quarta-feira, 10 de junho de 2020

Desbotada


Fazer versos pra ter o que não quero longe de mim. Cartas não escritas que contam a deus da falta de destinatários, silêncio que confessa o pouco das palavras. A rua por que não vou, a rua que deixou de prometer qualquer lugar, impotente pra um sentido, agora, quando muito, faz barulho.


Procurei uma cidade pequena como uma camisola mais confortável. Gostaria que ela fosse menor, menor, menor... até que parecesse justo ficar em casa e que o mundo todo fosse um meu vestido velho que eu sequer rodasse na sala. Exausto de festas, desapegado das cores, estampas que esmaecidas remedam flores mortas. No meio do rosto os olhos e a boca, esquecidos brinquedos de uma alegria que foi comprar bebidas e nunca mais voltou sóbria e pra ficar.

O áudio de um vídeo faz-me o bem no instante que se confunde com uma reunião de afetos perdidos... É assim ou sua história se repete sem fazer parte da minha, sem me levar, me deixa na sala cheia de inutensílios. Na tela as vivências anunciadas não atraem meus sentidos, dispensam minhas pernas e meu coração, não me prometem nada. As paisagens insossas, todas!

Ter em casa cada vez menos intensas e duradouras as sensações que restam, como velhas revistas folheadas com descaso na sala de espera do fim. 

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