segunda-feira, 13 de julho de 2020

ISTO NÃO É O MUNDO

 "- Quando você finalmente entende o que é o mundo, ele passa a não ser mais seu e sim do seu filho. Mas nem a isso se pode ter apego. Uma vez que seu filho compreende o mundo, o filho dele já o terá herdado e ele já não será senhor de nada.
O mundo é sempre da geração futura. Da que vem por aí."





Pois sim! O que eu entendo nunca é meu. Entender seja perceber de uma maneira idealizada, inteligível, e não possuir. Tocar com a razão é não tocar, menos ainda ter... É como uma confessa impotência dos braços. Entender é menos que ter o vapor das coisas. Entender a pedra está mais longe da pedra que o pó. Seja talvez que quem entende algo o destaca, enxerga sua terceirização, sua distinção do resto, mas não necessariamente usufrui do algo... Ah entendimentos são tão subjetivos. O que entendo... não deve ser grande como o mundo! Pois é até plausível que me tenha sido cobrado numa resposta de no máximo três linhas de uma prova ginasial, cabe num envelope, um vento levaria prum esquecimento, uma pessoa bocejaria... 

Ah, amigo, tenho perdido em pequenos vasos as sementes que quis flores. Que direi de possuir o mundo sem comicidade e sem soar ainda mais ridículo? Do mundo... estou sempre imaginando uma sombra do que é a vida ao vivo e a cores. Quanto a esse ser da geração que vem, talvez você esteja falando da "sensação de possuir o mundo", sensação - quem sabe? - sempre pueril! E não haja talvez "possuir maior" que este para a enorme maioria, que é ter a liberdade pra imaginar, sentir... à parte um entendimento. Aproveitar que não acenderam as luzes e dormir o mundo, sonhá-lo... Assim seria mais uma maneira de ser feliz aqui, bastante usufruto, nenhum domínio. 


Ora! Tem "o mundo" que gozo, "o mundo" que sofro... O que entendo é tão pouco! Tem algo meio de concluído, definido... e se pareça com uma rocha talvez, mas mais estático do que a realidade de pedra, sem atmosfera, sem estar encrustrado na materialidade, destacado de mover-se e desfazer-se sob leis da física; enfim, destituído de existir materialmente pra que caiba em algum meu entendimento. 

Já "seu filho"... é um colóquio! Entendo a quem se refere, mas o pronome possessivo, se literal, nos entorna sempre num largo engano... Eu mesmo - esperma de um, óvulo de outro, alimentado no mundo - se me entendo me faço menos e mais longe estou de possuir-me... 

Este tempo me deu a essas palavras, seja mais agente que eu nisto de respondê-lo... Alguma vaidade, alguma pretensão contracene com meu ócio e eis a peça! Que não é mundo algum! Aliás, amigo, não possuir acabou me entornando nesta coisa de esticar-me em divagações como troco pouco ao tempo que me leva.


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