sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

TEMPO LADEIRA


calma, meu peito!
não é hora de ser feliz.
deixa pra amanhã que 
o tempo está em declive
e escapou uma roda do rolimã
da esperança.
os foliões no bloco que desce a ladeira
distraem-se e esquecem cantando
que viver é a causa da morte
e não tem cura.
só a loucura não tem receio!
chega quarta-feira
e mesmo o infinito se acaba no meio.
calma, meu louco!
viemos pra pouco,
e o temos feito tão bem
que não é visível o efeito
e a este respeito não se diz nada
...a ninguém.
filhos não fizemos.
exemplo de quem seremos?
deixemos a humanidade num orfanato,
senão na porta de alguém e...
...pernas pra que te quero!
"amém!"
não nos exasperemos na compaixão
por uma autolimpante humanidade.
calma, ignorante!
o tempo não tem cabelos,
não há como agarrar a vida!
por maior que seja o zelo
inevitável um dia se naufraga
num instante tempestuoso
no mar aberto do acaso.
e deus e o diabo estão, um de cada lado,
passando um arrastão no raso
de um lago poluído.
calma, subnutrido!
ninguém a seduzir, ninguém é falta,
nenhum país a se conquistar.
e o amor não enche barriga!
nada a persuadir!
que contrário queremos aqui?
alegria e tristeza não se convertem,
são coisas que se esquecem
uma na outra.
calma, beleza rota!
nem o Sol tem sido visto e
deixa disso!
a nossa morte não é feito a de cristo
que é só o intervalo de um serviço.

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