terça-feira, 14 de maio de 2019

SURDO-MUNDO

escrevo como passos para inexistir. nego os interlocutores obrigados pelo estado semelhante de idioma e humanidade ou, ainda, intensificados pela afetividade de sermos amigos! verso porque, enfim, a conversa é pouco. torno-me página, monólogo, não quero assunto! não quero que me aturem , me aceitem, se pacientem, que me entendam, gosto que me achem, pois me acostumei num mundo surdo em que não leem! convido-os como quem acena, e quase em braile, uso de mãos e olhares... aos poucos viro parágrafo, livro, fábula, história... tenho até mesmo impaciência de ainda estar vivo! terror é isto, terei de morrer! - pra começar o colóquio e terminar o assunto! escrevo como quem caminha para inexistir, para a morte, em trote ou em marcha... em balé, como garça! não posso parar no rumo que dá no silêncio, se me detenho ou calo antes, chego prematuro! tenho esta ânsia, esta febre de dizer-me, de fazer-me palavra. não há tempo mais para que me ouçam ou que eu ouça o mundo. nos encontramos no silêncio do assunto encerrado, nesta conversa perdida, eu, a vida e o surdo-mundo.

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