quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

DO QUE COLHO MEU RISO (para Augusto)

do que colho meu riso,
encontro o mundo cada vez mais deserto.
fujo de pensar no país,
se me tenho desperto!
brasileiro, sou deveras infeliz!
o amor?... torna o agora mesquinharia,
o enorme passado:
oco em mim a reverberar enganos
para quais se desfez uma fundamental ingenuidade.
tive por anos maior a família e amigos ao lado.
no espelho, que vaidade?
flagro a inexpressão do rosto...
permaneço a olhar o suficiente
para perceber que sequer este flagra tem gosto,
não exprime um sentimento nítido:
nem tristeza, nem orgulho de saber-me acabando
e de pé ainda.
olho pro meu filho
- uma criança linda -
e estou muito perdido!
o riso dele quando pleno de inocência me encara
me reinventa uma alegria:
uma flor rara que rápido vigora e breve esmorece
e que me aproveita que me restam dentes: rio!
só nele distraído estou contente.
para além dele, o mundo quase que só me entristece.
olho-o, rio e estou certo:
do que colho meu riso,
encontro o mundo cada vez mais deserto.

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