quarta-feira, 10 de julho de 2019

O PAI DA MENTIRA

a verdade não tem propósito,
não age.
é tal qual a pedra.
não é um sujeito
 nem objeto de autoria!
não responde,
não salvará ninguém,
nem matará!
permanece incólume ante as barbáries,
 fértil e vasto campo impassível ao amor e aos holocaustos.
é a doença, o vírus, o assassino, 
os mortos, as vísceras, os vermes... 
enormes e cotidianas filas para a vacina, tecidas pelo medo, 
a nos deixar doentes! 

a verdade nos tem sem vice-versa.
não somos suficientes para detê-la.
a verdade não tem mãos de insculpir, 
braços de acolher,
pernas de prosseguir.
contudo, para onde vamos fazemos uma verdade,
não nos faculta outra coisa,
pois a verdade é o especifico e estreito possível que se realizou
contra uma suposta infinitude de hipóteses.

o homem pretende trajá-la (disfarce), portá-la, diz agir e falar em sua promoção...
ora, a verdade não precisa de crentes, advogados, promotores, juízes... são todos aparatos do nosso desconhecimento, ó prepotentes!

mente quem fala em nome da verdade, assim como quem fala em nome da amizade, do amor, da justiça...
pois um homem não fala senão em seu nome, 
por si mesmo e por seu interesse, 
oculte-se ou se disfarce este interesse como lhe convir,
inclusive venha aqui um interesse me desmentir!

pense numa verdade fixa a esperar nosso descobrimento,
 uma verdade a se mexer num ritmo que saiba dançar nossa compreensão;  
digo, que possa lhe dar as mãos, abraçá-la,  
que se faça suscetível à nossa posse e manejo 
e que assim nos seduza, nos agrade... 
que seja um fio de voz a nascer num alto monte 
regato de água translúcida de onde bebe um messias
para falar de uma necessária submissão ao que é límpido, transparente, insosso e inodoro (desinteressado), regato então que apregoa como mentira as suas próprias margens, o próprio outeiro onde nasce,
e que espera dos homens, este barro, esta lama, uma obediência, para assim purificá-los!
uma verdade que louva sacrifícios e  angaria porta-vozes,
que deles depende;
que adora verbos, que adotou a gramática, que exige crença,
que grita, se exalta, uma verdade com calor humano, com forte odor de impotência humana...uma verdade que propõe o homem como água suja!
quem quer que pense isto com seriedade termina numa gargalhada e percebe que
 então descobriu o interesse envergonhado:
o pai da mentira!




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