sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O que acaba

Deitado na eternidade, sou e gosto apenas do que acaba: 

Nos meus olhos, o fim de um corpo na epiderme tocando o ar invisível e a cor das  paredes das casas, a cidade por trás embaçada...;

Na memória, um capítulo da história do corpo principal personagem...; No peito se diluem lentas as esquinas que dobro em partidas e embalo em lembranças apertadas...;

Em fotografia me cabe no bolso a cédula de um acaso adquirido por um propósito ocasionado. Uma esmaece, outro rasga...; 

Um sabor desaparecendo na saliva distraída desvela o poder da língua e a necessidade do outro; 

A saudade dos prazeres desenha imaginações sinuosas, alamedas idílicas que querem dar na rua presente e enfeita um amor com as alegrias que se foram no centro de corredores flácidos de minha visão periférica, por vezes carregadas em frias alças metálicas...; 

As formas que se desfazem ante meus sentidos; os beijos que se foram em outras bocas; os cheiros de manhãs que um café rotineiro não consegue mover do esquecimento; 

As rugas que me amorratam na bagagem do tempo; 

A música que acaba na tensão, mutilada da satisfação e do equilíbrio, desenha a vida que levo fora do tom...  

Amo tudo que é pouco, capto no infinito o que acaba, e me ajoelho devoto

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