terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

JEITO MORTO (CINZAS)

para Rubens Guilherme


herdamos este jeito morto

de encarnados pouco carnais.

já não sabiam balançar o corpo,

os nossos ancestrais.


e acreditamos em suas cadeiras 

que não se quebram. ó, imortais!

sentamos na esperança,

como tais, pela musa que dança

e não cansa jamais.


vício de livros de herança.

hábitos de homens sentados, 

pudor com o instante presente

que não nos levanta e nos cansa

de estarmos assim tão parados.


toda estrutura que falta

pra suportar nossa mente,

que a estante futura mais alta

nossa criatura sustente.

pois não podemos ficar quietos.

sem reclames, sem reparos. 

tudo queimando em alfabetos.

sujeitinhos muito raros!


e o que por bem reparamos do mal,

se somos salvos pelo final

em não haver certo ou errado? 

de ser, somos tão só cismados:

num irrevogável esforço 

de parecermos iguais

a trasanteontem:

cortando os pelos e unhas morais 

a nos sugerimos ideais,

nem me contem!

perdemos quantos carnavais?


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