" ao "Ai!" estendendo um mútuo prazer na gradativa ascensão. Ora! Ascensão?! Nem sempre tal percurso descreva um aclive.
sábado, 13 de julho de 2019
Esquecimento do futuro
É comum a juventude esquecer o futuro certo: a morte. Como se pode ser ou se pressupor governado pela razão quando a única e maior certeza é ignorada?
quinta-feira, 11 de julho de 2019
A sensibilidade sabe muito bem que não há frio que justifique banhar-se com água fervendo. Já a insensibilidade e o ódio não se preocupam com justificativas: a insensibilidade sabe se disfarçar muito bem, até mesmo se faz caber em trajes nobres, justiceiros... Já o ódio não tem tempo pra isto, ele não enxerga um palmo diante do nariz. Como veria o tribunal?
quarta-feira, 10 de julho de 2019
O PAI DA MENTIRA
a verdade não tem propósito,
não age.
é tal qual a pedra.
não é um sujeito
nem objeto de autoria!
nem objeto de autoria!
não responde,
não salvará ninguém,
nem matará!
permanece incólume ante as barbáries,
fértil e vasto campo impassível ao amor e aos holocaustos.
é a doença, o vírus, o assassino,
fértil e vasto campo impassível ao amor e aos holocaustos.
é a doença, o vírus, o assassino,
os mortos, as vísceras, os vermes...
enormes e cotidianas filas para a vacina, tecidas pelo medo,
a nos deixar doentes!
enormes e cotidianas filas para a vacina, tecidas pelo medo,
a nos deixar doentes!
a verdade nos tem sem vice-versa.
não somos suficientes para detê-la.
a verdade não tem mãos de insculpir,
braços de acolher,
pernas de prosseguir.
contudo, para onde vamos fazemos uma verdade,
não nos faculta outra coisa,
não nos faculta outra coisa,
pois a verdade é o especifico e estreito possível que se realizou
contra uma suposta infinitude de hipóteses.
o homem pretende trajá-la (disfarce), portá-la, diz agir e falar em sua promoção...
ora, a verdade não precisa de crentes, advogados, promotores, juízes... são todos aparatos do nosso desconhecimento, ó prepotentes!
mente quem fala em nome da verdade, assim como quem fala em nome da amizade, do amor, da justiça...
pois um homem não fala senão em seu nome,
por si mesmo e por seu interesse,
oculte-se ou se disfarce este interesse como lhe convir,
por si mesmo e por seu interesse,
oculte-se ou se disfarce este interesse como lhe convir,
inclusive venha aqui um interesse me desmentir!
pense numa verdade fixa a esperar nosso descobrimento,
uma verdade a se mexer num ritmo que saiba dançar nossa compreensão;
digo, que possa lhe dar as mãos, abraçá-la,
que se faça suscetível à nossa posse e manejo
e que assim nos seduza, nos agrade...
que seja um fio de voz a nascer num alto monte
regato de água translúcida de onde bebe um messias
regato de água translúcida de onde bebe um messias
para falar de uma necessária submissão ao que é límpido, transparente, insosso e inodoro (desinteressado), regato então que apregoa como mentira as suas próprias margens, o próprio outeiro onde nasce,
e que espera dos homens, este barro, esta lama, uma obediência, para assim purificá-los!
uma verdade que louva sacrifícios e angaria porta-vozes,
que deles depende;
que adora verbos, que adotou a gramática, que exige crença,
que grita, se exalta, uma verdade com calor humano, com forte odor de impotência humana...uma verdade que propõe o homem como água suja!
e que espera dos homens, este barro, esta lama, uma obediência, para assim purificá-los!
uma verdade que louva sacrifícios e angaria porta-vozes,
que deles depende;
que adora verbos, que adotou a gramática, que exige crença,
que grita, se exalta, uma verdade com calor humano, com forte odor de impotência humana...uma verdade que propõe o homem como água suja!
quem quer que pense isto com seriedade termina numa gargalhada e percebe que
então descobriu o interesse envergonhado:
o pai da mentira!
o pai da mentira!
segunda-feira, 8 de julho de 2019
INALCANÇÁVEIS
tantas coisas me passam, voláteis... enquanto dirijo, enquanto como pipocas, enquanto uso o sanitário, no meio da leitura de um parágrafo... um decolar das objetividades! de repente, desejo de escrever um livro, de fazer um samba num dia de sol como ontem... uma estranha potência para a vida, um gosto de uma saudosa fruta perdida na boca, sem a fruta mesmo e o trabalho de plantá-la, cuidá-la das pragas, colhê-la, mordê-la... a fruta das ideias, as sensações... essas flores-sensações, alimentadas no esterco da ignorância, do esquecimento de tudo que ainda pouco nos desnorteava: pensava em resolver-me com um fim, uma lâmina, com monóxido num quarto... parece que sem a ideia do suicídio, não posso mais viver! preciso sempre estar a batucar, a testar a porta de saída.
