terça-feira, 1 de novembro de 2016



Querida, fico tímido como um derrotado quando mais se faz o ânimo dos interlocutores. 

Não só evito enfiar palavras apertadas em suas discussões febris, como pouco me 

movimento, senão para longe. Que gritem em alto-falantes! Tenho que toda febre é sinal 

de doença! Estes antagonismos entusiasmados me remetem, mais que ao passado, a 

“tempo perdido”. Se moveram algo os calorosos bate-bocas “pela Verdade”, fossem de 

bêbados, religiosos ou doutores em filosofia, foram meus olhos de soslaio. O que de 

Verdade se procura com armas empunhadas? O que de Verdade aparece quando se 

mente desde a intenção? Nada! E quem diz “Não!” faz “Sim!”, como os demais, pois tão 

só quer uma Vitória na Verdade. Vitória às Vaidades! Não os vaio pelas pautas 

recortadas dos jornais que evitam falarem de si mesmos, tão vergonhosos seriam sem 

essas veleidades! Todos os dias algo novo para se tratar com cuidado. O mesmo 

cuidado que jogou “Ontem” no lixo! Não os vaio, tampouco atiro ovos. Apenas deserdo. 

Uma verdade que me tem então, mais simples, acha muito feia suas fantasias 

sofisticadas. Apenas deserdo, e parece que levo todo alheio constrangimento: se me 

enxergam à saída, gritam enxovalhos. Exigem ser amados. Pudera! Não lhes resta 

nada, nenhum autoflagra. Eles continuam, querida, tão fingidos crentes. Já não pasmo! 

Minto alguma urgência se me reparam em retirada; eu, justo eu, que por prazer vou ao 

teatro. Ficaria, fosse a minha ver da humanidade este milenar e cansado espetáculo. 

Sim, milênios e não perceberam, milênios mais e não perceberão, tão ocupados em seus 

papéis, que a Vitória, tampouco a Verdade, pode ser só uma e objeto de posse. Antes, a 

Verdade nos tem com total indiferença. Eu, justo eu que um abraço lhes daria, dei-lhes 

as costas e ouvi cochicharem: “Vencemos! Aquele ficou sem palavras!”; “Correu, não 

suportou tal e qual argumento!”, não retruquei; deixei estes monótonos inventarem em 

meu desprezo a sua Vitória; como lhe dizia, é de Vencer qualquer coisa que carecem, 

mendigam uma sensação - artificial que seja - de Vitória. Esta e/ou outra dose pouca de 

verdade os mataria. Não surpreende que de nosso silêncio e de tudo que nele há dito se 

vinguem em chacotas. Querida, deixe-lhes como fétidos indigentes. Entre quais se não 

pode ser contente, se dê ou negue a esmola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário