quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A morte no camarim

Minhas palavras são precipitadas, brilhos de estrelas que nunca existirão.
Estou cansado delas sem distinguir as que me chamam das que me esquecem, assim também das fotografias requestando saudades minhas de mim e de tudo mais que tenha sido, lembrar é reinaugurar cordões cortados.
Não navego, sou o cais de que tudo se desatracou como um navio.
Pois sim: o mundo está içando sua âncora do fundo de meu peito.
Partindo prum lugar melhor que eu, e me faltam lenços limpos pra esta despedida que daqui aceno.
A minha vida se afoga em lástimas represadas.
Sou tão só uma felicidade magra de quem me advertira sobre qualquer coisa.
Meu sobrenome é "Logo Mais Coisa Nenhuma".
Diante do mundo acabando, sou tão incapaz salvador como seu reflexo preso num espelho:
Só ajo consoante aos fins, sem nada alterar... nem mesmo o fato de que vejo este mundo sem contrapartida, sem vice-versa. Nenhuma reciprocidade!
Na pequena peça de minha vida, uma morte  tímida e qualquer é a grande estrela que pra não entrar em cena em tal fracasso de bilheteria dispõe-se tão só a cerrar as cortinas.
Sou o torcedor eterno de um time que perdeu a chance de não ser time e não entrar em campo e não perder.
Um testemunha das próprias derrotas depondo a favor de alheias vitórias desconhecidas pra não dar bandeira aos sarcasmos.
Pois é! Tenho inveja do que imagino.
A minha sensação é de que, fora a primeira,  as demais pessoas conjugam o verbo vencer que é tão só terem longe seu coração do que sinto.
Eu sou um álibi do mal que o diabo me fez.
Estou atrás da vitrine do pesadelo de estar desperto sozinho.
E a tua sorte, qual desconheces, são estes teus olhos fechados a sonharem outras vistas que não me tiram nem mesmo um pedaço.




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