voltemos a ontem! batucava no volante, no trabalho... batucava um entusiasmo meio orgânico, que não era fruto de um resultado, mas pura sensação de ter sob os pés, talvez, um mesmo mundo que tive moleque, ingênuo, mais inventor que descobridor de tudo; assim, menos oprimido pelo que via, mais gozador do que inventava. ah! quando o mundo era ainda uma argila maleável, depois virou esta pedra dura e seca, este tumor no pensamento, cada vez ganhando mais terreno pra angústia, e inclinações suicidas. não era um resultado, não era pois produto de um mérito aquela sensação boa de ontem... que durou até o sol se pôr. a ausência de cálculos, isto sim!
mas se alguém me dissesse para então pôr em prática... parar o trabalho e tentar organizar uma roda, levar os equipamentos para um bar e ir tocar... importunar as pessoas já tão convidadas por tudo, vendedores comissionados, propagandas, distribuidores de panfletos... as pessoas querem ir e encontrar, e não sair para promover nada! na folga elas querem se esticar, comer a torta e não fazê-la, sujar a cozinha, as louças e ter de lavar...
me pego a pensar em todas as tecnologias que nos fazem poupar tempo: geladeira, máquina de lavar, fogão, celular, computador, internet, whastssaps, skypes, uma filha em londres nos evocando numa cozinha em tókio! tudo necessitando de atualização, gerenciamento, consertos infindáveis, notícias, remédios, químicas para permanecer, químicas para findar, químicas para nascer... formatações para nossa cabeça, para nossos aparelhos de viver em cacos... para viver num mundo suposto! tecnologias que tornam a vida mais prática, consomem menos tempo: mas ora, diabos! deus! pra onde foi este tempo? as pessoas parecem-me mais quebradas, divididas, descontinuadas, híbridas desaustinadas, sequiosas de silêncio, natureza... exaustas de mensagens, letras, anúncios, convites, promessas, ódios apregoados, perdões solicitados, culpas incutidas... por fim, a roda de samba, o livro... estragava tudo ensaiar transformar estas coisas em realidade.
pois é isto! sinto-me muito inclinado a não ocupar espaço, a evaporar... toda requisição fede a erro crasso! é só comigo mesmo o mundo legal, o outro só tem a destruí-lo! não sei como posso existir depois de ter existido. não sei como me atrevo a continuar, sou um constante desaprimoramento, venho rolando pela escada de qualquer decência para as manhãs que nascem, óbvias e claras! a moça que não respondeu, o devedor que não me deu bola e me fez de otário... tudo me redunda o erro de ter sorrido pro outro, de ter me dado ao convívio.
a roda de samba, o livro escrito seria para meu filho... pobre!, que lhe dizer? que está errado o idioma, pois não dá conta da realidade?! que realidade melhor que esta limitada, qual nos fornece a ilusão que damos conta de algo?! pobre menino a ser dado a isto que é apenas "isto": nem vida, nem mundo, nem ordem, nem país, nem nada... uma selvageria disfarçada, mil vezes mais astuta, ardilosa do que a lebre na boca de um tigre, mas ainda "a lebre na boca do tigre"! que lhe dizer, augusto? que os cálculos são uma tolice? talvez você "nasça pra estupidez da matemática e ache nisto sua maior alegria!" um livro pra ele... ora, que ele desfrute do que quiser, aponte em mim loucuras, infâmias, crie seus valores em admiração e contraposição... não fui fazê-lo, fui ter um gozo! ele é outro, alheio, como tudo... apenas abraçá-lo, ainda que não seja meu, cuidá-lo, para que ele sirva sem doer a este mundo! apenas ele quero aqui fora, por ora... se houvesse mesmo mérito, eu seria indesculpável pai!
na minha cabeça, sentimentos passageiros, tecidos de uma maneira imprecisa, disforme, mista, escorregadia; diria que se trata de uma boa sensação vestindo os retalhos de bons momentos passados: escritos, rodas de samba, beijos, o ar em torno de mim, flutuando, jogado pro alto por meu pai... sensações, nada mais! quando penso na roda de samba íntegra, real, em produzi-la, me desgosto! sente? as pessoas, os lugares reais em que isto poderia acontecer... tudo maçada! culpa! imprudência! sente? se sente, é só seu! você está só, aí, do outro lado da palavra, do vidro... somos inalcançáveis!
domingo, 7 de julho de 2019
o bairrista
tá vendo esse velhinho aí travessando a rua?, tem mais de cem anos!
vira aqui à esquerda, nesta padaria!
ó! biscoito de queijo daí, já comeu? melhor da cidade!
logo ali em frente mataram um esta semana.
aí!, perto desta construção, que foi um primo meu quem fez o projeto...
lá em cima serão os restaurantes! tá vendo as vigas? tenho um medo disto falir.
e vão construir dois sobrados no terreno seguinte.
o dono... só um dos filhos dele não tem imóvel próprio ainda.
