quinta-feira, 20 de outubro de 2016

a dor de alguém.






como é difícil ser alguém!

ver o sol se pôr e se dispor ao tempo.




olha a despreocupação do alvo

no seu centro mesquinho

e a mão trêmula do arqueiro!




é mesmo triste ser alguém

em lugar de fumaça que sobe

sem se angustiar

ou pretender arte da sorte

ou temer qualquer mistura

sem zelo avaro pela forma

sem vontade que de com a cara no acaso.




ai! alguém entre construções,

à procura, permeando ruas, becos e vielas

sob o julgo de olhos, ouvidos e narizes.

sentidos vigias de mãe e de cães famintos.




olha a indiferença da garrafa

nas borbulhas que solta afogada!




como é duro ser alguém

e ter o hálito horrendo dos dias que amanhecem

postar sorrisos e cumprimentos fatídicos a alguns

indecente, remetê-los vazios de intenção.




é duro demais!




atravessar intacto críticas e trânsitos

dos que também atravessam na transversal

carregando crenças até das descrenças.




ah! vê o líquido

- cicuta ou elixir -

e o recipiente impassível ao gole.




ah! vê o descaso do crivo:

à bala perdida que venha parede

ou a carne de uma infância.




ah! vê a poesia sem ânsia de ser lida

como o livro é aos olhos que permeiam:

indiferente à página que atingem.




ai, que duro então não é ser gente:

angustiar-se na consciência da morte!




ser gente de negócio então...

programar montantes

borrando o papel com a tinta da vida

de enfileirar algarismos.




amargo! até que nos fechem em féretro

e o primeiro verme nos promova a algo.

o primeiro furo sem dor, sem pose,

sem contrações de carne, sem pudores sapiens.




sem alvoradas

não abusa mais de nós o amor:

tenor do canto dessa majestade

subjugando-nos a ninharia.




olha essa coisa corriqueira:

"a moça na janela

enquanto ela aguarda

o príncipe pelas vias atrás dela

à janela carcomida tanto faz

se ou se não por seu vão algo acontece.







aaah! que faz o remorso dos seres de atitude,

os pensamentos, as culpas...?




como é pecaminoso e doloroso ser alguém

invés de algo.

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