terça-feira, 20 de outubro de 2020

Sou tão pequeno que se percebo que estão me vendo hesito o quanto  há de ilusão. Por vezes me olham e falam comigo, então respondo. Sinto alguém diante de mim, mas sinto também que está em alguma medida ausente, que trouxe de si pouquíssimo, apenas a inevitável casca - peneira de gestos e falas, que escapam insossas convenientes, e isto é comumente a boa sorte. Toma-me uma certa pressa de ir embora, levar-me de volta para meu uso caseiro e particular. Ficar só me parece mais real e me deixa mais à vontade. Desagrada-me fingir que existo, condescender por civilidade, dar a minha ou abanar opiniões alheias... "Importo para pouca coisa, pouca coisa me importa." - não se trata de um olhar escolhido, mas caído da copa da realidade!  No mais,  minha felicidade está tão estabelecida em simplicidades, quase como a de um cão, que em convívio mais concorro a prejudicá-la do que a preservá-la. Sozinho me sinto mais honesto, mais próximo do real, menos representante, menos pretendente. Visto, sou-me indecente. Perto do outro me abandono ao papel plausível, ajuizado. Perto de alguém, devo. Pois para um "cristão" como eu, o próximo é um credor. Do convívio, recupero-me na solidão e  em seguida - natural, desapercebida e necessariamente - me acho outra vez em domínio público.  Pois sim! Os excessos não fazem bem: a solidão dilua ânimos e habilidades fundamentais à sobrevivência que não se dá sem convívio social... Em dada medida, no outro me identifico, numa outra, me perco. 

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