...pega aqui na segunda saída da rotatória, melhor!
costelaria aí é cara demais. e vive cheia, hein!
conheço os proprietários.
semana passada tive aí, nem me cobraram a conta!
à direita!, atalho!
você não é daqui não, né? nunca te vi na história!
vira aqui à esquerda, nesta padaria!
ó! biscoito de queijo daí, já comeu? melhor da cidade!
logo ali em frente mataram um esta semana.
aí!, perto desta construção, que foi um primo meu quem fez o projeto...
lá em cima serão os restaurantes! tá vendo as vigas? tenho um medo disto falir.
e vão construir dois sobrados no terreno seguinte.
o dono... só um dos filhos dele não tem imóvel próprio ainda.
...pega aqui na segunda saída da rotatória, melhor!
costelaria aí é cara demais. e vive cheia, hein!
conheço os proprietários.
semana passada tive aí, nem me cobraram a conta!
à direita!, atalho!
você não é daqui não, né? nunca te vi na história!
quinta-feira, 4 de julho de 2019
o amor não existe
Com relação ao amor, não há recompensa maior em o praticarmos do que nisto o estarmos inventando, construindo-o e não exclusiva e necessariamente o descobrindo, menos ainda agindo sob uma sua clara regência, divina e antecessora à nossa própria existência.
Que uma outra parte não retribua ao amante seus "investimentos", não é o total do que se quer importar, pois a reciprocidade é apenas o que se espera a curto prazo. A qualquer modo, amar lhe retribui com a engenhosa construção de um mundo melhor: ao fazer do outro tal importância em sua vida, o amante esta agindo inconscientemente ante a necessidade de fundamentar a crença num mundo menos selvagem, egoísta, egocêntrico, incivil... O amante representa: sozinho, à noite, o objeto de amor é enaltecido, para causar-se aparente desinteresse, pois se feito em total particularidade. Não há amor sem representarmos tal gênero teatral: ator-plateia. Amantes, não percebemos aí o terreno que seria de pesadelos, caso não fosse dominado pela heroica imagem do ser amado e do próprio amor. Sim! Apagamos as luzes e inauguramos este mundo amoroso, altruísta, a despeito de toda claridade vivida! - Isto sim é o que é! E não que tal mundo maravilhoso exista terceiro e esteja sujeito a ser encontrado por merecedores, tampouco que - por outro lado - seja algo nítido, tal grandeza impossível de se ignorar; portanto, com qual rocha todos tenham de dar inevitavelmente no caminho-vida. Não! Trata-se de algo que, não obstante seu caráter inventivo, pode ser crido, ou construído, se investido num determinado terreno. Um favorável terreno à uma necessidade de "entendimento da vida", talvez fosse então melhor chamá-la de "necessidade de desentendimento". Qual necessidade queira desentender obviedades demasiadamente fortes, duras e claras, tais como: "a indiferença do universo"; "a finitude da vida" - em outras palavras, o amante se propicia, ator e plateia-distraída, um mundo em que o amor reina; ou seja, sob qual reino ele também concorre à sorte de ser o centro, a razão de outro viver. Não é mesmo provável que o seja para um e outro? Oh, santo consolo! Oh, pretensão!
A nossa recompensa maior, enfim, é podermos assim, com flagráveis gestos de afeto, constituirmos provas da existência do amor. Este abstrato remédio para o fato de termos consciência. Em suma, atos amorosos são antes a gestação, a renovação, transformação, invenção do amor. "Atos de amor desinteressado" são argumentos facilmente refutáveis. Quem se interessaria, no entanto, a advogar contra, mover contra si a ira dos românticos? Quem seria tão desagradável em nome de uma suposta "Verdade"? Não o faria antes em nome de um suposto rancor? Por que caluniar todos os interesses humanos-individuais indiscriminadamente? Ora, porque a civilização não sobreviveria sob a popularidade desta visão! Porque as desrazões são pilares, são itens de liga a conformar uma massa! Afinal, que ânimos violentos a esperança no amor não acalenta e põe para dormir o sono dos justos? O amor é o efeito de uma peça teatral, filho de uma necessidade, parido pela humanidade, resposta a uma atenta audição do silêncio do sentido universal, uma obra de arte suntuosa! Não um nosso Deus Imperador, Pai... Pois sua paternidade seria incompetente a nos educar com a dureza necessária à suportarmos ter consciência da vida. Ele se parece mais com um santo ocupando um nicho de existir, preenchedor de uma falta grave! Ele é antes nosso fruto!
