segunda-feira, 17 de outubro de 2016

“amor” eu não sei

tenha engolido no choro

no soluço

e o amor não se evacua

não se pode algo cuspido

ficou aqui dentro prisioneiro

não sei

me roendo




de que se abstrai?




vi palavras em closes

bocas carnudas

mil tesões me escalaram

cálices que brindam

vi lençóis e filhos

lágrimas me fugiram

e me comovi de não achar o amor

e talvez fosse amor isto

nem sob nem sobre a cama

de todos os dias e noites

e todos os corpos úmidos oferecidos




lambi as angústias

tateei fios

cortantes

as literaturas

mas não achava

e sacrifícios e ouvi alardearem

“desnorteia e norteia as vidas”

“amor”, o que era?




enxuguei lagos de romantismo

e devo admitir torácico e estomacal

no vão que deixa a alma que me falta:

“amor” não sei




ocorreu-me inventá-lo

por amor?

ocorreu-me versá-lo

chegaram mesmo a concordar comigo

nessas tecnologias




amor

de que se abstrai?

uma vontade louca da existência do que se ausenta

nem do cume febril “amor” não sei




foi plenamente ignorante do que seja o amor

que menti e disse que amava e que sabia o que era

era vontade de tê-lo tão convicto

feito adolescente o ressoa firme

e trêmulo a que lhe acreditem

era necessidade de me achar generoso amando

me perdoem: eu não sei e não sabia

não peço desculpa de que tenha me esquecido




chamei de amor as frustrações maiores

ou os casos mais intensos que tive

ora! foram mais intensos os mais frustrantes

e fui assim os vestindo nobremente

“amor”




mas “amor” não sei

sou incompetente!




é que sempre precisei dizer que o sabia

para não passar de ridículo

e para que por amor não me odiassem

mas não sei

confesso desertor da farsa




sim! abracei minha mãe

fui de beijos e de pegar em mãos

e agora penso

vendo quão ignorante sou e me resta ser

que dissimulava

chorei meu pai morto

e tudo aquilo até parecesse "amor"

mas eu não sabia




feito um macaco faria

capaz que amei e não sei

e diferente do macaco que só amaria ou não

despreocupado

eu nunca saiba

porque não sou nisso de amor de sabedoria




sei que caravelas chegaram ao brasil

que existiram dinossauros

mas se amei foi sem saber o que fazia

sem poder pensar duas vezes antes

completamente ignorante




não é verdade

meus amores

é só necessidade de dizer

eu nem sei se sei ou se não sei

ou se acertei no amor esta flecha de entusiasmo e agonia

se acertei no amor tudo que sou e não sei

e em tudo que o neguei espero ter errado


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