Querida, fico tímido como um derrotado quando mais se faz o ânimo dos interlocutores.
Não só evito enfiar palavras apertadas em suas discussões febris, como pouco me
movimento, senão para longe. Que gritem em alto-falantes! Tenho que toda febre é sinal
de doença! Estes antagonismos entusiasmados me remetem, mais que ao passado, a
“tempo perdido”. Se moveram algo os calorosos bate-bocas “pela Verdade”, fossem de
bêbados, religiosos ou doutores em filosofia, foram meus olhos de soslaio. O que de
Verdade se procura com armas empunhadas? O que de Verdade aparece quando se
mente desde a intenção? Nada! E quem diz “Não!” faz “Sim!”, como os demais, pois tão
só quer uma Vitória na Verdade. Vitória às Vaidades! Não os vaio pelas pautas
recortadas dos jornais que evitam falarem de si mesmos, tão vergonhosos seriam sem
essas veleidades! Todos os dias algo novo para se tratar com cuidado. O mesmo
cuidado que jogou “Ontem” no lixo! Não os vaio, tampouco atiro ovos. Apenas deserdo.
Uma verdade que me tem então, mais simples, acha muito feia suas fantasias
sofisticadas. Apenas deserdo, e parece que levo todo alheio constrangimento: se me
enxergam à saída, gritam enxovalhos. Exigem ser amados. Pudera! Não lhes resta
nada, nenhum autoflagra. Eles continuam, querida, tão fingidos crentes. Já não pasmo!
Minto alguma urgência se me reparam em retirada; eu, justo eu, que por prazer vou ao
teatro. Ficaria, fosse a minha ver da humanidade este milenar e cansado espetáculo.
Sim, milênios e não perceberam, milênios mais e não perceberão, tão ocupados em seus
papéis, que a Vitória, tampouco a Verdade, pode ser só uma e objeto de posse. Antes, a
Verdade nos tem com total indiferença. Eu, justo eu que um abraço lhes daria, dei-lhes
as costas e ouvi cochicharem: “Vencemos! Aquele ficou sem palavras!”; “Correu, não
suportou tal e qual argumento!”, não retruquei; deixei estes monótonos inventarem em
meu desprezo a sua Vitória; como lhe dizia, é de Vencer qualquer coisa que carecem,
mendigam uma sensação - artificial que seja - de Vitória. Esta e/ou outra dose pouca de
verdade os mataria. Não surpreende que de nosso silêncio e de tudo que nele há dito se
vinguem em chacotas. Querida, deixe-lhes como fétidos indigentes. Entre quais se não
pode ser contente, se dê ou negue a esmola.
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