Um teatro?! - ouço indignados. Respondo-os com outra pergunta: Supõem que tal caráter de arte diminui o amor em nobreza? Por certo que acostumamos a divinizá-lo. Ainda precisamos acreditá-lo Deus ou podemos contemplá-lo humano sem degradá-lo, quebrá-lo como um peso que cai do céu sob a lei de nossa gravidade racional? Ora!, para o endeusamento do amor, para a fé no amor, torna-se indispensável o teatro "noturno" desapercebido. A crença na cena fictícia é infinitamente mais importante à saúde da alma do que a verificação de uma indiferença universal e a investigação de nosso ego, eis justamente os elementos que o espetáculo contraria para converter-nos de potenciais apáticos - céticos habitantes de uma vida insignificante - em efetivos entusiastas - devotos do Amor.
Se "amor" é um termo antigo, se antecede nossa geração neste sentido e também conceitualmente, também o faz a linguagem, sem inferir, tal caráter de antecedência, que ambos sejam impassíveis a um processo de reafirmação e alteração. Em linhas conclusivas: O amor é fruto não da copa da árvore, mas da sombra que ela projeta no caminho-vida, sem o que este seria intransitável. Sombra em que descansamos nossos olhos da luz. O amor não existe, logo, é imperioso fazê-lo.
Que uma outra parte não retribua ao amante seus "investimentos", não é o total do que se quer importar, pois a reciprocidade é apenas o que se espera a curto prazo. A qualquer modo, amar lhe retribui com a engenhosa construção de um mundo melhor: ao fazer do outro tal importância em sua vida, o amante esta agindo inconscientemente ante a necessidade de fundamentar a crença num mundo menos selvagem, egoísta, egocêntrico, incivil... O amante representa: sozinho, à noite, o objeto de amor é enaltecido, para causar-se aparente desinteresse, pois se feito em total particularidade. Não há amor sem representarmos tal gênero teatral: ator-plateia. Amantes, não percebemos aí o terreno que seria de pesadelos, caso não fosse dominado pela heroica imagem do ser amado e do próprio amor. Sim! Apagamos as luzes e inauguramos este mundo amoroso, altruísta, a despeito de toda claridade vivida! - Isto sim é o que é! E não que tal mundo maravilhoso exista terceiro e esteja sujeito a ser encontrado por merecedores, tampouco que - por outro lado - seja algo nítido, tal grandeza impossível de se ignorar; portanto, com qual rocha todos tenham de dar inevitavelmente no caminho-vida. Não! Trata-se de algo que, não obstante seu caráter inventivo, pode ser crido, ou construído, se investido num determinado terreno. Um favorável terreno à uma necessidade de "entendimento da vida", talvez fosse então melhor chamá-la de "necessidade de desentendimento". Qual necessidade queira desentender obviedades demasiadamente fortes, duras e claras, tais como: "a indiferença do universo"; "a finitude da vida" - em outras palavras, o amante se propicia, ator e plateia-distraída, um mundo em que o amor reina; ou seja, sob qual reino ele também concorre à sorte de ser o centro, a razão de outro viver. Não é mesmo provável que o seja para um e outro? Oh, santo consolo! Oh, pretensão!
A nossa recompensa maior, enfim, é podermos assim, com flagráveis gestos de afeto, constituirmos provas da existência do amor. Este abstrato remédio para o fato de termos consciência. Em suma, atos amorosos são antes a gestação, a renovação, transformação, invenção do amor. "Atos de amor desinteressado" são argumentos facilmente refutáveis. Quem se interessaria, no entanto, a advogar contra, mover contra si a ira dos românticos? Quem seria tão desagradável em nome de uma suposta "Verdade"? Não o faria antes em nome de um suposto rancor? Por que caluniar todos os interesses humanos-individuais indiscriminadamente? Ora, porque a civilização não sobreviveria sob a popularidade desta visão! Porque as desrazões são pilares, são itens de liga a conformar uma massa! Afinal, que ânimos violentos a esperança no amor não acalenta e põe para dormir o sono dos justos? O amor é o efeito de uma peça teatral, filho de uma necessidade, parido pela humanidade, resposta a uma atenta audição do silêncio do sentido universal, uma obra de arte suntuosa! Não um nosso Deus Imperador, Pai... Pois sua paternidade seria incompetente a nos educar com a dureza necessária à suportarmos ter consciência da vida. Ele se parece mais com um santo ocupando um nicho de existir, preenchedor de uma falta grave! Ele é antes nosso fruto!
Um teatro?! - ouço indignados. Respondo-os com outra pergunta: Supõem que tal caráter de arte diminui o amor em nobreza? Por certo que acostumamos a divinizá-lo. Ainda precisamos acreditá-lo Deus ou podemos contemplá-lo humano sem degradá-lo, quebrá-lo como um peso que cai do céu sob a lei de nossa gravidade racional? Ora!, para o endeusamento do amor, para a fé no amor, torna-se indispensável o teatro "noturno" desapercebido. A crença na cena fictícia é infinitamente mais importante à saúde da alma do que a verificação de uma indiferença universal e a investigação de nosso ego, eis justamente os elementos que o espetáculo contraria para converter-nos de potenciais apáticos - céticos habitantes de uma vida insignificante - em efetivos entusiastas - devotos do Amor.
