como é difícil ser alguém!
ver o sol se pôr e se dispor ao tempo.
olha a despreocupação do alvo
no seu centro mesquinho
e a mão trêmula do arqueiro!
é mesmo triste ser alguém
em lugar de fumaça que sobe
sem se angustiar
ou pretender arte da sorte
ou temer qualquer mistura
sem zelo avaro pela forma
sem vontade que de com a cara no acaso.
ai! alguém entre construções,
à procura, permeando ruas, becos e vielas
sob o julgo de olhos, ouvidos e narizes.
sentidos vigias de mãe e de cães famintos.
olha a indiferença da garrafa
nas borbulhas que solta afogada!
como é duro ser alguém
e ter o hálito horrendo dos dias que amanhecem
postar sorrisos e cumprimentos fatídicos a alguns
indecente, remetê-los vazios de intenção.
é duro demais!
atravessar intacto críticas e trânsitos
dos que também atravessam na transversal
carregando crenças até das descrenças.
ah! vê o líquido
- cicuta ou elixir -
e o recipiente impassível ao gole.
ah! vê o descaso do crivo:
à bala perdida que venha parede
ou a carne de uma infância.
ah! vê a poesia sem ânsia de ser lida
como o livro é aos olhos que permeiam:
indiferente à página que atingem.
ai, que duro então não é ser gente:
angustiar-se na consciência da morte!
ser gente de negócio então...
programar montantes
borrando o papel com a tinta da vida
de enfileirar algarismos.
amargo! até que nos fechem em féretro
e o primeiro verme nos promova a algo.
o primeiro furo sem dor, sem pose,
sem contrações de carne, sem pudores sapiens.
sem alvoradas
não abusa mais de nós o amor:
tenor do canto dessa majestade
subjugando-nos a ninharia.
olha essa coisa corriqueira:
"a moça na janela
enquanto ela aguarda
o príncipe pelas vias atrás dela
à janela carcomida tanto faz
se ou se não por seu vão algo acontece.
aaah! que faz o remorso dos seres de atitude,
os pensamentos, as culpas...?
como é pecaminoso e doloroso ser alguém
invés de algo.
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