segunda-feira, 28 de julho de 2014

Eu e a menina começamos a ter a linguagem do sofrimento. Só falávamos quando estávamos tristes. Quanto mais tristes melhor. Mais digno de resposta. Mais bonito. Embora, às vezes, nojento. Eu precisava ter uma cãibra pra ligar. Ela precisava ter um câncer pra atender. Nossa amizade foi ficando um bolo de coisas tristes: angústias, minha mãe cagando pela casa; doenças na família, covardias violentas... Não havia sexo, não havia palhaçada, porque éramos velhos. Tínhamos ficado velhos de surpresa. E sabíamos através de nossas cartas, tristes, molhadas, velhas, que éramos.

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