Se "amor" é um termo antigo, se antecede nossa geração neste sentido e também conceitualmente, também o faz a linguagem, sem inferir, tal caráter de antecedência, que ambos sejam impassíveis a um processo de reafirmação e alteração. Em linhas conclusivas: O amor é fruto não da copa da árvore, mas da sombra que ela projeta no caminho-vida, sem o que este seria intransitável. Sombra em que descansamos nossos olhos da luz. O amor não existe, logo, é imperioso fazê-lo.
terça-feira, 2 de julho de 2019
NO CALOR
a água evapora,
o sentimento se apalavra,
uma é sede de engolir;
outra, de pôr para fora.
uma é fiel substância do que vem:
transparente, insípida e inodora.
da outra não sabemos bem:
o que mente, significa e ignora.
segunda-feira, 1 de julho de 2019
dispepsia
este refluxo,
este desconforto estomacal..
outrora seriam apenas os pastéis
de ontem...
- minha reação à farinha refinada.
mas não!
estes diagnósticos não disfarçam mais.
o que não consigo mais digerir
e o que teimam chamar de justiça
nisto que chamam pátria
é o que usou o verde
como um sintoma doentio
e fez do amarelo a covardia.
haverá um esquecimento que consiga
lavar de toda semântica terrível
que encardiu estas pobres cores?
este desconforto subindo do estômago
ao esôfago, laringe...
escapando em voz de verso
é mais um lula preso
em flagrante
descaramento de um país!
este desconforto estomacal..
outrora seriam apenas os pastéis
de ontem...
- minha reação à farinha refinada.
mas não!
estes diagnósticos não disfarçam mais.
o que não consigo mais digerir
e o que teimam chamar de justiça
nisto que chamam pátria
é o que usou o verde
como um sintoma doentio
e fez do amarelo a covardia.
haverá um esquecimento que consiga
lavar de toda semântica terrível
que encardiu estas pobres cores?
este desconforto subindo do estômago
ao esôfago, laringe...
escapando em voz de verso
é mais um lula preso
em flagrante
descaramento de um país!
LEANDRA LEAL
Sabe aquela figura que te conta uma coisa boa? Não sei exatamente o que há nelas, mas há algumas figuras assim, em mim Leandra é uma delas! Não parece ser por um carácter específico, mas o que há espalhado nela e o que isto comunica em movimento, tom de voz e mesmo na estética estática de uma fotografia; seja como for, a mensagem "Leandra" é reconfortante. Deve ser porque me remete a um tempo digno de saudades: juventude, quando havia uma tv e gente na sala de casa. Algumas pessoas famosas têm este poder de representar em nossa vida, para simpatia ou não. Claro! Sempre sem se darem conta. Gosto de ver sua imagem, pois ela está por aqui desde muito tempo, apesar de Leandra ser mais nova que eu! Pois ela está aqui, sua figura, mesmo através de sua mãe que, como uma tia avessa, cozinhava na sala tomando emprestado o aroma da cozinha lá de casa. Era isto, desembrenhava-se de um "Pantanal", transformando sua fisionomia em familiar antes mesmo de você nos aparecer! Sua mãe, de quem adivinhei que provinha antes pela semelhança do que por saber a Lealdade do sobrenome. Deve ser isto! Esta presença que ela teve no passado, como uma prima menina, mais nova, que falasse confeccionando "nossas" a mãe e as tias que, consanguíneas, eram apenas minhas, e lhe emprestavam bastante atenção, Leandra, a ponto de nos mandarem sair da frente... E você, "prima", as comovia com um timbre sem acidez crítica, predominantemente consolador, confessional, derramando amena essa voz-que-consegue na sala. Às vezes, você sussurrava amores, confessava dores... Pois é, você também foi feliz lá em casa... Bem, eu não ligava ouvidos muito atentos; digo, suficientes a apanharem o sentido do que você entornava, mas me molhava sua existência! Ficou de "Leandra" um suspiro, talvez uma semântica similar a da panela desfazendo-se dos vapores na cozinha, anunciando que havia uma família, cuidados, afetos a serem alimentados, acentuando o lar como doce, prenunciando que minha avó nos evocaria pro almoço e até meu pai, sequestrado pelo comércio, estaria à mesa... Sim! É! Acho que é esta ternura que há em vê-la, como um aroma que rescendia de uma vida distraída e que hoje desenha uma falta. Bem... Leandra ainda existe, isto é notícia boa. E se ela ri, é que nem tudo está perdido... e viver é um pouco sonho!
domingo, 30 de junho de 2019
irritabilidade mnemônica
tirei os óculos com ar grave-distraído...
lembrando o coro e o ritmo monótono
das leituras na classe do ginásio
paredes do cômodo único
pintadas até certa altura de cinza tinta óleo:
assegurando o branco para altura que não alcançávamos
ou seja,
certa altura que podíamos sujá-las.
era um filme preto e branco onde nós éramos coloridos
no pátio havia árvores generosas
enchendo o chão de carambolas e mangas...
era um mundo de voz de meninos contra aqueles muros!
aberto o livro na página com timbre de professora:
"vamos à leitura!"
algo profundamente irritante aquele
compasso-valsa-de-meninos-semialfabetizados,
aquela espécie de missa,
aquela turma,
aquela classe,
agora...
