terça-feira, 30 de outubro de 2018

A FOTOGRAFIA



Sua fotografia inaugura uma distância difícil. O preto e branco da imagem parece resultar da onda de cores que quebra contra meu peito. Lamento ter uma alma quando esta é saber sua impossibilidade, quando esta é descrever-me incompatível... Ah! Olhando o silêncio fotográfico, sei o que quero. Quero os barulhos dela vivendo: ela quebrando um copo; a água de seu banho chovendo em meu deserto;  a porta abrindo melhor com sua mão no trinco. Quero que o vulto de sua existência, atravessando os corredores de chegar, rabisquem cotidianamente os cantos de meus olhos distraídos. Quando estivesse próximo, olhando em seus olhos, seria a plenitude, o mundo se tornaria um brinquedo. A busca deste sentimento raro, qual tudo que dura é breve, e o desejo de fazer da vida um rio que me desemboque nesta oportunidade é o que me faz continuar e suportar todo o mundo feio que não é sua moldura.

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