domingo, 30 de junho de 2019

irritabilidade mnemônica

tirei os óculos com ar grave-distraído...
lembrando o coro e o ritmo monótono
das leituras na classe do ginásio
paredes do cômodo único
pintadas até certa altura de cinza tinta óleo:
assegurando o branco para altura que não alcançávamos
ou seja,
certa altura que podíamos sujá-las.
era um filme preto e branco onde nós éramos coloridos
no pátio havia árvores generosas
enchendo o chão de carambolas e mangas...
era um mundo de voz de meninos contra aqueles muros!

aberto o livro na página com timbre de professora:
"vamos à leitura!"
algo profundamente irritante aquele
compasso-valsa-de-meninos-semialfabetizados,
aquela espécie de missa,
aquela turma,
aquela classe,
agora...
...quase intocável em minha cabeça!

depois que o tempo lhes roubou o material
voltam sempre na aula seguinte
por mais que toque o sinal da saída
eles nunca completam o ensino fundamental

estão sempre a ler daquele modo-cristo-vai-pegar-no-sono


memória petulante:
para me aborrecer vai longe e com lupa ao passado,
enquanto recente já não sei onde grave-distraído deixei os óculos nesta quitinete.



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