quinta-feira, 27 de junho de 2019

O esterco e a flor

todo meio em que nos fazemos muito sinceros é um meio que tendemos abandonar. quem não se inventa, não prioriza conservar os laços. depois de nos darmos com franqueza é comum não suportarmos mais a imagem que intuímos haver imprimido. quando voltamos a ter com velhos afetos, a aceitação do reencontro se possibilita muito em razão de nosso esquecimento ou/e de certa aposta no esquecimento alheio: pensamos que a fotografia de momentos impropícios lhes desbotou na memória, perdeu-se numa penumbra, talvez que um juiz amigável em sua cabeça nos martelou uma absolvição irrevogável, ou teria nossa atitude se diluído entre mil outros fatos, mesmo adulterando os protagonistas, ou se minimizam nossos atos infames ou indecorosos agora, em que tal afeto sofre uma tragédia. a qualquer modo, evitamos  então, na oportunidade do reencontro, provocá-los, pois eles podem vasculhar o passado contra nós. infere-se que um tanto de nossa dócil sociabilidade é fruto pendendo da vergonha por saber-nos  ou nos cogitarmos infames, culpados, devedores. basta ver que os comensais mais jovens tendem a ser mais desagradáveis. é este desagrado que os poderá fazer mais tolhidos nos próximos encontros, isto é, se eles voltarem à mesa. sim! claro! há quem não amadureça e também quem use as desculpas como uma ferramenta corriqueira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário