sábado, 18 de agosto de 2018

O MELHOR AMIGO DO CÃO


nos olhos quietos do cão o homem se conforma. no que lhe destina, no que dele não espera, o animal melhor se faz. na incompreensão real, o homem inventa um sentido especial ao ser do cão. coitado daqueles que com palavras se tentam entender! só se chateiam e entediam! por fim, fazemos ao menos um coro em comunhão: "o semelhante biológico, não!' o cão cabe melhor, no quintal e na nossa imaginação. um cão faminto é infinitamente maior possibilidade de adoção! o outro humano fala, quer influir no seu significado, contesta a tradução que dele fazemos! impõe-se neste mundo palavroso tendo opinião. o cão em seu silêncio semântico adquire no semblante o significado puro de nossa interpretação. no cão podemos colocar coleira e exercermos uma tirania legal. o cão é um objeto romântico! embora coma merda, lamba o chão, estraçalhe gatos, destrua o canteiro, morda um irmão. é territorialista, rosna egoísta sobre a ração... mas lhe concedemos, apenas por não se impor no mundo das ideias, peremptória absolvição. esquerda ou direita, acariciamos sua cabeça de animal de estimação. o outro humano, não! o traço de nossa carência reimprime em ternura a figura canina. um cão em silêncio é sempre conveniente; o homem em silêncio depende da situação: pode ser indiferente, esnobe, desligado, deficiente. se é fala e não latido, evite a repetição. um cão é ótimo: ante este parágrafo visto, não apresenta contradição. nós gostamos mais do cão que do homem, assim como gostamos mais de ser Deus do que irmãos.

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