...quase intocável em minha cabeça!
depois que o tempo lhes roubou o material
voltam sempre na aula seguinte
por mais que toque o sinal da saída
eles nunca completam o ensino fundamental
estão sempre a ler daquele modo-cristo-vai-pegar-no-sono
memória petulante:
para me aborrecer vai longe e com lupa ao passado,
enquanto recente já não sei onde grave-distraído deixei os óculos nesta quitinete.
lembrando o coro e o ritmo monótono
das leituras na classe do ginásio
paredes do cômodo único
pintadas até certa altura de cinza tinta óleo:
assegurando o branco para altura que não alcançávamos
ou seja,
certa altura que podíamos sujá-las.
era um filme preto e branco onde nós éramos coloridos
no pátio havia árvores generosas
enchendo o chão de carambolas e mangas...
era um mundo de voz de meninos contra aqueles muros!
aberto o livro na página com timbre de professora:
"vamos à leitura!"
algo profundamente irritante aquele
compasso-valsa-de-meninos-semialfabetizados,
aquela espécie de missa,
aquela turma,
aquela classe,
agora...
...quase intocável em minha cabeça!
depois que o tempo lhes roubou o material
voltam sempre na aula seguinte
por mais que toque o sinal da saída
eles nunca completam o ensino fundamental
estão sempre a ler daquele modo-cristo-vai-pegar-no-sono
memória petulante:
para me aborrecer vai longe e com lupa ao passado,
enquanto recente já não sei onde grave-distraído deixei os óculos nesta quitinete.
quinta-feira, 27 de junho de 2019
noites como começos.
uma noite se estendeu em vida;
outra, em morte.
uma amanhecerá risos de criança!
outra é para sempre noite;
ambas, jeitos de saciedade!
necessidades que são interpostas
a intervalos comerciais.
não anuncio nenhum amor
para os telespectadores.
é só a vida virando era…
não chego inapto à eternidade:
faz-se noite de um impulso para o inevitável,
corrijo tudo que deu em mim.
é sabendo que a gente erra.
se nos tornássemos cientes de que tal ou qual ato em determinada circunstância não resulta no que pretendemos... opa! mas os atos, por mais que tentem, não são iguais, as circunstâncias mudam, as pretensões também, e a sabedoria que detemos não é autônoma responsável por nossas atitudes. é a atitude prepotente que se propõe fruto da certeza.
O esterco e a flor
todo meio em que nos fazemos muito sinceros é um meio que tendemos abandonar. quem não se inventa, não prioriza conservar os laços. depois de nos darmos com franqueza é comum não suportarmos mais a imagem que intuímos haver imprimido. quando voltamos a ter com velhos afetos, a aceitação do reencontro se possibilita muito em razão de nosso esquecimento ou/e de certa aposta no esquecimento alheio: pensamos que a fotografia de momentos impropícios lhes desbotou na memória, perdeu-se numa penumbra, talvez que um juiz amigável em sua cabeça nos martelou uma absolvição irrevogável, ou teria nossa atitude se diluído entre mil outros fatos, mesmo adulterando os protagonistas, ou se minimizam nossos atos infames ou indecorosos agora, em que tal afeto sofre uma tragédia. a qualquer modo, evitamos então, na oportunidade do reencontro, provocá-los, pois eles podem vasculhar o passado contra nós. infere-se que um tanto de nossa dócil sociabilidade é fruto pendendo da vergonha por saber-nos ou nos cogitarmos infames, culpados, devedores. basta ver que os comensais mais jovens tendem a ser mais desagradáveis. é este desagrado que os poderá fazer mais tolhidos nos próximos encontros, isto é, se eles voltarem à mesa. sim! claro! há quem não amadureça e também quem use as desculpas como uma ferramenta corriqueira.
UMA DEFICIÊNCIA
Se nos cientificássemos do quão a vida é sem garantias e curta para condicionarmos seu gozo a encontrar um par afetivo, não nos consumiriam mais muitas angústias. Não gastaríamos nem mais um instante ansiando por um amor escondido, dando créditos a ter de encontrá-lo. Desprezaríamos em nós o que compusesse tal pretensão e preencheríamos nossa vida com a construção dos afetos que se soubessem fazer presentes, manifestos, possíveis. Perceberíamos que ter por imperativo na vida a necessidade de uma companhia é um sequestro que cobra caríssimo o resgate de nossa solidão.
