segunda-feira, 26 de novembro de 2018

IMPORTÂNCIA

- Olhe o universo!, o infinito!, não somos nada... O que a gente importa?
- Nada disto: o infinito, o universo... sabe atribuir importância. Eis a nossa! Seria uma pena e mesmo uma tolice usar esta capacidade para fazermos tão pouco, entre todo este infinito morto, da rara e finita vida!

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

sábado, 17 de novembro de 2018

Ela à vista



Quero o momento soberano do sorriso dela, e acordar meus dias, passar as tardes, deitar minhas noites na beleza da rua por qual ela vem. Pras suas curvas não há velocidade segura... Parei! Só continuei na imaginação os traços de uma tatuagem em suas costas, por baixo da peça de roupa! Aah, aclives que me levaram a ápices de imaginações terno-libidinosas.  Desavisado receio,  temia o sem rumo do país e me perdi em sua nuca. Freios falhos nos declives...  Capotei! Cada vez que ela jogava os cabelos prum lado, um mundo de expectativas era inaugurado, e era um habitat de quereres selvagens naquela densidade, e era verão de evaporar o juízo, e era de afogar e de salvar, o mar e a ilha. Tanto tempo à deriva me adivinha a alegria de gritar: ela à vista!

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Anti-horário

O jeito mais eficaz de perder o tempo é contá-lo.

O FUTURO DO AMOR POETA

quando não houver mais nenhum verso a ser feito de nós, o silêncio se deitará primeiro em segundos dantescos enormes; depois andará no incômodo, segurando pelo cós as horas largas para esconder as vergonhas; hercúleo,  abrirá como pilares portentosos as semanas que gradativamente se estreitarão; o silêncio, então, tomará sol na esteira dos meses, suspirando um alívio ainda tímido, até que espatifará imenso, quebrando o fino vidro da eternidade pretendida no ríspido chão do instante inexorável, perdendo a quietude num novo amor declamado. aí o silêncio já não será singular mensagem a ti remetida, mas algo estilhaçado em ínfimos cacos que já não cortarão os pés postos em novo caminho. ínfimos cacos de mudas palavras que inauguraram, num dia já esquecido, a falta de ter contigo.

O que acaba

Deitado na eternidade, sou e gosto apenas do que acaba: 

Nos meus olhos, o fim de um corpo na epiderme tocando o ar invisível e a cor das  paredes das casas, a cidade por trás embaçada...;

Na memória, um capítulo da história do corpo principal personagem...; No peito se diluem lentas as esquinas que dobro em partidas e embalo em lembranças apertadas...;

Em fotografia me cabe no bolso a cédula de um acaso adquirido por um propósito ocasionado. Uma esmaece, outro rasga...; 

Um sabor desaparecendo na saliva distraída desvela o poder da língua e a necessidade do outro; 

A saudade dos prazeres desenha imaginações sinuosas, alamedas idílicas que querem dar na rua presente e enfeita um amor com as alegrias que se foram no centro de corredores flácidos de minha visão periférica, por vezes carregadas em frias alças metálicas...; 

As formas que se desfazem ante meus sentidos; os beijos que se foram em outras bocas; os cheiros de manhãs que um café rotineiro não consegue mover do esquecimento; 

As rugas que me amorratam na bagagem do tempo; 

A música que acaba na tensão, mutilada da satisfação e do equilíbrio, desenha a vida que levo fora do tom...  

Amo tudo que é pouco, capto no infinito o que acaba, e me ajoelho devoto

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

BICHO-DEUS

Não domarei o meu bicho pela beleza moral
Deixa-lo-ei solto fazendo pasto dos outros
Não usarei correntes mais longas que sejam
Não negociarei sua sede
Para deita-lo com fêmeas
Nunca mais chegarei pontual e a rigor
Não terei mais um lar
E morderei a  mão de um pretenso dono


A civilização nos alinha numa fila longa
Para a cova.
Nesta espera, o medo faz planos
Embotando o canino das vontades
E lastimando a beleza que transita mais rápido e desaparece do alcance de nossa língua

Meu estômago se adapte a dispepsia das maldades que assisti
Os meus erros são de Deus
E prestarei tantas contas quanto o Acaso