quarta-feira, 5 de junho de 2019

DE FATO



não me tente fazer acreditar...
não sou o mundo!
não toque meus ombros feito um seu ápice,
são apenas superfícies encarnadas sem consolo.
não invente meus olhos lagos ou mares...
no mais, nem oceanos são infindos!
não me tente, inocente, fazer crer numa minha amplitude,
não me venha com estas regalias românticas!

não me crie com tanta gravidade
pois acaso eu creditasse esta criatura
poderia sustentar o peso de minha queda
quando eu despencasse do delírio em bom-senso?

não gaste comigo tantas cores:
arco-íris também me entediam!

sou menor que o que piso e
já não venho da infância me carregando no colo.
o presente é desde nada!
e o "doravante" não me preocupa.
  
não creio em nada!
se confundo ou se entendo certo, pouco se me diz,
o fato é que me soam demais parecidos os desertos e as multidões,
os vazios e a demasias.
e não me cobre provas disto!
porque não é a verdade que me cabe, mas o sentimento.

não se faça crente de estrelas várias em meus olhos,
saiba dos reflexos, dos abraços que noites frias inventam na falta de outros agasalhos.
o escuro de amar propicia muitas expectativas sem balcão ou atendentes!
não faça, não tenho troco!
não tenho troco se você me veste tudo: não a vejo mais que o concedem instantes convenientes,
e atine que as fotos da retina mais se perdem entre trilhares...
e se guardam algo, mentem ao estagnar o que se movia.
  
não! não nos promovamos por ufania ou loucura.
achemo-nos suficientes dentro de uma camisa larga sem estampa
e vamos à feira distrair nossas vidas
desconcentrá-las do que não for verdura, frescor, presente...
vamos! sem nobreza ou infâmia, sem dívida com ontem, sem ânsia regida pela consciência da finitude, sem vício ou virtude alardear! de mãos carnais dadas, ou não.
vamos! que a tristeza é só um quarto, a esperança é um monumento de sonhos erguido pelo diabo e posto para atravancar o passeio de viver o possível.

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