A proposição "O homem é um ser social" - em certa maturidade e sob certo ângulo - infere muito mais que não podemos deste caráter nos libertar do que o desejamos. O que quer que apreendamos na solidão - mais independente - não contribui na fabricação da falta, da melancolia, do maldizer, pois não nos torna um pedaço. Cada vez mais, contemplaríamos o artificial e o superficial como condições bastantes e satisfatórias de relacionarmo-nos. Ocorreria então um processo de adaptação que nos viria entregar um orgulho prazeroso ao retornarmos aos nossos lares, ao passarmos a chave na porta, ao deitarmos em nossas camas no término dos dias. Sozinhos e suficientes. Pois não é a solidão o que dói, mas a imaginação excitada à expectadora de amores românticos. É o desabituar-se à solidão o que dói. É, portanto, o fato de termos aprendido a creditar nosso prazer num ideal "romântico", "religioso"... Enfim, um ideal no além, no futuro, no alheio - em possuí-lo e nos tornarmos sua posse. Tal "necessidade", assada na forma de um sonho, seria flagrada então, claramente, como uma deficiência.
"Quem quer que o deixe por conta de si mesmo, de que o absolve, a que o condena?"
"Quem quer que o deixe por conta de si mesmo, de que o absolve, a que o condena?"
quarta-feira, 26 de junho de 2019
A dívida do conhecimento com a frustração
muitos pensadores são uma espécie de artistas deficientes movidos por um desejo de vingança: por não conseguirem esculturar a beleza, dedicam-se a desvelar verdades.
sou gay
gosto de mim. e eu sou do mesmo sexo que eu. me olho, me amo, me desejo bem! eu me amo quando estou duro, e sendo duro sou capaz de amar o que sou sensível contra um mar de deboches. me casei no católico: estou comigo na alegria, na tristeza... na rima (riqueza, pobreza) e até que a morte me distingua.
terça-feira, 25 de junho de 2019
"você escreve coisas tristes!"
não escrevo sempre o que quero, escrevo mais o que vejo. escrevo mais como quem abre os olhos, não como quem os fecha, ora, deseja e inventa. se não escolho o que se passa à minha frente, como poderia escolher o que descrevo? se abro os olhos pro céu, não escrevo "paraíso", escrevo "azul". escrevo o que sinto e percebo, não o que espero. quem gosta de ler o que é "positivo" e "alegre" somente, tende a lutar contra muito do que digo. estes mesmos são a prova aqui: não desejo que eles existam, apenas os flagro.
"Longas cartas pra ninguém"
um discurso não se justifica pelo teor inteligente que tem. a inteligência deve relacionar sua pretensão a quando, onde, como e pra quem.
segunda-feira, 24 de junho de 2019
a alma é pudor com o transitório, com o corpo, com o toque, uma instituição de critérios, um aperto nos parafusos da solidão. o seu querer, delator de idioma excuso da falta e da impotência humana, falsário de necessidades, impotente, evolui da pirraça à beleza da lástima poética. a alma provém de evaporação ante a realidade dura, indomável, uma projeção arrogante do ego numa dimensão de verdade e eternidade, um acúmulo palavroso de tralhas abstratas, lembranças, traumas e afetos que confabulam contra o vigente, que o regurgita... um obstáculo ao encontro possível encarnado. a alma é o abismo entre os seres.
sábado, 22 de junho de 2019
quinta-feira, 20 de junho de 2019
você está cansado, já não se engana na própria voz, menos no retrato. seu tempo parece ausente, a voz parecida com a de alguém numa manhã avulsa quase o retorna à vida. diz um consolo: passado só vale porque passou. já o presente é um flagrante do querer não realizado. futuro... você não tem esperança de nada. esperança de nada é um fruto de sabedoria. sabe: amanhã não o fará mais completo que agora. sua poesia, como você, por vezes saltitou alegremente; por outras, caminhou devagar... ambas as oportunidades, para quê? para ver bem de perto a tolice de ter pretendido o que quer que seja? o que machuca no nosso ponto final é que o sabemos reticências pros outros...
terça-feira, 18 de junho de 2019
segunda-feira, 17 de junho de 2019
POPULARIDADE x VERDADE
- quem ganha, a realidade ou a popularidade?
- em qual briga?
- naquela em que a popularidade diz que quem ganha é a verdade, e a verdade diz que quem ganha é a popularidade.
- em qual briga?
