Como que uma antipatia nos
redesenha um corpo! Como de relance, por uma agressão que nos cometa um
julgamento, uma figura começa a condizer com o que há de ofensivo! Uma simples
noite em que ouvimos desaforos de uma pessoa qualquer é capaz de nos provocar
pesadelos e nos tornar incapazes de ainda separar no agressor o que há de
infame e admirável, incapazes de entender o momento do outro como atenuante num
primeiro instante. Como, num segundo e terceiro instante, em que nos
encontramos mais serenos, ele, corpo e alma, ainda está atrelado ao grosseiro!
Como antipatizamos então com a distância da orelha ao queixo, da cor de pele, da
cor de cabelo, da extensão de uma boca, do contorno dos lábios, do sorriso, do
caminhar, das roupas últimas em que o lembramos, dos seus assuntos prediletos!
Como queremos nos afastar do alcance de suas mãos, como distar dele se torna
nosso prazer... Ele agora é reinterpretado por nossa sisudez, nosso rigor e
impaciência. Se havia um traço dele que poderíamos julgar feio, algo que a
amizade ou um bom afeto insistia em ignorar ou mesmo atribuir graça de originalidade, o traço
então nos apareça torto e indesculpável, tudo nele se perde, tudo se torna grotesco.
O defeito no agressor se torna um merecimento, e um mal de que padeça nos evoca a gritar “Justiça!”. De maneira que, nossos agressores, ou nossos inimigos, ou
adversários têm o poder de moldar o nosso gosto. Nossa definição do que é belo
é o que ele não alcança, nossa definição do que é feio é o que se lhe assemelha.
Assim também nossos mais queridos nos ensinem o que é beleza.
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