terça-feira, 10 de outubro de 2023

OS MÁGICOS

 Os mágicos estão por aqui há anos. Conheço todos os truques. Para mim não há engano e nem encanto. Então você deve estar se perguntando porque eu continuo neste cansativo espetáculo. É simples! Não consigo ser grosseiro, e não existe outra coisa no mundo que não sejam truques. Apenas assisto o que se põe à minha frente, consequentemente: os mágicos. Os mágicos me perseguem em todos os lugares. A cadeira não é de um circo ou de um teatro. Ou será tudo circo e teatro? Enfim... A todos os locais em que vou me espera um mágico, por vezes acompanhado de outros mágicos. Uma fila deles tentando me motivar a prestar atenção em mais um truque. Frustrados eles também com meu desencanto, fizeram-me seu grande desafio. Disputam entre si qual arrancará de mim o maior interesse. Mas só arrancam pena e raiva. Não querendo me tornar um assassino, cercado de mágicos, preciso vê-los serrarem ao meio mil moças, e fingir qualquer satisfação que os faça partir, senão puxam um baralho, um coelho, um pombo... Eu amava os banheiros, mas ultimamente os mágicos vão até lá e conversam comigo enquanto faço minhas necessidades. Me perseguem para que eu não escape. Me dizem que preciso ver uma nova mágica... me pedem um minuto de atenção. Cansado, abano a cabeça em sim ou não, tanto faz, me acompanharão de volta até a mesa, exigem que eu seja agressivo para irem embora... mas de que me adiantaria agredir, logo em seguida me assumiria outro mágico. Assim só me resta ser condescendente, de modo que me acompanham mesmo até a cama e fazem o seu trabalho ingrato, reclamando de meus bocejos grosseiros. Eles não se deprimem com tudo isto. Não! São obstinados. Gritam palavras de motivação e me impedem um sono tranquilo. A única maneira de diminuir o desgosto é me fingir convencido e esboçar falsos sorrisos, por quais talvez eles se deixem fingir também convencidos. Ou inventar alguma desculpa para o momento em que não consigo rir ou arregalar falsos olhos de surpresa. 


Tudo que desejo é acordar e não haver mais mágicos. Eis a mágica que me encantaria: que todos eles desaparecessem num piscar de olhos. Para sempre! E pudéssemos cuidar da realidade invés de tentar enganá-la.


 





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