- naquela em que a popularidade diz que quem ganha é a verdade, e a verdade diz que quem ganha é a popularidade.
si menor em torno de um sol maior
Inspirado em Jô na roda.
nenhum mundo - redondo! redondo! - gira em torno de mim melhor que uma roda de samba. acho-a a gestação de um deus: quando os homens, desentendidos de tudo, se entendem num ritmo, em risos, rimas e isto é samba, meu dia amanhece. quando a gente entra numa roda dessas, deixa de ser gente, passa a ser "beleza".
domingo, 16 de junho de 2019
quarta-feira, 12 de junho de 2019
INDEFINIDO
tudo é assim
indefinido
não adianta ter ouvidos
pruma cor
não adiantam olhos para
uma canção
não adianta razão
pro amor
moles
como nosso querer
duros como a
necessidade
mais nos importa gozar
do que encontrar com a verdade
indefinido
não adianta ter ouvidos
pruma cor
não adiantam olhos para
uma canção
não adianta razão
pro amor
moles
como nosso querer
duros como a
necessidade
mais nos importa gozar
do que encontrar com a verdade
quarta-feira, 5 de junho de 2019
MUNDO? AQUILO!
o mundo houvera;
às costas dos escravos que o faziam
e que tinham sangue a dar, mesmo aos covardes
mas o mundo havia,
ainda que na ponta de um chicote
hoje pela caverna do verdadeiro mundo passaram um fio,
e me comunico com as tele-hipóteses do mundo.
há a enciclopédia, que encadernaram
o mundo
meus amigos nem sabem,
buscam em teorias o que deva ser "amizade"
e antes era um cansaço e uma dor real que atava o abraço
alguns homens no mundo...? talvez raça em extinção
há; assim, como neste texto, o mundo
e quem o leia crente:
"mundo!"
às costas dos escravos que o faziam
e que tinham sangue a dar, mesmo aos covardes
mas o mundo havia,
ainda que na ponta de um chicote
hoje pela caverna do verdadeiro mundo passaram um fio,
e me comunico com as tele-hipóteses do mundo.
há a enciclopédia, que encadernaram
o mundo
meus amigos nem sabem,
buscam em teorias o que deva ser "amizade"
e antes era um cansaço e uma dor real que atava o abraço
alguns homens no mundo...? talvez raça em extinção
há; assim, como neste texto, o mundo
e quem o leia crente:
"mundo!"
DE FATO
não me tente fazer
acreditar...
não sou o
mundo!
não toque
meus ombros feito um seu ápice,
são apenas
superfícies encarnadas sem consolo.
não invente
meus olhos lagos ou mares...
no mais, nem
oceanos são infindos!
não me tente,
inocente, fazer crer numa minha amplitude,
não me venha
com estas regalias românticas!
não me crie com tanta gravidade
pois acaso eu creditasse esta criatura
poderia sustentar o peso de minha queda
quando eu despencasse do delírio em bom-senso?
não me crie com tanta gravidade
pois acaso eu creditasse esta criatura
poderia sustentar o peso de minha queda
quando eu despencasse do delírio em bom-senso?
não gaste comigo tantas cores:
arco-íris também me entediam!
arco-íris também me entediam!
sou menor
que o que piso e
já não venho
da infância me carregando no colo.
o presente é desde nada!
o presente é desde nada!
e o "doravante" não me preocupa.
não creio em
nada!
se confundo ou
se entendo certo, pouco se me diz,
o fato é que me
soam demais parecidos os desertos e as multidões,
os vazios e a demasias.
os vazios e a demasias.
e não me
cobre provas disto!
porque não é
a verdade que me cabe, mas o sentimento.
não se faça
crente de estrelas várias em meus olhos,
saiba dos
reflexos, dos abraços que noites frias inventam na falta de outros agasalhos.
o escuro de amar propicia
muitas expectativas sem balcão ou atendentes!
não faça, não tenho troco!
não tenho troco se você me veste tudo: não a vejo mais que o concedem instantes convenientes,
e atine que
as fotos da retina mais se perdem entre trilhares...
e se guardam algo, mentem ao estagnar o que se movia.
e se guardam algo, mentem ao estagnar o que se movia.
não! não nos
promovamos por ufania ou loucura.
achemo-nos
suficientes dentro de uma camisa larga sem estampa
e vamos à
feira distrair nossas vidas
desconcentrá-las do que não for verdura, frescor, presente...
vamos! sem nobreza ou infâmia, sem dívida com ontem, sem ânsia regida pela consciência da finitude, sem vício ou virtude alardear! de mãos carnais dadas, ou não.
vamos! que a tristeza é só um quarto, a esperança é um monumento de sonhos erguido pelo diabo e posto para atravancar o passeio de viver o possível.
vamos! sem nobreza ou infâmia, sem dívida com ontem, sem ânsia regida pela consciência da finitude, sem vício ou virtude alardear! de mãos carnais dadas, ou não.
vamos! que a tristeza é só um quarto, a esperança é um monumento de sonhos erguido pelo diabo e posto para atravancar o passeio de viver o possível.
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